Até semana finda, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) contabilizava 756 empresas do sector de Hotelaria e Turismo que fecharam as portas em todo o país, afectando cinco mil trabalhadores. Esse número, que não pára de crescer, com o evoluir da crise provocada pela Covi-19 no país, esconde rostos de gigantes e renomados, bem como pequenos empreendimentos hoteleiros e turísticos no país, em geral, e, neste caso particular, ao nível da cidade de Maputo.
Trata-se de empreendimentos que, como é sobejamente sabido, fecharam por um tempo por falta de condições para fazer negócio numa altura em que a Covid-19 proíbe a circulação interna e internacional de pessoas e, por conseguinte, matando o turismo.
Sem condições para fazer negócio, pior está também a ausência de alternativa para rentabilizar os empreendimentos. É uma situação delicada e nunca experimentada, relatam todos os operadores do sector.
Como consequência da falta de opções, parte considerável dos empresários tem vindo a fechar os empreendimentos, enquanto clama ao Governo por medidas específicas para salvar não só os negócios, mas também postos de trabalho afectados, que irão agravar o índice de desemprego no país.
De tantos que fecharam na Cidade de Maputo, estão os gigantes Hotel Cardoso. Há quase 100 anos, o hotel de quatro estrelas é um dos tesouros nacionais de Moçambique. “Empoleirado no topo da falésia com vista para a cidade velha de Maputo”, o majestoso empreendimento “desfruta de um local maravilhoso – um dos melhores lugares para ver o sol se pôr no final do dia”, assim se descreve na sua página de internet. E a todos aqueles que desejam desfrutar de alguns dos seus serviços, o Cardoso acrescenta: “Venha se juntar a nós para um coquetel!”.
Em verdade, “venha” é um chamamento que, neste momento, o hotel não faz, por estar completamente encerrado. E, para o conhecimento do público, deixou um comunicado: “Devido ao anúncio do Presidente da República – Estado de Emergência, relacionado com a pandemia Covid-19, gostaríamos de informar que, a partir do dia 16/04/2020 até ao dia 15/07/2020, o Hotel Cardoso encerrará as suas actividades”.
Suspendeu o estabelecimento. Deixou, temporariamente, sem emprego, dezenas de trabalhadores e, por consequência, mais outras dezenas de agregados familiares afectados, num contexto em que o Governo, através do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), não subsidia salários dos afectados.
Contrariamente ao Cardoso, que reabre em Julho próximo, o Hotel VIP, ao longo da Av. 25 de Setembro, na baixa da Cidade das Acácias, não tem data. VIP é outro empreendimento de cinco estrelas de renome que fechou há quase 40 dias.
Conforme “Carta” reportou recentemente, VIP também deixou a seguinte informação, numa das portas frontais: “Devido à pandemia Covid-19 que, infelizmente, chegou ao nosso país, informamos que vamos encerrar as nossas instalações temporariamente, a partir do dia 28 de Março, contando voltar a servi-lo assim que a situação estiver controlada”.
Radisson Blue & Residence é outro hotel situado à beira-mar, ao longo da Avenida Marginal. Até princípios de Abril passado, o hotel encontrava-se fechado tendo transferido os clientes afectados para a secção residencial. Todavia, para evitar transtornos por parte dos potenciais clientes, na página oficial de internet do hotel consta que “devido ao coronavírus (Covid-19), este alojamento está a tomar precauções adicionais para proteger os seus hóspedes e funcionários. Consequentemente, serviços de spa e ginásio estão indisponíveis”.
Após encerramento, o Montebelo Girassol Maputo Hotel, ao longo da Av. Patrice Lumumba, convida os seus clientes a dirigirem-se ao Montebelo Indy, localizado no Bairro Sommerschield. A lista é deveras longa. Mas, dos relativamente menos vulgares e/ou pequenos, estão também fechados, na Cidade de Maputo, Resotel (ao longo da Av. Eduardo Mondlane, esquina com Karl Max), Satay Ease na Av. Marginal, Terminus (Av. Francisco Orlando Magumbwe), Onomo Hotel Maputo (Av. 25 de Setembro), Royal (Av. Filipe Samuel Magaia, esquina com 24 de Julho), City Logde (ao longo da Av. Julius Nyerere).
Enquanto uns fecham, há os que desafiam
Mesmo com a crise, há alguns hotéis que continuam a operar, mas a enfrentar dezenas de desafios que concorrem para a redução da actividade em 75% e queda da taxa de ocupação para menos de 4%. É o caso do Hotel Avenida, Polana Serena, Maputo Affecc Gloria Hotel e Hotel Maputo, onde “Carta” interagiu com o Director, Tasslim Sidat.
“Estamos a tentar aguentar para ver até onde a crise vai”, mas “devido à situação verificamos que a taxa de ocupação, nas últimas cinco semanas, reduziu para 2% de 54 quartos. Estamos a falar entre um a três quartos. Com esse nível de ocupação, é impossível pagar, pelo menos serviços básicos, como energia, água e comunicação. Como consequência, estamos a antecipar férias de alguns trabalhadores, dos 50 que temos. Com certeza vamos ter tantas dificuldades para pagar salários. Tentamos junto ao INSS, mas eles dizem que subsidiar os salários não é da responsabilidade deles. Dum modo geral, a situação é delicada”, queixou-se Sidat que, por isso, apelou apoio por parte do Governo.
O jornal também chegou à fala com Florival Mucave, investidor no sector e gestor do resort White Pearl, localizado na Ponta Mamoli, distrito de Matutuine, província de Maputo. O White Pearl faz, porém, parte dos 756 empreendimentos hoteleiros/turísticos que fecharam. A estância aguentou o primeiro mês do Estado de Emergência, mas no dia 31 de Abril passado, decidiu pelo encerramento, facto que afectou 129 trabalhadores, maioritariamente mulheres, dos quais 119 em casa. O White Pearl também não tem precisão data de reabertura.
“De acordo com a Lei de Trabalho, no primeiro mês tem de pagar 75% do salário, segundo 50% e, por fim, 25%. Sem facturação, onde poderemos achar esse dinheiro? Ademais, quanto é 25% de salário mínimo (três mil Meticais) para um trabalhador e ainda por cima mulheres?”, interrogou-se Mucave, demonstrando que realmente a situação é dramática.
Soluções
Perante a crise provocada pela Covid-19, os empresários desses sectores e não só são unânimes em afirmar que o Governo deve adoptar medidas que apoiem a classe para, por um lado, salvar os negócios e, por outro, evitar o desemprego massivo e, por consequência, miséria nas famílias, para além da criminalidade.
De entre várias medidas, clamam pelo relaxamento de alguns custos operacionais, nomeadamente, a redução em 50% das facturas de água e energia e o adiamento do pagamento de impostos, bem como contribuições para a segurança social. Defendem ainda a criação de uma linha de financiamento com taxas de juros bonificadas, período de carência de um a dois anos para empresas com redução drástica do volume de actividade devido à Covid-19. (Evaristo Chilingue)