“Sem mudança estrutural do Sector Agrário, o País dificilmente reduzirá consideravelmente os níveis de pobreza, insegurança alimentar e nutricional e aumentará a competitividade do Sector Agrário. O PEDSA II promoverá a transformação acelerada do Sector Agrário através do seu crescimento rápido, competitivo, inclusivo e sustentável”
In Sumário Executivo do PEDSA II
Proponho-me a uma parcial reflexão sobre o PEDSA II, lançado pelo Chefe do Estado Moçambicano, Filipe Jacinto Nyusi, aquando do lançamento da Campanha Agrícola, 2022/23 na província nortenha de Cabo-Delgado, extremo norte de Moçambique. O meu interesse na análise deste documento tem que ver com o facto de Moçambique ter desenhado, desde 1998, planos estratégicos para alavancar a agricultura e quer me parecer que os sucessos não são tangíveis!
Refiro-me ao PROAGRI I e II, Revolução verde, PEDSA I e agora o PEDSA II. A questão que se coloca é: o que de errado terá acontecido com os anteriores programas e o que o PEDSA II contém capaz de superar os anteriores programas do sector Agrário de Moçambique. Compreendendo que este sector compreende subsectores, como sejam: Agrícola, Pecuária, Pescas e Florestas, irei tentar olhar de forma breve a cada subsector e analisar possíveis constrangimentos.
Desde já, preciso congratular o Governo de Moçambique e os quadros que produziram este documento, ao reconhecerem que “sem mudança estrutural do Sector Agrário, o País dificilmente reduzirá consideravelmente os níveis de pobreza”. Este reconhecimento em si é o prenúncio de que o diagnóstico sobre o que falha está identificado e, de acordo com estatísticas nacionais, mais de 80% da população moçambicana vive de agricultura e Pesca, vamos fazer um olhar por subsector:
Subsector Agrícola
Este é o subsector chave, na minha opinião, que pode alavancar todo o Sector Agrário e digo porquê! Primeiro, ele combate a desnutrição crónica, mas, atenção, a desnutrição crónica não é exclusiva de falta de alimentos, as populações até podem produzir e não saberem fazer o uso correcto desses alimentos, por isso, neste subsector, exige-se intervenção de outros sectores da sociedade. No entanto, produzir para combater a desnutrição crónica em si seria um grande avanço porque Moçambique poderia dispor de uma população sadia.
Por outro lado, este sector pode ajudar, de forma significativa, a combater a pobreza em Moçambique, se considerarmos que somos um País rural praticamente e com um grande potencial agrícola, com terra arável, água dos rios e outros recursos naturais. Acresce-se mais um dado importante: a nossa população é jovem, ou seja, temos mais gente com capacidade de produzir do que ociosa. Mas, então, porque não produzimos!? Coloca-se a questão.
Desde que ascendemos a independência nacional, em 1975, Moçambique tem estado a ser Governado por um único Partido político. Por aí, não se pode atribuir erros interpartidários, a existirem erros de políticas agrárias, esses devem ser assacados à Frelimo. No entanto, é preciso ressalvar que, entre 1975 a 1984, Moçambique atingiu níveis de produção recorde que, mesmo no tempo colonial se tinham atingido, mercê de um engajamento revolucionário das pessoas, numa altura em que havia poucos técnicos em vários sectores, incluindo agrícola.
Estou a ver o meu amigo e leitor a antecipar-me, dizendo, agora a culpa é da Renamo. Nada disso, na minha análise, a Renamo não pode ser obstáculo ao sucesso agrário, mesmo porque, depois dos acordos de Roma, o País estava paupérrimo e em pouco tempo deixou de depender de ajuda externa. Na minha opinião, existem políticas pouco assertivas no que se refere à Terra, pode não parecer, mas julgo que sim, aqui existe e reside o obstáculo ao desenvolvimento agrário em Moçambique.
Sou solidário com o princípio de que a Terra pertence ao Estado e não pode de qualquer forma ser alienada e nem penhorada. Mas essa não é a questão de fundo, a grande questão de fundo é o facto de a terra estar nas mãos de gente que nunca pegou enxada e não possui perspectiva de o fazer a médio prazo. O grande erro está no facto de a Terra estar nas mãos de gente que, mesmo reconhecendo que o País não desenvolve no sector, mantém a Terra em Poisio forçado e não a libertam para produzir e, como cúmplice, um Governo que não consegue aplicar a letra a Lei de Terras que, na minha opinião, tem tudo para dar certo.
Por exemplo, existe o perigo de no vizinho ocorrer conflitos resultantes da ocupação de Terra, mas Moçambique não apresenta uma atractividade para uso e aproveitamento da sua terra por estes, refiro-me à África do Sul. Quando cá estiveram, foram colocados no Niassa, onde a população “procura-se” com a província de Maputo com terra a “dar com o pau” e uma população desempregada e esfomeada entregue a sua sorte, será que não vimos isso!
Subsector de Pecuária
Este subsector é muito importante e, na minha opinião, já começa a dar frutos, não fruto de políticas do Governo, mas fruto da consciência das pessoas de que devem produzir para seu sustento. A Pecuária está a produzir carnes e Leite de forma bastante considerável nos últimos dez anos do que antes e são muitas as pessoas que investem na pecuária, com realce no Gado Bovino, Avícola, Suinícola e outros. Há dias fiz uma reflexão sobre o engajamento da Juventude das províncias de Maputo e Gaza na produção avícola, frangos e patos, não se trata de ensaio, há carne de frango e de patos que baste em área metropolitana de Maputo.
As províncias de Gaza e de Maputo, no Sul de Moçambique, competem na produção Bovina. O Distrito de MAGUDE, por exemplo, hastea a bandeira de Feiras de Carne Bovina, de Namaacha de Frango, Chókwè de Bovino e assim se desenvolve o país. Os actuais níveis de produção agrário também ajudam na produção animal, a produção de ração, por exemplo, faz-se a partir de milho de Manica e outras províncias do centro e norte de Moçambique.
Por tudo isto, os sectores ou subsectores de Agricultura e Pecuária estão em bom momento e o PEDSA II tem tudo para dar certo. No entanto, na próxima reflexão, proponho-me a fazer uma análise nas restantes áreas, incluindo de maquinaria agrária!
Adelino Buque