Cerca de 132 mil Meticais é quanto os cidadãos moçambicanos e de outras nacionalidades devem desembolsar para embarcar no voo humanitário de repatriamento da TAP Air Portugal (Transportes Aéreos de Portugueses), que tem como destino a capital do país, Maputo.
O valor, para além de exorbitante, é descrito pelo “Movimento Reféns do Repatriamento”, encabeçado por cidadãos que pretendem regressar ao país, como uma demonstração “clara” e “inequívoca” de “desprezo” e indiferença” do Governo moçambicano e, por outro lado, discriminação social e financeira, bem como falta de “espírito de solidariedade” e “humanitarismo” por parte dos gestores daquela companhia aérea de origem portuguesa.
De acordo com o “Movimento”, cada passageiro terá de pagar, para ocupar um dos assentos da classe económica, 1.627,99 Euros (131.802.07 Mts ao câmbio do Banco de Moçambique).
Do “Movimento Reféns do Repatriamento” fazem parte um total de 155 moçambicanos que, desde a declaração inicial do Estado de Emergência, em Março último, tenta, sem sucesso, regressar ao país. O grupo de cidadãos moçambicanos clama pelo regresso urgente à “pérola do Índico” por ter visto a sua situação económica e social deteriorar-se naquele país da Península Ibérica, devido à pandemia da Covid-19. No fundo, alegam, entre outros, terem terminado os seus cursos em Portugal e não disporem de recursos para suportar as despesas da sua estadia naquele país.
A petição especial de repatriamento de cidadãos moçambicanos foi submetida às autoridades diplomáticas Moçambicanas em Portugal (Consulado Geral de Moçambique no Porto e Embaixada de Moçambique em Lisboa). Concretamente, pretendem regressar ao país cerca de 92 moçambicanos, na sua maioria estudantes.
Tal como refere o grupo, estão previstos dois voos humanitários de repatriamento de moçambicanos e outras nacionalidades para o país, que resultaram de conversações entre o Governo Português e Moçambicano. Um previsto a ser operado pela TAP Air Portugal nos dias 16 e 23 de Julho próximo, na rota Lisboa-Maputo. O outro, a ser operado pela mesma companhia aérea, nos dias 18 e 25 também deste mês na rota Maputo-Lisboa para transportar cidadãos portugueses retidos em Moçambique.
“Lamentamos o facto deste desprezo e indiferença do Governo moçambicano que não consegue dar uma resposta à altura e que satisfaça aqueles compatriotas moçambicanos, cerca de 92 pessoas, que não têm esse valor de 1.627,99€ para comprar bilhete de regresso no tempo tão curto. Ou seja, para os dias 16 e 23 de Julho. No entanto, não está a haver negociação entre a Embaixada de Moçambique em Portugal (Lisboa) e a TAP do preço acessível a muitos dos pobres, que já sacrificam muito das suas poupanças familiares, em Moçambique, para nossa estadia em Portugal, de onde derivam vários problemas, para além do tratamento desigual de cidadãos que fizeram uma petição especial de regresso a Moçambique, em que a negociação do preço devia ser razoável e acessível a todos nesta condição especial”, desabafa o grupo.
Da lista, fazem parte indivíduos que já haviam adquirido bilhetes na TAP e mais tarde cancelados, mas que depois confirmou a disponibilidade para viajar nesta companhia entre os dias 16 e 23 de Julho corrente. Outros, que ainda não tinham comprado os seus bilhetes e viam nessa uma oportunidade para adquirir uma passagem. Também fazem parte da lista pessoas que adquiriram bilhetes em outras companhias aéreas, mas que pretendiam trespassar ou converter para TAP. Entre as companhias, destacam a Qatar Airways, Linhas Aéreas de Angola (TAAG) e Turkish Airline.
O grupo refere: “em Moçambique, o salário mínimo mensal da Função Pública em vigor, este ano, são 4.468,00 Mts que corresponde a 55,85 Euros ao câmbio do dia, o que significa que cada moçambicano que aufere salário mínimo precisaria de trabalhar dois anos e cinco meses sem gastar nenhum cêntimo para poupar 1.627,99€, facto que no nosso entender nenhum destes voo é humanitário de repatriamento de moçambicanos e outros cidadãos residentes em Moçambique, porque, de facto, é uma tamanha falta de solidariedade, boa-fé, justiça, imparcialidade e espírito humanitário em relação ao valor do bilhete da TAP”.
Entretanto, importa salientar que a TAP realizou, nos dias 29 de Junho e 11 de Julho do corrente ano, voos de repatriamento de cidadãos portugueses em Moçambique, tendo as aeronaves partido de Lisboa para Maputo sem qualquer passageiro.
“Carta” contactou o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, através do seu porta-voz, Geraldo Saranga, mas sem sucesso. (Carta)