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domingo, 19 novembro 2023 19:10

Temos matrecos dentro e fora dos campos! Quem é culpado?

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No nosso desporto, muitos erros, quais “grãozinhos de areia”, foram sendo cometidos e que, somados, acabaram não “parindo” a montanha que o talento desde sempre demonstrado, justificaria.
 
Falemos do futebol, onde o nosso produto não se compara ao dos tempos de Eusébio, Coluna e outros, em quantidade e qualidade. Um ou outro triunfo, porque esporádico, não nos deve adormecer. Daí que, ao contrário do que nos é proporcionado a partir de outros quadrantes, teremos mesmo que nos (re)descobrir.
 
PESADELO DE GANHAR UM CAMPEONATO
 
Ganhar um Campenato Nacional ou a Taça, entre nós, ao contrário do que acontece na maioria dos países, traz consigo um verdadeiro pesadelo: o da participação nas provas africanas. Enquanto os adeptos da equipa festejam, o presidente e o tesoureiro desdobram-se em contactos para conseguir apoios e vão rezando para que lhes saia no sorteio um adversário aqui à mão, de preferência Eswatine, África do Sul ou Zimbabwe, para realizarem a deslocação de automóvel. Mas mesmo assim, o pesadelo é sempre grande, pois as receitas são ínfimas comparadas com as despesas, em moeda externa, para pagar a árbitros e comissários, depauperando as magras economias do clube. Ao contrário do que acontece na Europa, em que a passagem de duas eliminatórias nas provas internacionais pode render mais do que a receita de um campeonato, por cá é exactamente o inverso.
 
Pode pensar-se em progresso, perante este quadro?
 
Longe da vista, perto do coração. É a verdade. Em dia de jogo/grande do Campeonato português, os moçambicanos vibram. A “química” da colonização não passou, particularmente no futebol e, ao que tudo indica, tende a aumentar. Estamos a falar da paixão, numa auto-estrada que só tem um sentido.
 
E é assim que nossos Ministros, Directores nacionais, juristas e até jornalistas - desportivos ou não – param tudo em dia de ‘derby-tuga” para vibrar. Muitos deles, nas deslocações a Portugal, é vê-los a exibirem as camisolas nos Estádios da Luz ou Alvalade, sem nunca conhecerem ou terem pisado os recintos locais do Costa do Sol ou Black Bulls. Nas prendas para os aniversários de familiares ou amigos, é impensável oferecer a camisola de um clube nacional, ao invés de a de um grande europeu.
Assim sendo, teremos moral para culpar as nossas instituições desportivas de não funcionarem, as empresas por não patrocinarem – porque dificilmente terão retorno - quando o “produto” não é por nós próprios consumido e estimulado, pelo estatuto de “matrequice” que lhe atribuímos? Vivi, vi e agora sinto-me mal, quando vejo, por exemplo, o futebol tanzaniano, com os campos a abarrotar de assistentes, sem que isso represente que as suas estrelas estão muito longe do nível das nossas...
 
A quem devemos culpar?
 
Citando Mia Couto: “nós, moçambicanos, conseguimos encontrar culpados em todos... menos em nós próprios”.

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