Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quarta-feira, 08 janeiro 2025 22:03

Eleições 2024: PODEMOS admite divergências de estratégias com Mondlane, mas…garante cumprimento do Acordo

AlbinoF090124.jpg

O PODEMOS admitiu hoje existirem divergências na “estratégia de luta” entre o partido e Venâncio Mondlane, candidato presidencial que a força política apoiou, defendendo o fim das manifestações para o diálogo, embora prometa cumprir com o “acordo colegatário”.

 

“Este acordo com Venâncio Mondlane está em vigorar e o PODEMOS vai cumprir (…). Eu penso que o Venâncio Mondlane luta pelo bem deste país e o PODEMOS também. Nós divergimos apenas nas estratégias de luta (…). Se tivermos mecanismo de diálogo, eu não vejo necessidade de continuar com as manifestações”, declarou Albino Forquilha, numa conferência de imprensa convocada hoje para denunciar o alegado assassinato de membros do partido e abordar questões ligadas a tomada de posse dos deputados do partido.

 

Em causa está a divergências entre o candidato presidencial Venâncio Mondlane, que lidera a maior contestação aos resultados eleitorais de sempre em Moçambique a partir do estrangeiro, e o partido que o suportou, o Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), até agora uma formação política extraparlamentar.

 

Registado em maio de 2019 e composto por dissidentes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o PODEMOS viu a sua popularidade aumentar desde o anúncio, em 21 de agosto, do apoio à candidatura de Mondlane nas presidenciais, em resultado de um “acordo político”, pouco tempo depois de Mondlane ter a sua coligação (CAD) rejeitada pelo Conselho Constitucional por “irregularidades”.

 

“Nós respeitamos o Venâncio e aquilo que ele fez por nós. Mas é necessário que ele espere que nós lhe dêmos o valor. Ele não nos pode cobrar esse valor”, acrescentou Albino Forquilha.

 

O presidente daquela força política queixa-se de ameaças e pressões de desconhecidos face às acusações de traição a Mondlane, mas reitera que os deputados do partido vão tomar posse no dia 13 janeiro.

 

Numa carta aberta dirigida ao presidente do PODEMOS, Mondlane considerou, na quarta-feira, que a tomada de posse “madrugadora” dos deputados daquele será um desrespeito à memória das pessoas que morreram nas manifestações de contestação aos resultados eleitorais.

 

“É sobre a memória e respeito dos que tombaram pela causa, dos que lutam dia e noite desde a campanha eleitoral até hoje nas ruas e muito mais, que recomendava para a não tomada de posse madrugadora do Podemos na Assembleia da República. É uma questão de respeito, antes de tudo”, declarou Venâncio Mondlane na carta.

 

Na missiva, datada de 07 de Janeiro, Mondlane dava um prazo de três dias ao Presidente do PODEMOS para responder, publicamente, se vai ou não honrar com o Acordo, sobretudo nos pontos referentes a indicação de 50% dos candidatos a cargos públicos provenientes daquela formação política; agentes parlamentares e assessores da bancada parlamentar do PODEMOS, assim como parte dos membros do PODEMOS para o Conselho Constitucional e para a Comissão Nacional de Eleições.

 

O PODEMOS é fruto de uma dissidência de antigos membros da Frelimo, que pediam mais "inclusão económica" e abandonaram o partido no poder, na altura, alegando "desencanto" e diferentes ambições.

 

Os resultados promulgados pelo CC no dia 23 apontam o Podemos como maior partido de oposição em Moçambique no próximo parlamento com 43 assentos, tirando um estatuto que era da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) desde as primeiras eleições multipartidárias, em 1994.

 

Dos 250 assentos que compõem a Assembleia da República, a Renamo passou de 60 deputados, que obteve nas legislativas de 2019, para 28 parlamentares. A Frelimo, no poder desde a independência, manteve-se com uma maioria parlamentar, com 171 deputados. Nas presidenciais, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor, com 65,17% dos votos.

 

A eleição de Chapo como sucessor de Filipe Nyusi é, contudo, contestada nas ruas e o anúncio do CC aumentou o caos que o país vive desde outubro, com manifestantes pró-Mondlane – candidato que, segundo o Conselho Constitucional, obteve apenas 24% dos votos, mas reclama vitória – em protestos a exigirem a “reposição da verdade eleitoral", com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia.

 

Confrontos entre a polícia os manifestantes já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 feridos, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo. (Lusa/Carta)

Sir Motors

Ler 1080 vezes