Ossufo Momade, presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), da oposição, defendeu ontem o envio para a frente militar em Cabo Delgado de ex-guerrilheiros do braço armado do partido, entre 362 que aguardam reintegração.
"Nós já entregámos uma lista de 362 elementos nossos, 'rangers'", como os descreveu Ossufo Momade, para reintegração nas Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas no âmbito do processo de desmilitarização, desarmamento e reintegração (DDR) em curso após a assinatura do acordo de paz de 2019.
"Estão lá, seria uma oportunidade de eles [autoridades] os enquadrarem" para "fazer um trabalho em Cabo Delgado", reforçando o combate aos rebeldes armados que há três anos e meio atormentam o norte do país, disse.
"Porque é que esses 362 não são enquadrados", questionou, reafirmando que os ex-combatentes podiam integrar os grupos de efetivos das FDS "que vão a Cabo Delgado", mas em vez disso "estão lá nas bases" onde se aguarda o desfecho do processo de DDR, acrescentou, em declarações difundidas pelo canal de televisão STV.
Momade falava hoje aos jornalistas em Nicoadala, centro do país, durante uma visita em que fez doação de alimentos a uma comunidade deslocada de Cabo Delgado.
Grupos armados aterrorizam aquela província moçambicana desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados de acordo com o Governo moçambicano.
O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.(Carta)