Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

quarta-feira, 20 março 2019 13:55

Com o Buzi ainda debaixo do dilúvio, aumenta a urgência do resgate

“Ontem foi um dia encorajador. Com a ajuda dos helicópteros da SAAF (Força Aérea da África do Sul), conseguimos salvar 167 pessoas, colocando-as em segurança e, em alguns casos, reunindo-as com familiares e amigos”, lê-se na página do Facebook do IPSS Medical Rescue, uma Organização Não-Governamental sul-africana criada nos anos 90 por antigos bombeiros, com o objectivo de elevar a qualidade do salvamento em desastres em África. Isso foi conseguido e a Rescue South África, como é conhecida hoje, já é cotada mundialmente, com presenças pontuais em desastres como tsunamis, incluindo em regiões remotas da Ásia.

 

São eles quem está agora operando alguma magia. O dilúvio é enorme, sobretudo na zona do Buzi, onde centenas de moçambicanos terão ficado debaixo da água. Muitas não conseguiram trepar uma árvore ou um casebre. Foram apanhadas desprevenidas por torrentes violentas de águas vindas da montante e por chuvas com rajadas que caíam há vários dias, carregando a aterradora cifra pluviométrica de 150 milímetros.

 

A equipa da Rescue South África entrou em Moçambique no passado domingo e já desbrava na vastidão de água que inundou as bacias hidrográficas do Buzi e do Púnguè. “À medida que equipas e recursos adicionais chegam à região, os esforços de resgate estão se expandindo e o impacto é significativo. Isso também permitirá que algumas das ‘primeiras botas’ no solo comecem a se retirar da área, buscando uma recuperação muito necessária em casa”, lê-se.

 

A moldura de gente ainda refugiada no cimo de árvores e barracas, famintas, é enorme. Mas a primeira leva da turma de salvadores sul-africanos precisa de ser substituída. “Muitos dos membros da equipa estão exaustos física e mentalmente, e decisões operacionais sobre se devem voltar para suas famílias serão tomadas durante o dia”.

 

Outras respostas ao desastre

 

Na Beira, o INGC (Instituto Nacional de Gestão de Desastres) mantém o seu Centro de Operações no aeroporto internacional, aliás a base central de toda a resposta de emergência ao desastre. Aqui também funcionam várias organizações humanitárias, incluindo as do espectro das Nações Unidas, facilitadas pelo PMA (Progama Mundial de Alimentos). De acordo com o ReliefWeb no seu último “update”, a Telecoms Sans Frontiers implantou uma equipa na Beira e estabeleceu a conectividade para operações humanitárias.

 

Um segundo centro de coordenação está a ser estabelecido em Chimoio, liderado pelo INGC, para apoiar as operações nas áreas circundantes e uma reunião de coordenação foi realizada a 18 de Março para discutir questões críticas. A coordenação também está activa em Quelimane, na Zambézia, liderada pelo INGC com o apoio do UNICEF.

 

O INGC está a prestar assistência a 3.800 famílias em centros de acomodação na província de Sofala. O ReliefWeb diz que vários parceiros de saúde estão a apoiar na resposta urgente em instalações de saúde impactadas, incluindo o Hospital Central da Beira. Fora da Beira na resposta está em curso na Zambézia, visando a contenção do surto de poliomielite que foi confirmado em Janeiro de 2019. Na cidade de Tete, o PMA assiste quase 900 famílias, acomodadas no centro do INGC no bairro em Matundo, uma mistura de transferência de dinheiro e assistência em vales, nomeadamente envolvendo comerciantes locais.

 

O ReliefWeb noticia também que quatro helicópteros (três do governo e um do PMA) estão disponíveis. O PMA transportou 20 toneladas de biscoitos energéticos para a Beira a 17 de Março, para ajudar mais de 22.000 pessoas. Um voo do Dubai Humanitarian Response Depot, transportando provisões vitais (incluindo 13.700 lonas, 3.500 jerrycans, 1.500 kits de ferramentas de abrigo e medicamentos para operações da ONU) já devia ter chegado a Maputo. 

 

Desafios

 

Os desafios à resposta permanecem significativos. A escala e o alcance das inundações tornaram muitas estradas-chave intransitáveis, o que significa que os comboios rodoviários não conseguem chegar à Beira neste momento. Há muitos camiões presos na estrada e incapazes de alcançar seus destinos pretendidos. Existem também desafios no transporte de suprimentos de socorro suficientes para a Beira e áreas adjacentes, devido ao número limitado de meios aéreos. (Carta)

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