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terça-feira, 09 agosto 2022 06:22

Quenianos elegem futuro presidente em eleições incertas

Quenia eleções min

Os quenianos já iniciaram a eleição do sucessor do presidente Uhuru Kenyatta, há dez anos no poder, numa disputa renhida entre o vice-presidente, William Ruto, e o líder histórico da oposição, Raila Odinga, apoiado pelo chefe de Estado cessante. Previa-se que as 46.229 mesas de voto abrissem esta terça-feira entre as 6:00 horas locais (5:00 horas de Maputo) e as 17:00 para atender um universo de 22,1 milhões de eleitores.

 

Em causa está a escolha do Presidente queniano para os próximos cinco anos bem como os deputados ao parlamento, os governadores e cerca de 1.500 vereadores.

 

Dos quatro candidatos à corrida, dois dominam as intenções de voto: Raila Odinga, 77 anos, concorre pela quinta vez, e o actual vice-presidente, William Ruto, 55 anos. Vice-presidente desde a eleição de Uhuru Kenyatta em 2013, Ruto foi prometido pelo chefe de Estado cessante que iria ser em 2022 o candidato do partido presidencial.

 

A aproximação inesperada em 2018 entre Kenyatta e Odinga tornou claro que Kenyatta não iria cumprir a promessa e Ruto constituiu o seu próprio partido, assumindo-se desde então como candidato alternativo ao poder, e opositor ao mesmo, apesar de manter o cargo.

 

Os dois principais candidatos concentraram-se ao longo da campanha nas questões domésticas, e pouco ou nada se sabe sobre como vão dar seguimento aos esforços diplomáticos de Kenyatta para atenuar as tensões na vizinha Etiópia ou as disputas entre o Ruanda e a República Democrática do Congo (RDC). O Quénia é a maior economia da África Oriental, com uma população de cerca de 56 milhões de pessoas, 22,1 milhões das quais inscritas para votar esta terça-feira.

 

O país tem uma história recente de eleições turbulentas. As eleições presidenciais anteriores, em 2017, ficaram na história do país e do continente africano por terem sido anuladas pelo Supremo Tribunal queniano, que rejeitou os resultados e ordenou uma nova votação, no que foi uma estreia absoluta em África. Enquanto se aguardava a segunda votação, o país foi abalado por protestos da oposição, que foram duramente reprimidos pela polícia. A violência saldou-se por dezenas de mortos.

 

Dez anos antes, a crise pós-eleitoral de 2007-2008 fez mais 1.100 mortos e provocou a deslocação de centenas de milhares de pessoas, em fuga a confrontos étnicos, deixando uma ferida profunda na história do Quénia independente, que ainda não está inteiramente fechada.

 

No seu discurso de encerramento de campanha este sábado, Odinga deixou claro aos milhares de manifestantes que se juntaram num estádio em Nairobi: "Quero que saibam que nós, como país, estamos num ponto de inflexão. Ou algo muito bom vai acontecer ou algo terrível vai acontecer", afirmou, jurando apertar a mão dos seus "rivais", quer ganhe ou perca.

 

Noutro estádio não muito distante na capital queniana, Ruto afirmou no mesmo dia que "respeitará a decisão do povo do Quénia" e não aceitará a violência nem participará em nada que prejudique a Constituição do país.

 

Não obstante esta sombra, o Quénia destaca-se pela relativa estabilidade numa região onde algumas eleições são profundamente contestadas e líderes de longa data como o Presidente ruandês Paul Kagame e o Presidente ugandês Yoweri Museveni foram declarados vencedores com quase 99% dos votos, assim como acusados de esmagar fisicamente os concorrentes.

 

Despesas de campanha e doações são um mistério no país e estima-se que alguns candidatos ao parlamento e à administração local estejam a gastar centenas de milhares de dólares para obter acesso ao poder e aos seus benefícios, tanto legais como ilegais.

 

William Ruto, um multimilionário de 55 anos, promoveu-se junto dos jovens e dos pobres como um "fura-vidas", cujo começo como um humilde vendedor de galinhas contrasta com os berços de ouro em que os dois membros da elite queniana, Kenyatta e Odinga, nasceram.

 

Ruto fez da produtividade agrícola e da inclusão financeira duas das principais bandeiras de campanha. A agricultura é um dos principais motores da economia do Quénia, que absorve cerca de 70% da força de trabalho do país.

 

No seu discurso de encerramento de campanha este sábado, prometeu que, se for eleito, o seu governo empregará 200 mil milhões de xelins (1,64 mil milhões de euros ou 1,68 mil milhões de dólares) por ano para aumentar as oportunidades de emprego, um compromisso dirigido sobretudo a mais de um terço dos jovens desempregados do país.

 

Já Odinga, de 77 anos, histórico opositor de Kenyatta e famoso por ter sido preso há décadas, enquanto lutava pela democracia multipartidária no país, prometeu apoios em dinheiro aos mais pobres e cuidados de saúde mais acessíveis a todos. No seu discurso de encerramento de campanha, também no sábado, disse que, se fosse eleito, o seu governo entregará às famílias quenianas que vivem abaixo do limite da pobreza uma subvenção de 6.000 xelins (50,3 dólares ou 49,35 euros).

 

Odinga e Ruto são dados como candidatos certos à presidência desde quase o início do segundo mandato de Kenyatta, mas a apatia entre a população, especialmente entre a mais jovem, num país onde a idade média é de cerca de 20 anos, nunca parou de crescer.

 

O número de eleitores novos inscritos pela comissão eleitoral queniana para estas eleições é menos de metade dos previstos, apenas 2,5 milhões.

 

As questões dominantes em sucessivas eleições têm passado pela corrupção generalizada e pela economia, sendo que, neste particular, os quenianos como o mundo inteiro, mas os países africanos de forma mais dramática, estão a ser fortemente afectados pelo aumento dos preços dos alimentos e do combustível, em resultado da guerra na Ucrânia, e dos estragos provocados na economia pela pandemia de covid-19 num país que depende crucialmente do turismo.

 

Os resultados oficiais serão anunciados no prazo de uma semana após a votação. Para ganhar a primeira volta, o candidato mais votado precisa de mais de metade dos votos escrutinados e, pelo menos, de 25% dos votos em mais de metade dos 47 círculos eleitorais do Quénia. As sondagens apontam, no entanto, para uma segunda volta, a decorrer no prazo de 30 dias. (Carta)

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