Um estudo apresentado semana finda pela Associação Moçambicana dos Economistas (AMECON) prevê um grande impacto negativo ao Standard Bank e à economia em geral, devido à suspensão, do mercado cambial da referida instituição bancária, pelo Banco de Moçambique por um período de 12 meses, devido, conforme o regulador, à “manipulação da taxa de câmbio, instalação e implementação de uma rede de pagamento ilegal sedeada fora do país, perpetrada por funcionários seniores ou de topo do Standard Bank, bem como a não regularização dos termos de compromisso de exportações pelo Standard Bank ao banco de Moçambique”.
Num evento virtual que debatia o impacto da suspensão do Standard Bank do mercado cambial, o economista e autor do estudo Estêvão Mboane começou por realçar que a instituição bancária em questão é a terceira mais importante do sistema financeiro nacional. Afirma ainda ter a maior quota na reserva de conversão cambial no mercado interbancário nacional, de tal modo que alguns bancos dependem dele para obter divisas.
Além disso, Mboane lembrou que o Standard Bank é o maior actor no sector de oil&gas, tendo financiado cerca de 80 por cento do Projecto Coral Sul em instalação, em mar, na Bacia do Rovuma e liderado pela italiana ENI.
Cinte dessas realidades que colocam o Standard Bank em vantagem, o investigador depreendeu para o próprio banco a “perda de negócio (eficiência e lucratividade), transmissão de clientes de moeda externa, custos reputacionais (redução de confiança), redução de penetração e mercados internacionais, risco de corrida aos depósitos em USD e Metical, pagamento de multas”.
Para o sistema financeiro em geral, o analista prevê um risco de redução dos níveis gerais de eficiência, redução (temporária) da actividade no mercado cambial interno. Na sua apresentação, o economista avançou, nesse contexto, que a “transição será mais veloz que a transferência de liquidez, facto que poderá levar o Banco de Moçambique a intervir para capitalização, tanto em Dólar, quanto em Metical”.
Economicamente, a nossa fonte prevê custos reputacionais, de transacção e transição para os clientes do Standard Bank e todos os seus relacionados (internos e externos), possíveis pressões cambiais, nomeadamente a depreciação do Metical.
Entretanto, Mboane vê benefícios com a suspensão do Standard Bank do mercado cambial.
Para o sistema financeiro, o investigador apontou o aumento da transparência e confiança dos agentes económicos sobre a regulamentação existente, combate a comportamentos e arbitragem. Para a economia, a fonte prevê "o combate de assimetria de informação e arbitragem: os parâmetros das principais variáveis macroeconómicas (ex: taxa de câmbio) poderão tender a reflectir as necessidades reais da economia e, consequentemente, maior sucesso das intervenções de política cambial".
Outro investigador diz que regulador exagerou nas sanções
Convidado a comentar no evento, o analista político e investigador no Centro de Integridade Pública (CIP), Baltazar Fael, afirmou ter havido, por parte do Banco de Moçambique, excesso de zelo na aplicação das sanções, desde pecuniárias até suspensão do banco do mercado cambial por um período de um ano.
“O Banco de Moçambique aplicou medidas gravosas, uma pecuniária e outra de suspensão ao mercado cambial que vai impactar no desenvolvimento da actividade dos clientes. Penso que esse conjunto de sanções poderia ser melhor ponderado no sentido de se aplicarem, sim, mas o regulador teria cuidado na suspensão do exercício cambial, porque isto vai pôr em causa a economia no geral ou em alguns sectores em que clientes do Standard Bank operam”, afirmou o investigador.
Face ao excesso de zelo por parte do Banco Central, o investigador espera que depois sejam quantificados os prejuízos que o Standard Bank sofreu com esta acção, o sistema em geral e os clientes.
Por fim, Fael apelou ao Banco de Moçambique a tomar as suas medidas com equilíbrio tendo em conta que a robustez do sistema financeiro nacional não é tão forte, embora seja constituído por mais de 17 bancos comerciais. (Evaristo Chilingue)