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terça-feira, 12 outubro 2021 11:28

O punk do meritíssimo juiz é uma fraude

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Claro que aquele punk é uma total fraude. Nos primeiros dias de julgamento, confesso que disputei as almofadas do sofá com os gatos para ouvir e ver o juiz. Os meus gatos miavam e enrolavam as antenas das suas caudas sobre as minhas pernas e eu com um frasquinho de pomada acompanhava o julgamento, pois o juiz já nos tinha dito que era alérgico à corrupção. Não sei, mas se a alergia o atacasse podia esfregá-lo através do ecrã da televisão a pomadinha contra a alergia. Todos reclamam naquela tenda: de fome, de cansaço, dos sapatos com a graxa comida por poeira, mas o juiz é o único que não se revolta contra a pomada de alergia que não tem. (Será que ainda precisa?)

 

Deixei, aos poucos, de acompanhar o julgamento, pois o juiz a cada dia virava uma pequena ave naquela tenda; abria as asas da sua bata e as punha sobre os seus registos como uma galinha aquecendo os seus ovos. E de quando em quando, o juiz cacarejava para pôr ordem na tenda, mas os pavões de farda amarela sobrevoavam sobre as suas ordens. E o juiz coçava-se sem parar, talvez precisava da sua pomadinha.

 

O juiz depois disse-nos que era católico, talvez tenha sido a partir desse momento que nos encheu de sacramentos de desesperança que revelaram a nossa comunhão distante com a justiça. Foi nesse mesmo momento que o juiz passou a ser acólito na tenda da BO: acompanhava as rezas em forma de provas do ministério público, ungia os réus com gotas de paciência e ajudava com toda sinceridade a afastar as bocas superiores que comeram a grande hóstia das dívidas.

 

Eu dizia que o punk do juiz é uma total fraude, pois claro. Mas antes do punk, falemos do juiz futebolista que não se faz presente na tenda. O meritíssimo juiz disse que gostava de futebol, muito bem. Mas diversas vezes o vi com possibilidades de remates bem acertados, com bolas que podia levar ao peito, mas sempre reclamou que não tivesse provas e nem indícios para encher a tenda de golos e gritos. E o juiz, às vezes, baralha tudo, pois coloca-se como árbitro e indica a baliza em que se deve marcar e diversas vezes apita um fora-de-jogo quando os réus avançam com dribles de nomes na grande área. Haja paciência, senhor juiz. Se a tenda não tiver o relvado em condições, diga-nos; podemos pedir um tribunal em Marrocos.

 

Quem ainda não viu que o punk do juiz é uma total fraude? Quem já parou para julgar o punk do juiz? Um homem com punk sabe agir, sabe usar a calma para agigantar a justiça. Quem nunca viu os homens de punk manifestando-se na Europa, exigindo subsídios e colocando os governos entre a lâmina e o chicote? Senhor juiz, por favor, dê mínima dignidade ao teu punk. Curta o teu punk, mas por favor, não nos exija provas e indícios, aliás, a tua tarefa é julgar e não fazer recortes a alguns nomes dos processos. Deixa os recortes para os barbeiros. Se o senhor juiz levasse os processos todos ao salão, de certeza o barbeiro reclamaria muito dos cortes que tens feito aos processos e aos nomes.

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