O voo humanitário da Transportadora Aérea Portuguesa (TAP), que aterrou no Aeroporto Internacional de Maputo, no último domingo, trazendo consigo 210 ou 215 pessoas (não há clareza do número de pessoas que estiveram a bordo da aeronave) de Lisboa, capital portuguesa, continua a criar embaraço às autoridades moçambicanas da saúde, havendo já indícios de haver um suposto aproveitamento da situação pelos “malfeitores”.
Depois de denúncias de haver passageiros do referido voo que não estavam a cumprir a quarentena, o Coordenador da Redacção da “Carta de Moçambique” foi, nesta quarta-feira, surpreendido com uma chamada telefónica, efectuada supostamente por uma técnica da saúde, que pretendia conhecer a morada deste, pois, conforme disse, tinha recebido uma denúncia de que o Coordenador da “Carta de Moçambique” tinha violado a quarentena obrigatória aplicada aos cidadãos que estiveram a bordo da aeronave daquela companhia aérea.
O facto causou estranheza ao Coordenador da “Carta de Moçambique”, primeiro porque não faz parte dos indivíduos que estiveram a bordo do referido avião, assim como não efectuou nenhuma viagem para o estrangeiro desde que o ano de 2020 começou. Por outro lado, causou estranheza o facto de, supostamente, o sector da saúde não ter endereços dos referidos viajantes e muito menos contactos telefónicos verdadeiros destes e/ou de seus familiares até ao ponto de contactar um cidadão que não embarcou nesse voo e muito menos um familiar seu.
Eis o teor da conversa:
Suposta técnica da saúde: Bom dia.
Coordenador da Carta: Bom dia.
Suposta técnica da saúde: Como está?
Coordenador da Carta: Estou bem. E desse lado?
Suposta técnica da saúde: Aqui estás a falar com Vânia da Saúde. Gostava de saber como está.
Coordenador da Carta: Estou bem.
Suposta técnica da saúde: Ok. Eu… desculpa… gostaria de saber qual é a sua morada.
Coordenador da Carta: Desculpe-me a pergunta, mas gostava de saber com quem a senhora deseja falar.
Suposta técnica da saúde: É assim, tenho de pedir desculpas mesmo pela pergunta que fiz. Recebemos uma denúncia a dizer que alguns dos viajantes que chegaram no domingo não estavam a cumprir com a quarentena e me deram este número.
Coordenador da Carta: Não efectuei nenhuma viagem. Nunca estive na Europa.
Suposta técnica da saúde: Hum… mas tem um familiar que voltou… no voo de domingo?
Coordenador da Carta: Nenhum familiar meu esteve no referido voo e nenhum familiar meu esteve no estrangeiro nos últimos meses. Eu sou jornalista da Carta de Moçambique e não efectuei nenhuma viagem para o estrangeiro este ano.
Suposta técnica da saúde: Ok. Muito obrigado pela atenção.
Devido à gravidade da situação, “Carta” questionou à Directora Nacional de Saúde Pública, Rosa Marlene, sobre os procedimentos observados pelos técnicos da saúde, quando contactam as pessoas que possam ter mantido contacto com o caso infectado ou que tenham de cumprir a quarentena, ao que respondeu que estes contactam o indivíduo tendo em conta os dados sobre este (incluindo a sua morada).
“Eles apresentam-se e introduzem o assunto. Se a pessoa regressou de uma viagem, eles questionam se a pessoa esteve ou não fora do país e apresentam os motivos da sua ligação”, explicou Rosa Marlene.
“Mas há casos em que pode haver aproveitamento porque as pessoas sabem que nós temos contactado [os pacientes] pelo telefone. Pedimos a todos para sermos vigilantes e a qualquer suspeita de que não seja o pessoal da saúde e para uma pessoa que não viajou, pedimos para não continuar a conversa, comunicar-nos para podermos informar as autoridades que zelam pela nossa segurança”, disse Marlene, garantindo haver uma grande colaboração dos contactos, pois, “grande parte das pessoas tem dado informações verídicas e importantes para sabermos o seu estado de saúde”.
A Directora Nacional de Saúde Pública acrescentou ainda que os técnicos de saúde usam os seus contactos privados, facto que, quanto a nós, pode propiciar oportunismo por parte de pessoas de “má-fé”. (Carta)