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BCI
quinta-feira, 16 julho 2020 10:01

Intenções em tempos de resultados. Até quando?

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Um amigo, que de tanto  ouvir projectos e cifras de milhões de dólares americanos que circulavam nas habituais rondas de conversa  das sextas-feiras, entre um grupo de amigos,  decidiu levar uma máquina de calcular para uma dessas rondas. Chegado o dia e cada vez que um dos amigos vocifera os milhões de dólares ele apontava na máquina. Na hora do fecho da conta do bar,  ele fechou a das cifras milionárias: em três horas de conversava circularam na mesa perto de trezentos milhões de dólares americanos. Um valor tão alto, mas insuficiente para saldar a conta do  bar que  rondava os três mil meticais.  E mais uma vez, a  conta não fora saldada, adiando-a para um tempo incerto.  

 

O amigo contou-me a estória a propósito das visitas de auscultação feitas por governantes em início de funções e que mereceram atenção no meu  texto passado (Protocolo para o início de funções de governação. Existe?).  Estas visitas e as conversas das cifras milionárias não têm nenhuma diferença, pois  ambas pecam pelo excesso de  intenções  e na hora da verdade a lamentação de sempre: não há verba para tanto verbo. Agora imagine o meu amigo, o da máquina calculadora,  na comitiva  das visitas de auscultação e anúncio de intenções desse tipo de governantes. À estes lembrar de que os anos de governação não são para auscultações, são para realizações mesmo de que isso custe alguma cedência para a máxima de que “O político vive de promessas e fica com as remessas”. De toda maneira não há regra sem excepção, justificando assim a auscultação de determinado assunto e caso ela tenha sido planificada.  

 

Grosso modo, a fase de  auscultações e de promessas encerra na campanha eleitoral e a tomada de posse inaugura a de resultados ou, no mínimo,  de passos firmes nesse sentido. Exemplos disso, felizmente, existem e um deles vem da capital do país.  Quando foi do anúncio público municipal sobre a retirada voluntária   de vendedores informais de locais impróprios, em particular na baixa da cidade, o Município de Maputo, respondendo aos que reclamavam a intempestividade da medida,  defendeu que a decisão era o corolário de um processo de articulação e não o seu início. Possivelmente, suponho, que o início, pelo menos público,  tiver lugar com a campanha eleitoral,  o momento em que o actual edil da capital auscultara e prometera aos munícipes  “txunar” Maputo. Em menos  de um ano alguns resultados são visíveis. Alguns possam estar a dizer que a pandemia Covid-19  deu um empurrão no caso da venda informal. Óptimo. Até que faz algum sentido,  mas o empurrão só ajuda quem  de facto estiver preparado e no caso  para saldar a conta/promessa e não para adiá-la.   

 

Voltando aos governantes das boas intenções e nada acontecer, e mesmo a fechar, vai um pouco de frustração com a  fé: tinha tanta, mais tanta fé que por esta altura do ano, início  do segundo semestre, a conta das promessas eleitorais de 2019 começasse a ser saldada, mas, pelos vistos, está a aumentar, incluindo com a pressão da pandemia da Covid-19. O mesmo acontece  com a conta do bar da malta do meu amigo da calculadora: de tempos em tempos é pedida e o pagamento adiado. Isto até ao dia  em que  dono do bar disser: C'est fini!”.

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