O presidente da África do Sul e a filha de Paul Rusesabagina estão entre os alvos. Provas reveladas pela Amnistia Internacional e pelo consórcio jornalístico “Forbidden Stories” mostram que as autoridades do Ruanda utilizaram o software Pegasus do israelita NSO Group contra mais de 3.500 ativistas, jornalistas e figuras políticas. O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, terá sido um dos visados.
De acordo com o Deutsche Welle, na origem da espionagem a Ramaphosa estariam as tensas relações diplomáticas entre os dois países a partir de janeiro de 2014, altura em que Patrick Karegeya, antigo chefe dos serviços secretos do Ruanda e crítico do Presidente Paul Kagame, refugiado na África do Sul, foi encontrado estrangulado no quarto de hotel de Joanesburgo.
Outros opositores do regime de Kigali refugiadas na África do Sul também terão sido alvo de abate nos anos seguintes. O Ruanda exortou Pretória a expulsar as "personas no gratas” de Kagame, contudo, as autoridades sul-africanas mantiveram-se irredutíveis.
Kigali repudia as acusações de espionagem contra o presidente da África do Sul, alegando tratar-se de “uma campanha em curso para causar tensões entre o Ruanda e outros países e para semear desinformação sobre o Ruanda a nível interno e internacional".
A par de Cyril Ramaphosa, a investigação revela ainda que este software também foi utilizado para espiar Carine Kanimba, filha de Paul Rusesabagina. Rusesabagina é conhecido por ter salvo mais de mil ruandeses durante o genocídio do país em 1994, abrigando-os no hotel que geria. O homem de 67 anos, que serviu de inspiração para o filme “Hotel Ruanda”, encontra-se preso em Kigali, acusado de terrorismo. Citada pela CNN, Kanimba afirmou recear que a estratégia legal para garantir a libertação do seu pai possa já ser conhecida pelo governo de Ruanda.
Pegasus é “utilizado para exercer repressão à escala mundial: as provas são irrefutáveis
A secretária geral de Amnistia Internacional, Agnès Callamard, declarou que o “NSO Group não pode continuar a garantir que os seus produtos só são utilizados contra delinquentes quando mais de 3.500 ativistas, jornalistas, opositores políticos, políticos estrangeiros e diplomatas têm sido selecionados” como alvos. “A empresa não pode continuar a escudar-se nas suas afirmações quando não há dúvida de que o seu software espião é utilizado para exercer repressão à escala mundial: as provas são irrefutáveis”, frisou.
Agnès Callamard defendeu que o “NSO Group deve deixar imediatamente de vender o seu material a países que têm um historial de submeter à vigilância defensores e defensoras dos direitos humanos e jornalistas”. “A indústria da vigilância está fora de controlo. Os Estados devem suspender em todo mundo a venda, transferência e uso de tecnologia de vigilância até que se estabeleça um marco regulador que respeite os direitos humanos”, continuou. (Esquerda.net)