Quatro meses depois do início dos protestos pós-eleitorais, que causaram a morte de mais de três centenas de cidadãos, na sua maioria vítimas da violência policial, o Presidente da República continua crente numa solução coerciva da crise que flagela o país desde 21 de Outubro de 2024.
Ontem, discursando por ocasião da tomada de posse do Vice-Comandante-Geral da Polícia, Aquilasse Manda, o Chefe de Estado instou a Polícia da República de Moçambique (PRM) a controlar as “manifestações ilegais e violentas”, alegando que “se não forem controladas, podem degenerar em ameaça à nossa segurança colectiva”.
Daniel Chapo entende que há uma “contínua tentativa” de instalar o caos no país, através de manifestações “sem data e hora anunciadas”. “Não podemos achar normal ameaçar um lojista, dizendo: ‘ou baixa o preço ou não abre a loja’, prejudicando centenas de compatriotas que procuram produtos básicos para o seu sustento e, às vezes, depois de percorrerem longas distâncias”, defendeu Daniel Chapo, em referência aos novos protestos contra o custo de vida.
“Impedir as nossas mães de venderem no mercado para o seu ganha-pão, mesmo depois de terem feito sacrifícios logo pela madrugada para irem à busca dos seus produtos e venderem nas suas bancas e barracas para poderem suportar os seus familiares”, acrescentou.
No entanto, não é apenas a repreensão dos protestos que exige Daniel Francisco Chapo, na sua qualidade de Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança. Quer também que a Polícia eduque a sociedade sobre os direitos civis e as liberdades individuais.
“É necessário trabalhar com as comunidades, com as lideranças locais, dos bairros, ao nível das nossas cidades e distritos bem como das lideranças locais, e os jovens influentes para elucida-los que os seus direitos terminam onde iniciam os dos outros e que existem meios apropriados, criados pelo Estado, para dirimir as divergências”.
Segundo Daniel Chapo, os desafios que o país enfrenta “clamam por uma maior acutilância, dinamismo e eficácia” na acção da Polícia, pelo que insta a corporação a privilegiar a relação Polícia-Comunidade.
“A Polícia deve regressar às comunidades, como já vimos fazê-lo, para, com objectividade, humanismo e espírito de bem servir ao cidadão, se apropriar das suas preocupações e contribuir para a solução dos seus problemas”, defendeu.
Refira-se que, desde a sua investidura como quinto Chefe de Estado, Daniel Chapo apenas reuniu uma vez com os líderes dos partidos da oposição, sendo que ainda não é conhecido qualquer plano seu para dialogar com Venâncio Mondlane, segundo candidato mais votado das eleições gerais e rosto das manifestações pós-eleitorais.
Os protestos, que arrancaram a 21 de Outubro de 2024, lembre-se, causaram mais de 300 mortes, na sua maioria provocadas pela Polícia, num cenário que acabou exacerbando o ódio entre a Polícia e os cidadãos. Pelo menos 17 agentes da Polícia foram mortos, alguns assassinados por manifestantes. (Carta)