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terça-feira, 26 abril 2022 08:49

Tornei-me um alfarrabista

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Ouvi, durante o noticiário da Rádio Moçambique, no passado dia 23 deste Abril, que hoje –referindo-se ao tal 23 -  comemora-se o Dia Mundial do Livro, e eu não tinha a data em mente. Até porque as efemérides não comandam muito o meu cosmos, que não é feito pelas amarras do calendário, mas pela vontade inabalável de viver, ou de continuar a viver. É o vigor que tenho tentado manter dentro de mim, a gazua do meu horizonte. Então encolhi os ombros, tentando pensar em outras coisas enquanto continuava a escutar a Rádio,

 

Nunca fui um grande leitor, se calhar seja por isso que na minha estante há livros que jamais os toquei por considerar que não levam o fascínio no título, mas, se efectivamente eu fosse um devorador da escrita, teria-me embrenhado pelo menos nas primeiras páginas para sentir o cheiro que as obras trazem. Até porque o conteúdo pode não ter nada a ver com a chamada na capa.

 

Seja como for, estou a ler o livro  cujo título é “A minha vida com Osama Bin Laden”, que na verdade é uma história contada pela mulher e o filho de Bin Laden. Um calhamaço de mais de 400 páginas, cujo enredo penetra em labirintos da morte, ou seja, este homem nascido na Arábia Sauditam, abdicou da vida faustosa que tinha, para viver nas motanhas. De Pedra. No Agfagnistão. Defendendo aquilo que ele sempre acreditou ser uma missão. Uma causa.

 

Mas eu não quero falar da história deste livro emprestado por um amigo grande leitor. É sim, para lembrar simplesmente a importância de alguma vez ter lido qualquer coisa, como fazia nos meus tempos de adolescência, quando trocávamos com entusiasmo, eu e os meus amigos, os pequenos romances “Seis balas”, e outros ainda – policiais – que nos contavam histórias imaginárias do FBI. Se calhar foi esse grande estímulo que me trouxe a este meio em que já não posso viver sem o livro.

 

Na minha cidade não existe uma única livraria, não há um lugar onde possamos comprar um livro. Eu próprio tornei-me alfarrabista por não haver por aqui uma casa especializada para o efeito. Por isso levei o meu último livro  debaixo do braço– Mathxinguiribwa, publicado em 2020 – e andei com ele pelos restaurantes e pelas ruas com o fim de vendê-lo, É uma coisa nova fazer isso em Inhambane – provavelmente – e as pessoas compravam. Avidamente. Muitos porque conhecem-me, outros porque ouviram falar de mim na ocasião e viram muitos a adquirir a minha obra como um produto de primeira necessidade. 

 

No passado dia 23 de Abril lembrei-me desse feito, em que eu vestia a pele de um alfarrabista. Isso permanecerá na memória por muito tempo, não só porque andei a vender os meus próprios livros, escritos por mim, nas ruas e restaurantes, mas porque foram todos comprados. Outros poucos interessados levaram a vale e até hoje, passado mais de um ano, ainda não pagaram. Porém, isso não importa, eu sou superior ao dinheiro. Basta-me que leiam.

Sir Motors

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