Pretende-se com este artigo fazer uma análise superficial da situação desportiva em Moçambique. Como é sabido, em Moçambique às práticas desportivas (informais, formais, lazer e recreação), ultimamente têm vindo a crescer, pese embora os níveis de participação estejam longe dos desejáveis.
Moçambique na alta competição apresenta no pódio números pequenos em modalidades desportivas em competição mundial e, nas que alcançam esse estatuto, o número de atletas é igualmente reduzido (hóquei em patins e canoagem só pra citar). Os êxitos individuais em competições internacionais (Jogos Olímpicos, Mundiais ou Campeonatos Africanos), são devidos, na sua maioria, à “surpresas”, circunstancialmente emergentes de contextos particulares e normalmente não contínuos (só para fazer menção, no Atletismo já não ganhamos nada de “vulto” desde a retirada da atleta Lurdes Mutola), que não reflectem nem podem assegurar ao país um nível representativo estabilizado.
A situação desportiva é um dos conceitos-base da gestão do desporto que possibilita conhecer, analisar e compreender a realidade de um dado contexto desportivo e num determinado momento, feita através da identificação dos seus elementos desportivos, para-desportivos e extradesportivos, que servem de base para a tomada de decisão relativamente às políticas e projectos a implementar (Pires, 2007).
Existem muitos indicadores, só para elucidar, números de sócios, números de praticantes, números de modalidades praticadas, dirigentes, técnicos, orçamento e números de instalações desportivas. Dentre esses a oferta desportiva é o mais relevante indicador da sua situação desportiva e, o acesso a direito ao desporto não basta, é imprescindível a criação de condições materiais e de vários outros factores (condições materiais, dinâmica estrutural e relacional das entidades).
Neste caso, é imprescindível que a oferta desportiva em Moçambique para a população seja oferecido pelo governo, pelas organizações desportivas e o pelo sector empresarial, o que vai permitir na planificação dos serviços desportivos tendo em conta vários critérios e totalmente entregue ao mercado e a livre iniciativa, com um sistema regulador e de avaliação geral, diversificada e ao alcance de todos.
Em Moçambique, verifica-se uma marginalização por parte de muitas organizações desportivas dos escalões de formação. Se não prepararmos o futuro de amanhã, não poderemos sequer definir objectivos e trabalhar em prol desses mesmos. Na mesma senda, denota-se de forma generalizada pouca preocupação em cativar os atletas o mais cedo possível (escolas de formação), de modo a garantir uma continuidade na formação de atletas, os nossos atletas aparecem ao acaso, sem domínio de fundamentos técnicos e tácticos na maior parte deles.
Tal como se pode verificar, muitas organizações desportivas possuem ou movimentam apenas uma modalidade, não proporcionam a prática de nenhum tipo de modalidade ou exercício físico de carácter amador ou não-federado.
Muitas actividades desportivas não são praticadas de forma oficial na maior parte do país, muitas delas estão concentradas na capital do país, em cidades e vilas municipais, como é caso de hóquei em patins, canoagem, boxe, etc., e as não-federadas são muito difíceis de ser quantificadas.
Como é do conhecimento geral, a maior dificuldade centra-se na área financeira, o reduzido apoio e as desproporções existentes entre o futebol e as restantes modalidades. A maior fonte dos financiamentos provém de fundos públicos, uma parte quase insignificante do sector privado e, quase nada dos associados (através das quotas).
Pode-se salientar ainda que a maioria das organizações com instalações desportivas, foram herdadas da era colonial e em péssimas condições de manutenção e conservação. Recentemente, ficou-se a saber, através de diferentes órgãos de comunicação social, que o país não tem instalações desportivas com padrões aceites internacionalmente, caso concreto do futebol. A maior parte das organizações desportivas não possuem sedes próprias, pois ou é alugada ou é cedida, o que se revela como um enorme entrave ao desenvolvimento das organizações e do desporto no geral. As instalações desportivas ou a falta delas, continuam a ser uma das razões que têm condicionando o desenvolvimento desportivo sustentável. Como se não bastasse muitas delas não possuem escalões de formação, os dirigentes não possuem habilitações em gestão do desporto, números insignificantes de treinadores e técnicos desportivos com qualificações técnicas exigidas.
Portanto, olhando de forma superficial para a situação desportiva em Moçambique, permite-nos dizer, com algum a vontade que, o desporto nacional não tem um plano estratégico de desenvolvimento muito claro. Sendo assim, esta realidade permite-nos estabelecer alguns objectivos estratégicos para a sua melhoria, que passam por promover e desenvolver de forma sustentada, a prática de quase todas as modalidades desportivas em ambos sexos e escalões em quase toda a extensão territorial do país, promover o aumento significativo de praticantes, principalmente, nos escalões de formação, estimular e monitorizar o desenvolvimento técnico dos jogadores, garantindo as condições necessárias para o desenvolvimento da excelência desportiva nos vários escalões competitivos, adoptar programas de apoio financeiro aos clubes com projectos desportivos nos escalões de formação e incrementar competições para todos os escalões, de forma continuada e adequada ao nível competitivo.
Saudações desportivas!
Bernardino “Guy” Armindo, Julho 2020