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terça-feira, 10 dezembro 2024 07:18

Eleições 2024: Grande Maputo continua “sitiado” e com níveis elevados de violência

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As cidades de Maputo e Matola e as vilas de Marracuene e Boane, que compõem a denominada Área Metropolitana do Grande Maputo, continuam “sitiadas” e com níveis elevados de violência, no contexto da “Fase 4x4” das manifestações populares convocadas por Venâncio Mondlane e que termina esta quarta-feira. Ontem, centenas de vias, incluindo as Estradas Nacionais nº 1, nº 2 e nº 4, estiveram novamente bloqueadas por manifestantes, impedindo a circulação de pessoas e bens.

 

No entanto, contrariamente aos dias anteriores, em que o bloqueio de estradas iniciava às 08h00 e terminava às 16h00, nesta segunda-feira, grande parte das estradas do Grande Maputo foram encerradas às 05h00, sendo que, em alguns pontos, o bloqueio prolongou-se até às 21h00, como foi o caso da EN2, junto à Ponte da Matola-Rio, onde as barricadas foram retiradas depois das 21h00, após um longo processo de negociação entre os condutores e os manifestantes. Aliás, mensagens partilhadas nas redes sociais, na tarde de domingo, indicavam que, esta semana, os protestos não seguiriam apenas as medidas indicadas por Venâncio Mondlane.

 

Na sequência dos protestos de rua, viaturas particulares, de transporte de passageiros e de carga, assim como os comboios não puderam circular desde às 05h00, pois, as estradas e linhas férreas estavam com barricadas.

 

Os Caminhos-de-Ferro de Moçambique, por exemplo, ainda tentaram transportar passageiros da Matola-Gare para a cidade de Maputo, mas o comboio foi impedido pelos manifestantes junto à estação do Infulene. Todos os passageiros foram obrigados a descer, e muitos optaram por regressar às suas casas a pé, enquanto os outros decidiram seguir viagem.

 

Na cidade da Matola, por exemplo, a denominada “estrada velha” esteve bloqueada na zona do Santos, enquanto a EN4 esteve sucessivamente bloqueada nas proximidades da Casa Branca, BIC, João Mateus e Maquinag (do lado da cidade de Maputo). A mesma via esteve bloqueada entre os bairros de Mahlampsene e Tchumene e junto à fronteira de Ressano Garcia.

 

Em Boane, pela EN2, o cenário era idêntico, tendo iniciado por volta das 04h00, as vias que dão acesso à cidade de Maputo estavam bloqueadas, impedindo a passagem de qualquer viatura. No interior do município da Matola-Rio, também houve registo de bloqueios. Já a EN1, a principal via do país, houve bloqueios, em Marracuene e no cruzamento de Xinavane (Manhiça). Lembre-se que a estrada esteve bloqueada na zona do Bobole, entre às 08h00 de sábado e às 21h00 de domingo, devido aos rumores da tentativa de assassinato de Venâncio Mondlane.

 

Relatos colhidos pela “Carta” indicam, entretanto, que o movimento de protesto na N4 começou na noite de domingo, com testemunhas a relatarem o arremesso de pedras aos carros naquela via, que liga Moçambique à África do Sul.

 

Na fronteira de Ressano Garcia, camiões de transporte de minérios voltaram a fazer longas filas, depois do bloqueio da estrada no domingo. Neste ponto, as oportunidades de negócio eram escassas. Os viajantes que passaram a noite naquele local foram forçados a comprar água para consumo, banho e até refeições a preços especulativos.

 

Fanuel Chissico disse à nossa reportagem que uma garrafa de água mineral de 1.5 litros era vendida a 70 Meticais, contra os habituais 35 Meticais. “A comida também está cara e não temos outra opção. O pior é que não sabemos quando conseguiremos sair daqui”, afirmou a fonte.

 

Na Estrada Circular de Maputo, a via esteve bloqueada desde entre as rotundas do Intaka e de Matlemele, assim como junto à rotunda da Coca-Cola. Há relatos de que o Mercado Grossista do Zimpeto, o maior do país, sequer abriu suas portas por temer vandalizações.

 

Aliás, nesta via que as Cidades de Maputo e Matola há relatos de que, na noite de domingo, um grupo de manifestantes munidos de diversos instrumentos contundentes (facas e varapaus), ameaçava os automobilistas que circulavam com cartazes de protesto, recomendados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane. O grupo, que estava encapuzado, foi acusado de rasgar os panfletos e de ameaçar os automobilistas.

 

“Fui à Marracuene às 04h00 e, até às 09h00, já tinha terminado os meus afazeres, mas não conseguia sair da EN1 porque estava tudo bloqueado. Tentei seguir até Zimpeto, mas, ao chegar à zona da Mafurreira, meu carro foi cercado por manifestantes que pediam dinheiro para permitir a minha passagem. Eram vários jovens em cima do meu carro e só fui salvo porque, naquele momento, apareceu uma viatura blindada da Unidade de Intervenção Rápida”, relatou um jovem à "Carta".

 

Nos bairros urbanos e suburbanos, o comércio parou e vários estabelecimentos não abriram as suas portas, temendo vandalizações. No caso da Matola-Gare, por exemplo, logo nas primeiras horas do dia, várias vendedeiras de verduras em sacos estendidos no chão invadiram a estrada. Mas quando eram 8h00, vários manifestantes que se encontravam no local mandaram todas as vendedeiras para casa.

 

No bairro da Costa do Sol, por volta das 15h30m, os manifestantes decidiram bloquear a via, nas proximidades da rotunda, junto ao mercado do peixe. Os automobilistas ficaram bloqueados e a Polícia que se encontrava nas proximidades apenas observava o cenário.

 

As cidades de Maputo e Matola estiveram, mais uma vez, fantasmas. O movimento de pessoas e veículos era quase invisível. Poucas pessoas conseguiram chegar aos seus locais de trabalho. Os serviços de emissão de Bilhete de Identidade, Passaporte e Registo Criminal funcionaram a meio gás. Alguns funcionários conseguiram chegar, mas notava-se uma grande ausência de utentes.

 

O comércio não estava a funcionar devidamente, já que muitos vendedores não conseguiram sair de casa. A maioria das lojas no centro de Maputo teve de fechar as suas portas, receando actos de vandalização, para além de que os empregados não conseguiram chegar aos postos de trabalho.

 

Lembre-se que, nesta fase, denominada 4×4, estava previsto que o bloqueio das vias ocorresse das 08h00 até às 15h30. No entanto, as manifestações tomaram outro rumo após o candidato Venâncio Mondlane ter anunciado que foi alvo de suposta tentativa de assassinato. (Marta Afonso)

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