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segunda-feira, 26 abril 2021 01:44

MDM alinha com Renamo e defende intervenção militar estrangeira em Cabo Delgado

Depois de o Presidente da Renamo, Ossufo Momade, ter defendido, a partir de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, a intervenção militar estrangeira para o combate aos ataques terroristas que se verificam em alguns distritos daquela província do norte do país, agora é o Secretário-Geral do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), José Domingos, a alinhar no mesmo diapasão por entender que é necessário salvar as vidas humanas que se estão a perder naquele ponto do país.

 

Em entrevista à “Carta de Moçambique”, Domingos avançou que a sua força política não vê mal nenhum em haver uma intervenção militar estrangeira, desde que a mesma seja de “confiança” e que “os acordos multilaterais ou bilaterais” a serem celebrados sejam “bem traçados e com conhecimento de causa”.

 

“A força regional é que é a prior, pese embora a região tenha deixado tudo para Moçambique durante muito tempo”, defende Domingos, para quem a ausência da Tanzânia na recente Cimeira da Dupla Troika da SADC (Comunidade de Desenvolvimento dos Países da África Austral), que teve lugar em Maputo, revelou haver conflito entre os dois países.

 

Acompanhe, a seguir, o que de mais importante disse o actual número um do MDM.

 

Há mais de três anos que a província de Cabo Delgado está a ser vítima de ataques terroristas e com o Governo ainda a recusar a intervenção militar estrangeira, alegando que a mesma pode colocar em causa a soberania nacional. A Frelimo apoia esta decisão do Governo, porém, a Renamo defende a intervenção militar estrangeira. Qual é a posição do MDM?

 

-Falar da situação de Cabo Delgado é muito delicado e o Movimento Democrático de Moçambique vinha falando desta situação há mais de três anos. Alertávamos que tínhamos uma situação e que ninguém podia falar e só este ano se assume que há uma situação por causa do ataque a Palma. É preciso, primeiro, que se respeite as vidas humanas. No princípio, eles [os insurgentes] vinham com catanas, na sua maioria, e nós já tínhamos um exército preparado para atender à situação de catanas. Entretanto, foram queimando tempo com a Polícia da República de Moçambique, com a UIR [Unidade de Intervenção Rápida], como se fosse um grupo de nada. Hoje cresceram e chegaram onde chegaram. Então, há uma cumplicidade em relação a esta situação.

 

Quem seria o cúmplice?

 

-A responsabilidade primária é de quem jurou servir fielmente este povo moçambicano. Tem Chefe de Estado. Ao calar esse tempo todo, deixou os homens crescerem.

 

Mas, neste momento, que propostas o MDM avança para sairmos desta situação?

 

-Respeitando a vida das pessoas, era bom que se permitisse… aliás, pelas informações que se tem, já há uma força zimbabueana. Pelo que estamos a ouvir. Apesar de ninguém nos informar. Havendo uma força de confiança, que se meta para salvar o povo porque o interesse, neste momento, é salvar vidas humanas.

 

Ou seja, o MDM é a favor de uma intervenção militar estrangeiras em Cabo Delgado…

 

-Desde o momento que haja acordos multilaterais ou bilaterais, bem traçados e com conhecimento de causa, não vemos nenhum mal. Estamos a falar de vidas humanas que se estão a perder.

 

Neste caso, que tipo de força: regional ou ocidental (em particular francesa e norte-americana)?

 

-A força regional é que é a prior, pese embora a região tenha deixado tudo para Moçambique durante muito tempo e só se reuniram ontem [em princípio do corrente mês de Abril]. O que se passava? Então, alguma coisa não está muito boa em relação às forças da região. Mas, sendo os mais próximos e que alguns deles tiveram a nossa ajuda, então, esses também podem fazer alguma coisa e são conhecedores de florestas tropicais.

 

Mas o que terá originado o silêncio da SADC?

 

-Pode ser que o silêncio se deveu também ao silêncio do país.

 

Como olha para o papel da Tanzânia no combate ao terrorismo em Cabo Delgado?

