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quarta-feira, 10 maio 2023 07:09

Ainda sobre Gorowane - Alambique - Eyuphuru - Kapa Dêch

Escrito por

AlexandreChauqueNova

As quatro bandas já não são as mesmas, jamais voltarão ser. Surgiram do ponto mais alto da música, de onde não haverá mais montanha para subir, ou seja, depois do topo só existe o cosmos e na verdade eles gravitavam no espaço pós-atmosférico. São conjuntos mundiais cujo suporte que tinham, era a própria música que lhes catapultava aos palcos a partir de onde, feitos comportas, abriam-se como os astros que vão dar luz às massas que não se cansavam de os seguir.

 

Era a crença, mais do que a fé, que movia os seus propósitos. Tudo aquilo, a avalanche das músicas que ofereciam em grandes espectáculos com as pessoas em delírio, se calhar era uma utopia. Nenhum deles tinha ido frequentar as grandes escolas de música e o que faziam nem parecia empírico, mas convocava os estudiosos dos conservatórios.

 

Moçambique tinha representantes dos quais se vai orgulhar por todo o sempre. Os fervorosos aplausos em cada espectáculo era o testemunho disso, eram muito fortes as ondas, tão fortes que inesperadamente começaram a soçobrar com a morte de Pedro Langa e depois de Zeca Alage, fazendo com que o Gorowane tremesse nas bases, deixando Roberto Chitsondzo a lutar como pode para não deixar derrubar esse baluarte. Mas a mesma luta, sem ser inglória, só pode nos trazer as memórias de um tempo de glória.

 

Alambique esvaziou-se num momento em que ressurgia, alimentando-nos a esperança de voltar a ver nas praças e nos anfiteatros,  um conjunto musical de elite. Antes eram auto-didactas, tocando música de fina estirpe e, agora que foram à escola, ansiávamos ouvir deles “outras coisas”, porém a morte estragou tudo. Levou, da mesma forma como o fez no Gorowane, duas pedras angulares, Hortêncio Langa e Adérito Gomate, deixando Arão Lithsuri desamparado, mesmo assim podendo continuar noutra jangada, conhecidas que são os seus atributos.

 

Eyuphuru é uma palavra emakwa que significa remoínho. E não temos dúvidas de que eles eram de facto esse vento em rodopio. Mas também como é que a banda podia durar se a vigência dos remoínhos é de pouco mandato? Saíu Gimo Remane para outras terras, ficando Zena Bacar que depois de algum tempo perdeu a vida. Em combate. Então a caminhada do grupo estava comprometida, e hoje o que nos consola é a memória de um vento que soprou à volta do seu próprio eixo ao mais alto nível.

 

Apesar de todos eles serem bons, mas o Kapa Dêch era conhecido por esses dois, Tony Django e Riberto Isaías. Com eles é que fazia sentido a catadupa inteira. A sua categoria foi demonstrada logo no primeiro album, Kathume, feito de cristais. Depois veio o desfiar de um manancial pensado e ponderado, num rio abundante que podia ter ainda muito leito a seguir. Porém, durante o percurso caíu o Tony no cume, onde a sua alma levita. Roberto vai se lembrar sempre dos momentos em que os dois, ele e o Tony, eram as estrelas que seriam celebradas em qualquer parte do mundo.

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