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sexta-feira, 26 janeiro 2024 12:05

Sou a Zena Bacar, vossa sombra em dias de canícula

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Mas o que retornou ao pó de onde veio é a minha carne, não sou eu. Eu continuo viva em espírito, levitando nos mesmos palcos que fizeram de mim a parte pequena da luz do universo. Estou nesses escaparates em silêncio, sem dizer nada, mantendo porém  o entusiasmo e a euforia dos tempos em que, como uma das pétalas do Eyuphuru, esvoaçava com alegria, usando a minha voz de passarinha matinal. Não me canso de agradecer aos briosos rapazes macuas que me encontraram na rua sem direcção e disseram, Zena, venha connosco!

 

Vivi os momentos mais felizes da minha vida, amalgamada numa banda alimentada por búzios de Muhipiti, parecia eu o motor, mas não, o motor era o próprio Eyuphuru, então esses rapazes eram a minha catapulta, sem eles jamais seria alguma coisa.

 

Recordo-me ainda das actuações inolvidáveis que fizemos no Mundo, com batuques e violas acústicas, aplaudidos sem parar pelas massas populares que vinham até nós, de vários cantos, atraídos pela nossa perfomance e pela voz do Gimo e da minha também. O Eyuphuru colocava-me como a estrela deles, são eles que me davam a luz, como o sol que faz isso à lua. Na verdade a luz que acendia em mim não era minha.

 

Hoje estou aqui de novo para agradecer ao Eyuphuru, não me canso, é por isso que sou feliz. Quando eles vão aos palcos, agora que sou uma galaxina, vou também e fico em silêncio ouvindo tudo e no fim do espectáculo recuso-me a ir com eles  aos camarins, desço ao chão da plateia onde me junto ao mar de gente e ovaciono juntamente com aqueles que sempre nos aplaudiram. E como tenho esta possibilidade, aclamo também o Gimo Remane lá longe.

 

Sou eu, a vossa paixão, que um dia teve o privilégio de ser um poço elegido, ao mesmo tempo uma passarinha, como é bom! Afinal o meu corpo não passava de uma carcaça onde minha alma morava! Mas passei toda a vida cuidando dessa carne agora putrefatacta e tornada banquete dos vermes, com banhos diários e perfumes e batons e cremes,  para que houvesse nela o brilho. Porém isso não me entristece, sem o corpo que me acolhia, não teria sido conhecida por vós.

 

Agora estou aqui em cima ouvindo música sem fim, e cantando também em coros transcendentais no seio dos meus antepassados e dos anjos anunciados. Os movimentos que aqui se fazem são comandados pelas harpas e cítaras e solfejos. E tudo isso faz-me lembrar os tempos áureos do Eyuphuru, é por isso que vim hoje para dizer Ochukuru!

Sir Motors

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