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terça-feira, 11 julho 2023 06:35

Autárquicas de 2023: Deixemos o povo governar-se!

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“Nas eleições autárquicas, a opção deve ser pelos melhores, independentemente da sua filiação partidária, se o melhor cabeça-de-lista é da Renamo, não importa que eu seja da Frelimo, a bem do meu Município, devo votar naquele, se o melhor é da Frelimo e eu sou da Renamo idem. Está em causa a governação local, do meu bairro, minha autarquia, conheço as pessoas nele residentes e sei quem pode trazer solução para os problemas. Se os partidos políticos não propõem pessoas que nos convençam, como residentes, podemos nos organizar para nos candidatarmos para a liderança do nosso Município. Deve se dar primazia à decisão dos governados sem amarras políticas.”

 

AB

 

Como princípio consagrado, regra geral, quando falamos das eleições das Autarquias Locais, estamos a dizer que as pessoas escolhem, de entre si, aqueles que são os melhores para a Governação Local. É verdade que, segundo o nosso sistema de organização, os partidos políticos têm o privilégio de indicar candidatos, mas nada obsta que grupos de cidadãos se organizem para perseguirem esse interesse. Se os residentes de uma determinada Autarquia fossem bem organizados, até poderiam dar uma “boa lição” aos partidos políticos e não alinharem com o “nepotismo, amiguismo” na indicação do candidato.

 

Essa “boa lição” dá-se através da orientação do voto. É preciso notar que uma coisa é eleger alguém para a Assembleia Nacional e outra, bem diferente, é eleger alguém que vai dirigir o meu bairro, o meu quarteirão e as nossas dez casas. Essas pessoas são nossos vizinhos, vivem connosco e possuem mesmos problemas que todos nós. A questão é de olhar para o vizinho e/ou amigo e dizer “tudo bem, você avança para nos ajudar a resolver este e outro problema que nos afecta e te afecta também”. Aqui, caros compatriotas, a mensagem partidária não deve ser aquela que orienta o voto, se não aquilo que é a sensibilidade e conhecimento de cada um sobre os problemas do Município.

 

Se o seu partido X ou Y escolheu alguém que à partida sabe-se que não é capaz de levar o barco a bom porto, então, porque votar nele! Ainda que seja do seu partido? É que, ao agir assim, estarás a perpetuar os problemas locais e, quando se der conta, será tarde de mais para a reversão dos problemas. Sejamos objectivos e esclarecidos sobre o que queremos para as nossas autarquias. Não nos devemos deixar influenciar pela nossa filiação partidária, salvo se pudermos influenciar o partido a indicar aquele que para nos é o melhor dos melhores.

 

Na curta vivência que tive com o falecido António Simbine, Ex-Primeiro Secretário da Cidade de Maputo, ele dizia: “olha Buque, se a Frelimo teve problemas de Quadros entre 1975 a 1990, esse problema já não se coloca, o grande problema da Frelimo hoje é gerir Quadros pela quantidade e qualidade que tem” cito de memória. Para dizer que existem muitos Quadros nos Municípios com quem, por várias razões, os partidos não contam, mesmo por questões de gestão. São muitos, mas se o Município acha que aquele Quadro que foi preterido pelo partido é o melhor, porque não se organizar para candidata-lo!

 

Eu sei que a experiência não é boa e não abona a pessoas filiadas na Frelimo a ousar nisso. O exemplo vem da tentativa de candidatura do Samora Moisés Machel Júnior pelo PODEMOS, mas temos que ter fé. É importante mostrar ao partido que está a preterir os melhores Quadros em determinadas ocasiões e isso não significa, de forma alguma, estar contra o seu partido do “coração”. Nestas eleições autárquicas de 2023, parece-me que a sociedade civil está parcialmente “domada”, não aparece e nem sequer se sabe do seu pensamento nas diferentes Cidades e ou Vilas Autarcizadas. Dirão que foram impedidos, o tempo não espera!

 

Mulheres pouco visíveis a cabeça-de-lista!

 

Aqui, subscrevo a opinião da minha amiga Ana Maria Albino, quando diz: “as mulheres são a maioria neste país, mas são poucas as caras que aparecem como cabeças-de-lista”. É verdade, é preciso desmistificar isto e válido para todos os partidos políticos. As caras femininas são cada vez mais raras, mas as próprias mulheres são campeãs em “combaterem-se”, o que não abona em nada para a sua ascensão política de uma forma geral. Aqui, também, seria de aconselhar que as mulheres se fizessem ouvir nos seus partidos políticos e ou que se façam ouvir através das organizações locais para “atacarem” o poder.

 

A minha reflexão acima não deve deixar o partido Renamo e MDM sossegados, até porque, na minha opinião, estes dois partidos com assento parlamentar são os piores quando se trata de indicação de pessoas para lugares de destaque. Tanto na Renamo como no MDM existem pessoas sem nenhum histórico de militância político-partidário que chegam e ocupam lugares de destaque em detrimento dos que militam faz muito tempo. E para agravar a situação, nestes dois partidos não se fazem eleições sequer, é tudo ao “gosto” do chefe, isto, também, não nos levará a nenhum lugar.

 

Por isso repito, no seu Município, se a Frelimo acertou no candidato, se estás filiado à Renamo ou MDM, mas sabes que o candidato da Frelimo é o melhor no Município junte-se a ele, o mesmo pensamento é válido para quem é membro da Frelimo ou MDM, se o melhor candidato para o seu Município foi indicado pela Renamo, junte-se a ele e vote nele, MDM idem. O que pode piorar esta forma de eleição é o modelo de cabeça-de-lista, pois não permite que o seu partido esteja devidamente representado. Mas quem decidiu assim? Alguma vez te ouviram para a tomada dessa importante decisão no quadro eleitoral! Nada.

 

Adelino Buque

Sir Motors

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