A manifestação contra a falta de emprego, protagonizada por um grupo de jovens na semana finda, junto ao Ministério do Trabalho e Segurança Social, continua a alimentar debates, trazendo de volta o compromisso político assumido pelo Governo de criar 3 milhões de empregos até 2024, através do “Plano de Acção de Política de Promoção do Emprego” lançado em Maio do ano passado em Maputo.
Refira-se que, na tarde da última quarta-feira, um grupo que se estima ter chegado a 1.000 jovens dirigiu-se ao Ministério do Trabalho e Segurança Social para exigir emprego. Entoando cânticos em protesto contra o partido Frelimo, que governa Moçambique desde a independência nacional, o grupo partia de um restaurante na capital moçambicana, que pretendia contratar 12 pessoas para o seu pessoal.
Frustrados por não terem conseguido um lugar no referido estabelecimento, os jovens decidiram enfrentar as autoridades. A Polícia de choque foi accionada para dispersar os manifestantes.
Analistas ouvidos pela “Carta” defendem que o protesto representa o colapso das políticas de emprego desenhadas pelo Governo e que a juventude demonstra ter força e coragem de mudar o rumo dos acontecimentos.
Ivan Mazanga, Presidente da Liga Nacional da Juventude da Renamo, entende que os protestos assistidos na passada quarta-feira representam o colapso das políticas do Governo, naquilo que é a maior expectativa dos jovens: o emprego.
Para Mazanga, o Presidente da República chumbou no quesito “emprego”, pois, até ao momento, ainda não conseguiu cumprir a promessa de criar 3 milhões de postos de emprego, quando já está na metade do mandato.
Mazanga acrescenta ainda que o Governo moçambicano tem usado a juventude como “cobaia” para anunciar promessas falsas. “Os jovens já acordaram e estão a mostrar que não querem mais ser campo de tiro ao alvo”, sentencia.
Quem também entende que os jovens colocaram um “basta” nas políticas “enganosas” do Governo é Augusto Pelembe, do Movimento Democrático de Moçambique. Pelembe afirma ter acompanhado a manifestação com um misto de sentimentos. Primeiro, ficou feliz por saber que a luta pela mudança conta com a contribuição dos jovens. Mas também ficou triste por perceber que o Governo não está a conseguir cumprir com a sua promessa de criar 3 milhões de postos de emprego até 2024.
Augusto Pelembe defende ser motivo de frustração para qualquer pai a situação que é vivida pelos jovens. “Os pais investem na educação dos seus filhos e, depois de formados, viram cobradores ou vendedores de crédito. Isso dói muito”, sublinhou Pelembe.
Para Pelembe, a manifestação da passada quarta-feira pode ser o prenúncio de saturação por parte da sociedade moçambicana em relação à actual situação social e económica do país, podendo haver outras manifestações, sobretudo violentas, tendo em conta que o Governo é alérgico às manifestações pacíficas.
Por seu turno, Salomão Muchanga, antigo Presidente do Parlamento Juvenil, afirma que, por se terem dirigido ao Ministério do Trabalho e Segurança Social, os jovens mostraram que, para eles, a Secretaria do Estado da Juventude e Emprego não existe. Em segundo lugar, mostraram que as estatísticas sobre o emprego que, geralmente, são divulgadas pelo Governo não falaciosas e, por fim, provaram a ausência do Estado na criação de condições favoráveis ao emprego.
Muchanga afirma que o cenário testemunhado na semana finda mostra a saturação da juventude moçambicana com as promessas não cumpridas pelo Governo. Defende ainda que os protestos derivam das políticas de exclusão protagonizadas pela Frelimo, que dá prioridade aos filhos dos antigos combatentes nos concursos de ingresso ao Aparelho de Estado em relação aos restantes jovens.
Tal como Pelembe, Muchanga prevê dias negros no país, devido ao elevado custo de vida. Entende que o nível de saturação a que a sociedade chegou, levará às constantes greves e manifestações violentas.
Refira-se que “Carta” contactou o Secretário do Estado para Juventude e Emprego, Oswaldo Petersburgo, para conhecer o posicionamento do Governo face aos protestos verificados na última quarta-feira, mas sem sucesso. A Assessoria de Imprensa disse que o posicionamento seria dado pela Delegada do SEJE na Cidade de Maputo.
No entanto, sublinhou ter-se tratado de uma situação sui generis, pois, o Governo criou Centros de Emprego, onde os jovens devem depositar o curriculum vitae. (Carta)