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quinta-feira, 22 outubro 2020 05:40

Encurtamento de rotas regressa em Maputo

Os encurtamentos de rota estão de volta na capital do país. Se a prática já era comum em algumas rotas – como são os casos das rotas “Praça dos Combatentes-Zimpeto” ou “Xipamanine-Mahlazine – a mesma está, neste momento, generalizada, tendo-se estendido para as restantes rotas que compõem a Área Metropolitana de Maputo (integram as cidades de Maputo e Matola e as vilas de Boane e Marracuene).

 

Com o novo coronavírus a ditar as novas regras de convivência, viajar nos transportes semi-colectivos, na Área Metropolitana de Maputo, tornou-se cada vez mais um martírio. Para além da sua escassez, derivada da limitação da lotação dos transportes públicos de passageiros, os utentes estão a braços agora com a “febre” do encurtamento de rotas, sobretudo, nas horas de ponta, exigindo destes um maior esforço financeiro.

 

Por exemplo, para sair do bairro do Zimpeto, localizado na zona limítrofe da cidade de Maputo, do lado norte, até à zona Baixa da capital do país, é necessário quase o triplo do valor estipulado por viagem. De Zimpeto à Baixa da Cidade de Maputo, lembre-se, a tarifa estipulada é de 12,00 Meticais, mas os citadinos chegam a pagar 30,00 Meticais para fazer este percurso, pois, os transportadores não aceitam carregar passageiros que realizam “longas viagens”.

 

Nas suas operações diárias, os transportadores privilegiam os utentes que realizam curtas distâncias (questionam o destino de cada passageiro), que lhes irão permitir angariar maior número de passageiros até ao seu destino final (os famosos “sobe-desce”). Assim, de modo a embarcar num transporte semi-colectivo que parte do Terminal do Zimpeto, por exemplo, o passageiro deve informar o cobrador que o seu destino é o bairro George Dimitrov (vulgarmente, conhecido como o bairro do Benfica) e pagar 10,00 Meticais. Chegado a este destino, o passageiro deverá renovar a sua viagem até ao bairro do Jardim, podendo fazê-lo no mesmo transporte ou noutro transporte (na maior parte das vezes, viaja no mesmo transporte). Esta viagem irá também lhe custar 10,00 Meticais. E é neste ponto onde o passageiro, na maior parte das vezes, renova a sua última viagem até à zona Baixa da cidade de Maputo, devendo pagar outra vez 10,00 Meticais, totalizando 30,00 Meticais por viagem. O processo repete-se quando este regressa à casa.

 

“Carta” testemunhou o cenário, há dias, quando embarcou num dos transportes semi-colectivos, que saía do Terminal da Praça dos Trabalhadores, na zona Baixa da cidade de Maputo, com destino ao bairro do Zimpeto. Eram 17:30 horas, da última sexta-feira, quando embarcamos num dos transportes semi-colectivos, tendo como destino o bairro do Jardim. A viagem devia custar 10,00 Meticais, porém, tivemos de desembolsar 20,00 Meticais, pois, o cobrador disse-nos que só transportava passageiros com destino até à zona da Brigada Montada. Chegados ao local, o mesmo disse que a viatura continuava até ao bairro do Benfica (oficialmente, designado George Dimitrov), pelo que, quem quisesse continuar podia renovar a viagem. Tentamos reivindicar os nossos direitos, mas foi tudo em vão: funciona a “Lei da Selva”.

 

Um passageiro que seguia ao nosso lado contou-nos que desembolsa quase 100,00 Meticais por dia para sair da vila-sede do distrito de Marracuene até à cidade de Maputo e vice-versa, contra os anteriores 50,00 Meticais que gastava antes da pandemia. Em conversa com a “Carta”, disse não ter alternativas, senão submeter-se a esse martírio, pois, os transportes das cooperativas são incapazes de atender à demanda, sobretudo, nas horas de ponta.

 

“É só escolher meu irmão, entre ir trabalhar e ficar na paragem à espera do «chapa» que te vai transportar barato. Há um dia que fiquei na paragem quase três horas, pensando que ia aparecer um FEMATRO [como são designados os autocarros filiados às Cooperativas], mas nada. Tive de me submeter a este sofrimento. Não está fácil viajar agora. Agora é um salve-se quem puder e a Polícia só quer saber da lotação, não se preocupa com o destino das pessoas”, desabafou Alfredo Mandlate.

 

Os transportadores justificam a acção com o facto de as suas receitas terem reduzido, devido às novas regras impostas pela pandemia. Lembre-se, o Governo determinou, em Abril último, a limitação no transporte de passageiros, sendo permitido, neste momento, o transporte da lotação estabelecida por cada viatura: 15 pessoas, nos transportes com 15 lugares e 30 nos transportes com 30 lugares. Entretanto, sublinhe-se, esta directiva não tem sido respeitada.

 

“O Governo disse que temos de reduzir o número de passageiros, mas não nos disse onde devíamos buscar o dinheiro para compensar os prejuízos. Então, estamos a tentar buscar alternativas para compensar os prejuízos, porque o carro precisa de combustível, óleos e outras coisas. Nós também precisamos de dinheiro para alimentar as nossas famílias e o patrão também quer o seu dinheiro. Então, não há como. Enquanto for possível, iremos usar esta estratégia”, disse um transportador à nossa reportagem.

 

A situação repete-se nos transportes semi-colectivos com destino aos bairros do Município da Matola, assim como às vilas de Boane e Marracuene e ao bairro de Bobole, no extremo norte do distrito de Marracuene. Nestes pontos, o argumento também é o mesmo.

 

Aliás, a partir das 19 horas, sobretudo aos fins-de-semana, os transportadores fazem “festa”, chegando a criar quatro rotas, para quem sai, por exemplo, da cidade da Matola para a Baixa da Cidade de Maputo (Cidade da Matola-João Mateus; João Mateus-Casa Branca; Casa Branca-Brigada Montada; e Brigada Montada-Baixa), dependendo da demanda. A partir dessa hora, sublinhe-se, alguns transportadores desviam as viaturas para as rotas consideradas mais rentáveis, deixando desamparados os passageiros das suas rotas. Em alguns casos, o cenário é também replicado pelos autocarros pertencentes às Cooperativas que, durante o dia, tentam cumprir com as suas obrigações.  

 

“Carta” não conseguiu falar com a Federação Moçambicana das Associações dos Transportes Rodoviários (FEMATRO), na pessoa do seu Presidente, Castigo Nhamane, assim como com a Polícia Municipal da Cidade de Maputo. Nhamane não atendeu as nossas chamadas telefónicas, enquanto Joshua Lai, da Polícia Municipal, prometeu retornar a chamada, mas não o fez até ao fecho desta reportagem.

 

Refira-se que as limitações impostas nos transportes públicos e semi-colectivos de passageiros, em Abril último, devido à pandemia do novo coronavírus, vieram agudizar a já degradante situação do transporte público de passageiros, no país, em particular na Área Metropolitana de Maputo. Aliás, o cumprimento do estipulado nos transportes durou quase 60 dias, pois, em Junho já se verificava enchentes nos autocarros, devido à escassez do transporte. A desinfecção das mãos, assim como o distanciamento social são uma miragem neste sector. O uso da máscara continua sendo a única medida de prevenção observada. (A. Maolela)

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