Quarenta e seis meses depois, Ossufo Momade volta a ver sua autoridade política ser contestada por antigos guerrilheiros da Renamo. Em causa está a sua suposta cumplicidade no assassinato dos antigos guerrilheiros daquela formação política já desmobilizados e a sua visível apatia em relação a actual ordem política do país, apresentando um trabalho político que, por si só, “é um fracasso”.
A contestação foi manifestada este fim-de-semana por um grupo de ex-guerrilheiros da Renamo, baseados na província de Sofala (o principal reduto dos antigos combatentes da “perdiz”), liderado pelo antigo Chefe de Estado-Maior General da Renamo, Thimosse Maquinze.
Segundo o grupo, desde a sua ascensão ao poder, Ossufo Momade tem-se ocupado em perseguir os antigos colaboradores de Afonso Dhlakama, tendo já expulsado os chefes do Estado-Maior General, baseados na Serra da Gorongosa, “detendo-os e escorraçando-os para as unidades, como se de inimigo se tratasse, numa demonstração clara de que queria introduzir uma Renamo diferente daquele que o saudoso presidente Dhlakama dirigia”, explica Josefa Mwera, que em 2019 foi dado como desaparecido pelos seus colegas.
Falando em conferência de imprensa, Thimonse Maquinze acusou o líder do maior partido da oposição no xadrez político nacional de cumplicidade perante aos recorrentes assassinatos de antigos membros do braço armado da Renamo. “ Vários guerrilheiros da Renamo foram raptados e mortos em circunstâncias estranhas por esquadrões de morte e Ossufo Momade sempre se manteve impávido e sereno, o que nos faz concluir que ele é cúmplice”, atirou.
As preocupações, diz Josefa Mwera, são do conhecimento de Ossufo Momade, mas este se tem furtado ao debate com os antigos combatentes da Renamo, desde o ano passado. “Exigimos que o Presidente Ossufo Momade se demita das funções de Presidente da Renamo”, defende Mwera.
Segundo Mwera, foi comprovada a incapacidade de Ossufo Momade em liderar a Renamo, pelo que os antigos combatentes da Renamo exigem a convocação de um Congresso Extraordinário para a escolha de um novo líder do partido.
“Os combatentes têm estado bastante preocupados com a apatia da ordem política do país, quando a Renamo fica na sombra de acontecimentos que minam a evolução da democracia do país sem sequer apresentar um horizonte alternativo. As bases do partido estão completamente moribundas e com uma autêntica apatia com o trabalho político que, por si só, apresenta um fracasso”, atira Mwera.
“Os antigos guerrilheiros, desmobilizados no âmbito do DDR [Desarmamento, Desmobilização e Reintegração dos homens armados da Renamo], recorrem a biscates para sobreviver e, em troca, recebem cinco quilos de milho para alimentar as suas famílias. Grande parte vive nas cidades, com esposas e filhos. Alguns vivem em casas arrendadas a espera de promessas de reintegração, mas nada acontece”, salienta Thimosse Maquinze.
Esta é a segunda contestação pública à liderança de Ossufo Momade a ser promovida por antigos guerrilheiros. A primeira teve lugar em Junho de 2019, tendo como protagonista o falecido Mariano Nhongo, assassinado em Outubro de 2021, pela Polícia moçambicana.
Lembre-se que a primeira contestação, feita cinco meses depois da eleição de Ossufo Momade à presidência da Renamo, deu lugar ao surgimento da auto-proclamada Junta Militar da Renamo, que aterrorizou a região centro do país entre Agosto de 2019 e Outubro de 2021. (Carta)