Continua uma “incógnita” o regresso da banca comercial às vilas distritais de Mocímboa da Praia e Palma, norte da província de Cabo Delgado, depois dos ataques terroristas ocorridos em Agosto de 2020 e Março de 2021, respectivamente.
Até à última segunda-feira, 26 de Junho de 2023, as duas vilas ainda continuavam desprovidas de serviços financeiros, depois que os principais bancos comerciais sofreram rombos milionários nos fatídicos ataques, incluindo das Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Em Palma, por exemplo, os ataques terroristas do dia 24 de Março de 2021 lesaram os bancos comerciais em pelo menos 60 milhões de Meticais, de acordo com informações apuradas pela Carta de Moçambique, um valor estimado, pois, os bancos nunca chegaram a reagir oficialmente em torno do saque.
No princípio, as FDS acusaram os terroristas de ter saqueado mais de 30 milhões de Meticais do Standard Bank, Millennium BIM e BCI (Banco Comercial e de Investimentos), porém, mais tarde confirmou-se a limpeza efectuada pelos militares a pelo menos dois bancos: BCI e Standard Bank. Aliás, o saque aos bancos comerciais na vila de Palma levou à detenção de três oficiais superiores das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e de 30 soldados.
No caso de Mocímboa da Praia, nunca se soube o que aconteceu aos bancos, uma vez que a vila ficou sob gestão dos terroristas, depois destes terem expulsado a população e as FDS daquele ponto do país.
O Administrador do Distrito de Mocímboa da Praia, Sérgio Domingos Cipriano, garante já haver conversações com a banca para o seu retorno àquela vila municipal, havendo apenas garantias de pelo menos dois bancos (ABSA Bank e Millennium BIM), de quatro já convidados: ainda não há respostas do Standard Bank e BCI. “Temos confirmação do BIM e do ABSA de que poderão operar ainda este ano”, disse Sérgio Cipriano.
A ausência da banca comercial nas vilas de Palma e Mocímboa da Praia preocupa o Governo, que entende haver condições férteis para o financiamento de actividades ilícitas, num momento em que luta para tirar o país da lista cinzenta do Grupo de Acção Financeira Internacional por ainda não ter eliminado as deficiências na luta contra o branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo.
“Temos de fazer um trabalho muito próximo junto da banca, no sentido de convencê-los a acompanhar este evoluir da estabilidade, porque a nós também preocupa o facto de haver uma grande massa monetária em circulação nos mercados de Mocímboa da Praia, assim como de Palma, sem o controlo do Estado e nem da banca”, disse Cristóvão Chume, Ministro da Defesa Nacional, depois de visitar, na passada segunda-feira, as vilas de Mocímboa da Praia e Palma.
Refira-se que o saque aos bancos foi descrito como um dos actos de selvajaria protagonizados pelas FDS durante a invasão à vila de Palma, havendo ainda relatados de pilhagem a residências e lojas de cidadãos nacionais e estrangeiros. (Abílio Maolela, em Mocímboa da Praia e Palma)