“Não há palavras para descrever o que vivi” é o resumo do que se pode dizer dos momentos arrepiantes e de tristeza testemunhados por milhares de pessoas que se encontravam na vila de Palma, no dia 24 de Março, data em que os terroristas invadiram a vila.
Sufo Nvita é um dos sobreviventes do ataque e conta que fazia parte de um grupo de cerca de 50 pessoas que se decidiram esconder na região de Pundanhar, porém, com a intensidade dos tiroteios e com a maior circulação de helicópteros, acabaram caminhando até à vila-sede do distrito de Nangade.
Diz não haver palavras suficientes para descrever o que viveu na pele durante os últimos 10 dias, porém, partilha alguns momentos: “Caminhamos seis dias a pé, bebíamos água das lagoas e poucas vezes encontrávamos algo para pôr na boca”, diz, sublinhando que caminhavam durante a noite para não se cruzarem com os insurgentes.
Para Nvita, que já se encontra em Pemba, o difícil não foi percorrer mais de 100 Km que separam as vilas de Palma e Nangade, mas o facto de ter perdido alguns companheiros (em especial crianças) durante a caminhada devido à fome.
“Perdemos cinco pessoas no caminho e só levámos ramos de árvores para cobrir os corpos”, narra com olhos banhados de lágrimas.
Já Nchamo Abacar, de 38 anos de idade e mãe de duas crianças, garante ter passado duas noites na mata, antes de ser ajudada por um grupo de homens até à Península de Afungi, de onde partiu até á cidade de Pemba.
Sublinha também não ter palavras para descrever o que viveu naquele distrito. Sublinha, aliás, ainda não ter localizado a sua família, pelo que continua no Centro Provisório de Deslocados, na companhia dos seus filhos.
À “Carta” disse também não saber para onde foram os seus tios, com quem vivia na vila de Palma, pois, estes desapareceram da vila logo depois do início do ataque. (Carta)