Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

quinta-feira, 12 outubro 2023 18:00

Frelimo deve fazer uma introspecção!

Escrito por

Adelino Buqueeeee min

“Meu irmão Gustavo Mavie! O Povo não é ingrato com a Frelimo, o Povo sabe e agradece pela acção de libertação, por isso todos os dias celebra Samora Moisés Machel. Os jovens, que não viveram a euforia da independência nacional, celebram Samora Moisés Machel. Então, o que estará errado na vida política nacional? Certamente, não são os jovens desempregados que pululam nas ruas das capitais provinciais, não são eles que estão errados. Provavelmente, o errado é estarem nessa condição de desempregados e, muitas vezes, sem perspectivas do futuro. A questão é: que solução a governação da Frelimo traz para estes jovens? Diz o Slogan da TV Miramar que “o Futuro é agora” e eles querem saber hoje que futuro lhes espera, na perspectiva de que não deve ser a médio e longo prazo. A Frelimo obriga-se a uma introspecção urgente!”

AB

“Só com base nesta história é que já dá para compreender os que agora detestam a FRELIMO, não obstante tenha liderado a libertação do nosso país e proclamado a nossa independência assim como criado o Estado que temos desde 1975, e morram de amores por aquelas formações políticas que nunca fizeram nada de bom e prestadio para este país, senão o ter destruído durante 16 anos, contados entre 1977 a 1992 e entre 2013 a 2016. Mais do que o terem destruído, tais partidos por quem agora morrem de amores, matavam-nos cruelmente e impediam-nos de circular pelo nosso país.”

In Gustavo Mavie, SE OS PARTIDOS FOSSEM COMO PESSOAS, ENTÃO A MAIORIA DOS POVOS OCIDENTAIS ERAM POLÍGAMOS E NÓS MOÇAMBICANOS PODEREMOS VIR A SER TAMBÉM UM DIA POLITICAMENTE POLÍGAMOS, 10 de Outubro de 2023.

As eleições Autárquicas de 11 de Outubro de 2023 foram realizadas e, ao que tudo indica, foram livres, ordeiras e transparentes, pese embora, se reportem casos de violação da Lei em algumas Autarquias. No cômputo geral, estas eleições devem orgulhar-nos como sociedade e como País que entra para a consolidação da sua democracia multipartidária. Dizer que as eleições foram livres, ordeiras e transparentes não significa que não tenha havido, aqui e acolá, problemas por resolver, nada disso.

Faco esta reflexão, reiterando que, hoje, existem valores de grande utilidade, mas que não devem contar para uma campanha eleitoral. Escrevi e publiquei noutra reflexão, mas, devido à persistência do meu irmão Gustavo Mavie, volto ao assunto e, na minha opinião, o que não deve ser assunto para a campanha eleitoral de hora em diante é:

 

1)    O atraso no desenvolvimento nacional atribuído ao Colonialismo Português;

2)    O atraso atribuído à Guerra dos 16 anos entre a Renamo e o Governo de Moçambique;

3)    Baixo nível de escolaridade e de saúde atribuído à falta de recursos.

Quando o meu irmão Gustavo Mavie evoca a libertação de Moçambique, certamente, não deve perder de vista que muitos concidadãos, que participaram na Luta de Libertação Nacional, ainda não têm pensões fixadas hoje, passados 48 anos de independência. Sabe o que isso poderá significar a esses combatentes? Creio que sequer imagina, mas esses mesmos combatentes cruzam ou vêem, através dos órgãos de comunicação social, seus antigos colegas a esbanjarem felicidade e bem-estar publicamente, em nome desse passado colectivo. Mas o mais grave é não saber ou não entender que o votante de hoje não é aquele cidadão grato pela independência nacional. O votante de hoje é outro.

 

O votante de hoje é o jovem que, devido à independência, conseguiu estudar e formou-se, quer seja ao nível da Universidade ou no ensino médio, mas vive na rua vendendo crédito das telefonias móveis como a TMcel, Vodacom e outras, vende energia ou roupa de segunda mão ou outras quinquilharias que encontra no mercado e anda quilómetros a pé vendendo isso. Esse é o votante de hoje e é esse que determina quem irá governar hoje e amanhã, por isso, na minha opinião, não vale a pena agarrar-se ao passado libertário para exigir o reconhecimento por alguém que sequer viu o colono em Moçambique.

 

Falar da guerra dos 16 anos é bom para o conhecimento da História, no entanto, não é bastante para convencer um eleitorado que anda pelos 18 a 30 anos, porque, pura e simplesmente, não conheceu essa Guerra. Para muitos, essa guerra é fruto da “Frelimo querer governar sozinha e do Monopartidarismo em Moçambique”, pese embora haja muito que se diga sobre a mesma. No entanto, teria de juntar muita juventude e durante muito tempo para explicar e colher alguma compreensão sobre o assunto, o que não me parece tarefa fácil num sistema como o nosso, pois os outros também têm a sua versão sobre o mesmo assunto.

 

Definitivamente, na minha opinião, a Frelimo deve fazer uma introspecção, deve reflectir profundamente sobre o que não fez para que a sociedade esteja de costas viradas com ela. É importante que pessoas isentas e sem complexos, capazes de ouvir coisas que até podem não gostar, intervenham, de modo a pensar na estratégia para a mudança, uma mudança efectiva da sociedade rumo à prosperidade. Como diz o Slogan da TV Miramar: “o Futuro é agora”. Então, não vale pensar que poderá prometer a uma pessoa com fome a refeição de amanhã. Ela quer hoje, agora, para já! A Frelimo precisa de mudar a qualidade de promessas que faz, as suas promessas devem materializar-se e apresentar provas disso, de contrário, continuará a falar-se mal de uma juventude com carência de tudo e que vê na oposição a solução para os seus problemas.

 

As eleições Autárquicas de 11 de Outubro passaram para a história, mas vêm aí outras eleições para breve e devo recordar que é para o ano. Ora, estamos a dois meses de chegar para esse ano eleitoral e, mais do que chorar sob o leite derramado, a Frelimo deve reflectir, colocar os seus “MADODAS” a pensarem Moçambique e suas gentes e, sobretudo, como sair desta impopularidade em que se encontra. Definitivamente, deixemos de chamar o povo de ingrato!

Adelino Buque

Sir Motors

Ler 1938 vezes