A violência, movida por manifestações populares convocadas pelo candidato presidencial Venâncio António Bila Mondlane, chegou à localidade de Mangungumete, no distrito de Inhassoro, província de Inhambane. Esta quinta-feira, um agente da Polícia (da Unidade de Intervenção Rápida) foi morto e um Posto Policial local foi destruído por manifestantes, que ainda se apoderaram de pelo menos quatro armas de fogo, do tipo AK-47.
Segundo relatos colhidos pela “Carta”, junto de fonte baseada em Inhassoro, os tumultos ocorreram na manhã de hoje, depois de a Polícia ter tentado impedir o bloqueio da Estrada Nacional Nº 1, em mais um dia de protestos em quase todo país.
A fonte conta que, à semelhança dos outros pontos do país, os manifestantes juntaram-se e bloquearam a EN1, quando eram pontualmente 08h00 (horário definido por Venâncio Mondlane para os automobilistas desligarem os seus carros dentro e à entrada das cidades), colocando barricadas e queimando pneus como forma de impedir a circulação de viaturas.
A Unidade de Intervenção Rápida (Polícia antimotim) deslocou-se ao local (um cruzamento que dá entrada à unidade de exploração de gás natural da Sasol) e atirou gás lacrimogénio e disparou balas verdadeiras contra os manifestantes. Da acção policial, pelo menos duas pessoas perderam a vida, facto que enfureceu a população, que decidiu atacar o Posto Policial.
A fonte relata que, apercebendo-se da fúria popular e da sua incapacidade em travá-la, a Polícia abandonou o local, que ficou à mercê dos manifestantes. O grupo vandalizou o Posto Policial e apoderou-se de pelo menos quatro armas de fogo. Igualmente, matou, à pedrada, um agente da Polícia.
Fotografias e vídeos amadores ilustram manifestantes a atirarem pedras contra um corpo, de um agente da Polícia, enquanto outros exibiam armas de fogo, num cenário igual ao que se vê, há sete anos, na província de Cabo Delgado.
A fonte sublinha que o bloqueio de estrada, no quadro das manifestações em curso, não é novo em Mangungumete. Revela, por exemplo, que ontem os manifestantes haviam bloqueado a EN1 entre às 08h00 e às 16h00 (horário definido por Venâncio Mondlane para o desbloqueio das vias), mas sem registo de tumultos, pois não houve intervenção policial.
Refira-se que a localidade de Mangungumete é das mais vulneráveis à violência, devido ao descontentamento dos jovens por falta de oportunidades de emprego na petroquímica sul-africana, Sasol. A localidade tem registado, ciclicamente, situações de bloqueio da estrada, sendo que um dos últimos casos foi registado, em Agosto de 2021.
“Carta” contactou a Administradora do distrito de Inhassoro, Dulce Canhemba, para obter detalhes em torno dos tumultos desta quinta-feira, mas a governante encaminhou-nos ao Comandante-Distrital da PRM, José Sendela.
Numa conversa curta e directa (de menos de dois minutos), Sendela disse que não dispunha de detalhes para partilhar com a nossa reportagem porque “ainda estamos no terreno a trabalhar” e que qualquer informação sobre os tumultos de Mangungumete será partilhada com o Comando Provincial da PRM, em Inhambane, de onde a imprensa poderá buscar a reação. (A. Maolela)