 

-Existem correntes que defendem que existe uma cumplicidade da Tanzânia. São hipóteses. Mas, você também tem uma hipótese de dizer que a relação entre Tanzânia e Moçambique não está boa. Não esteve na reunião da Dupla Troika da SADC e logo depois da paralisação do projecto de Palma [devido ao ataque terrorista do dia 24 de Março na sede distrital de Palma] anuncia o arranque de alguns projectos numa bacia onde Moçambique também estava a implantar seus projectos. Nas nossas presunções, podemos dizer que há um conflito, porque este Governo nos ensinou a esconder tudo. Podemos deduzir que há um conflito, pior ainda quando não aparece na Troika, sendo um país também interessado porque as consequências do que acontece em Cabo Delgado se fazem sentir na Tanzânia. Aliás, muitos destes terroristas usam a Tanzânia como corredor. Será que todo este tempo não conseguiram alertar os moçambicanos de que há movimentação de armas, que há pessoas estranhas a entrarem no território moçambicano?

 

Será esta situação que explica o facto de a Tanzânia não ter aceite os moçambicanos que se refugiaram naquele país?

 

-Para nós, a Tanzânia virou outra coisa, porque não faz sentido alegar que o país não tem uma guerra declarada, por isso, não podemos receber refugiados. Não se precisa dizer que há guerra. A situação que se vive já denuncia que estamos em situação de guerra. Em termos de direitos humanos, eles têm a obrigação de lhes receber e criar abrigos para moçambicanos. Mas devolver a pessoa que foge do perigo ao perigo e sem nenhuma segurança!? Porquê as pessoas não foram encaminhadas para zonas seguras em Moçambique, como Maputo, por exemplo? Isso revela que as nossas relações não estão boas. Talvez este Governo saiba o que está a acontecer já que nos acostumou a esconder tudo.

 

Palma foi a quarta vila a ser atacada pelos insurgentes, depois de Mocímboa da Praia (por duas vezes), Quissanga, Muidumbe e Macomia. Como se explica que um ano depois de ter iniciado esta onda de ataques às vilas, tenha sido possível atacar-se a vila de Palma e com a batalha a durar quase 10 dias? Que papel o SISE (Serviço de Informação e Segurança do Estado) está a ter neste dossier?

 

-Quantos quadros do SISE estão envolvidos no escândalo das dívidas ocultas? Quando você trabalha e ensina os meninos a entrarem em vidas alheias fora dos trâmites legais, você perde comando desses filhos. O SISE, que devia ter alertado sobre o calote, foi o timoneiro no desvio do dinheiro. Então, este SISE deixou de ser aquele serviço de recolha de informação certa. É um SISE que apenas se concentra na vasculha das fichas dos políticos, mas não nos interesses do Estado, porque quando é a defesa da nossa soberania, já não existe. O SISE só quer gerir apenas o saco azul.

 

Porém, há que destacar que as Forças Armadas estão a fazer o seu papel e teriam feito melhor, só que também sofreram uma certa marginalização. Desde a assinatura do Acordo Geral de Paz, as Forças Armadas ficaram estáticas. O Governo usou uma tática de sonegar a parte militar e reforçar a parte policial. Por isso, no princípio, estava a Polícia a combater os terroristas porque sabia-se que os militares não estavam equipados. A Polícia é que estava equipada apenas para manter o Governo.

 

Não é neste momento que o “investimento” feito no âmbito das “dívidas ocultas” se devia fazer sentir em Cabo Delgado?

 

-Este país tem uma cultura de procurar boas ideias, como forma de tirar grandes dividendos. Pouco importa o estudo de viabilidade das empresas: se vão ser rentáveis ou não. O objectivo não era proteger o país, mas esvaziar o Estado e de uma forma obscura.

 

E como o MDM olha para a paralisação das actividades da Total, tendo em conta que o ataque terrorista teve lugar a quase 30 Km da Península de Afungi e antes mesmo de “testar” a capacidade operativa do chamado “Teatro Operacional de Afungi”?

 

-As multinacionais já nos habituaram também a terem, em algum momento, truques de desvalorização da sua riqueza e penso que essa pode ser uma das maneiras. Não sabemos como as negociações são feitas, a única certeza que temos é que vão renegociar e um dia poderão buscar o nosso gás a preço de banana. (Abílio Maolela)

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