O antigo Ministro da Saúde, Paulo Ivo Albasini Teixeira Garrido, defende a necessidade de o país construir um consenso nacional em torno da luta contra a corrupção, um problema que flagela a sociedade moçambicana e que corrói as finanças públicas.
Segundo Ivo Garrido, que integrou o primeiro Governo de Armando Emílio Guebuza (entre 2005 e 2010), é necessário que o Executivo, partidos políticos, confissões religiosas, sindicatos, organizações estudantis e sócio-profissionais criem um consenso nacional sobre como combater a corrupção, tendo plena consciência de que esta será uma luta dura, difícil e prolongada.
Para o cirurgião, a corrupção é apenas um sintoma de uma doença mais séria que afecta a nossa sociedade, pelo que, “se nos concentrarmos apenas e simplesmente na corrupção, estamos a ser reducionistas. Estamos a ver a árvore, não estamos a ver a floresta”.
“O nosso país está em crise e numa crise muito profunda e multiforme. Penso ainda que, mesmo que a gente faça um esforço para reorganizar o poder, para criar instituições de checks and balances, isso não é suficiente. Não basta termos um Governo bom, também temos que ter uma sociedade boa. A corrupção paira em todos os sectores da sociedade. A sociedade está, de facto, doente”, defende o académico, dando exemplo dos conflitos verificados recentemente na Igreja Velha Apostólica de Moçambique e na Comunidade Mahometana de Maputo.
O primeiro Reitor do ISCTEM (Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique), descrito como um dos melhores Ministros da Saúde do país, entende que as diferentes lideranças políticas, económicas, sindicais e religiosas não estão suficientemente comprometidas com a luta contra corrupção, o que contribui para o seu descrédito no seio dos cidadãos.
Falando esta terça-feira, em Maputo, durante a comemoração dos 18 anos da criação do Centro de Integridade Pública (CIP), Garrido desafiou aquela organização da sociedade civil a estudar as diferentes formas e dimensões da corrupção, com maior destaque para a dimensão psicológica.
“De que forma, a corrupção afecta a saúde mental dos moçambicanos? Eu sei, como médico, que a corrupção faz mal”, afirmou, questionando ainda as razões que levam pessoas honestas a tornarem-se corruptas.
“Conheço dezenas de pessoas que militaram comigo, que mesmo depois da independência eram exemplos e hoje estão absolutamente corrompidas. O que aconteceu com aquela pessoa para virar corrupta?”, questionou, perguntando ainda as razões que tornam nulos todos os esforços para o combate à corrupção, apesar dos sucessivos discursos do Governo de combate à corrupção e dos casos desvendados pelas organizações da sociedade civil. (A.M.)