O filósofo Severino Ngoenha defende que a corrupção, que flagela a sociedade moçambicana, não foi exportada e muito menos foi introduzida por estrangeiros, mas que resulta da falta de vigilância interna por parte do partido no poder.
O académico, que falava esta terça-feira, em Maputo, durante a cerimónia de celebração dos 18 anos da criação do Centro de Integridade Pública (CIP), lembrou que, após a independência, a Frelimo defendia a vigilância no seio da sociedade moçambicana, porém, deixou de vigiar a si e aos seus membros, facto que originou a corrupção, que hoje se encontra enraizada.
“Nós vigiamos muito contra a Rodésia do Sul, contra a África do Sul, contra os “xiconhocas” internos. Mas essa vigilância não foi introspectiva. A Frelimo não vigiou sobre ela mesma, sobre os seus próprios elementos. Foi da falta dessa vigilância que entrou a corrupção. A corrupção não chegou do exterior”, defendeu o académico, convidando o CIP a fazer essa introspecção, de modo a evitar cometer os erros que aponta nos outros. “Quando falta a vigilância interna, nós acabamos caindo naquilo que nós estamos também a criticar”, sublinhou.
A vigilância não é a única coisa que se perdeu durante os 48 anos de independência do país. Mas também a utopia de que Moçambique sobreviveria na base do seu suor. “Quando olhamos para o Moçambique actual, estamos diametralmente opostos com aquilo que eram as convicções de então. Não dependíamos do FMI [Fundo Monetário Internacional], do Banco Mundial e nem do dinheiro dos americanos e canadianos”, defendeu.
Para o Reitor da Universidade Técnica de Moçambique, o país está em crise e “o julgamento das dívidas ocultas aumentou a dimensão e sentimento de crise”, sendo que, a um ano das eleições presidenciais, ainda não se sabe quem vai ser presidente e muito menos se Filipe Jacinto Nyusi quer ou não o badalado terceiro mandato.
“A militarização do país aumentou. Há polícias em todas as estradas da Polana [Cimento]. Em Inglaterra dizem que o Presidente tem que ser julgado e, quando você mete um animal numa gaiola, ele torna-se perigoso. Que futuro vai ter Moçambique?”, questiona o académico, para quem os académicos, a sociedade civil e as elites devem pensar num modelo de sociedade a ser estabelecido, visto que a oposição “não tem dentes para governar”. (A.M.)