Ayuba César Saíde, um jovem militar de 21 anos, natural da cidade de Quelimane, que desde 2018 estava a receber instrução em Montepuez, Cabo Delgado, desapareceu dos radares da família de uma forma quase misteriosa. Faltando apenas um ano para Saíde concluir o tempo de serviço militar, ele foi enviado para uma missão em Macomia, mas viria a perder a vida juntamente com outros três soldados. Os quatro foram alegadamente sepultados numa vala comum.
Numa entrevista à “Carta”, um parente de Ayuba Saíde revelou que ele e os colegas tinham sido enviados para Macomia, integrados numa das 46 brigadas militares destacadas para proteger aquele distrito, que é palco de ataques insurgentes. Numa emboscada a uma coluna militar, os quatro morreram.
Mas, ao invés de informar assertivamente às famílias, os Comandos militar dos distritos de Montepuez e Macomia recorreram a uma mentira para justificar a morte de Saíde e seus colegas, que foram enterrados sem conhecimento dos parentes. Durante semanas, foi comunicado às famílias que os quatro jovens militares haviam perdido a vida num passeio de motorizada. Sempre que os parentes tentassem saber do seu paradeiro, recebiam informações desconexas.
No dia 22 deste Janeiro, parentes de Ayuba Cesar Saíde e seus colegas, preocupados com o seu estranho silêncio, e porque por telefone não obtinham resposta, deslocaram-se ao quartel de Montepuez para obter informações. Depois de muita insistência e pressão, a verdade veio à tona no dia 23 deste mês: Ayuba César Saíde e os seus três colegas tinham sido mortos num ataque ocorrido na madrugada do dia 20 de Janeiro.
Conforme contou à “Carta” o familiar de um dos defuntos, o local da tragédia não foi revelado pelas autoridades. Depois de receberem a confirmação de que os jovens militares tinham morrido, os familiares exigiram que os corpos fossem exumados para posterior envio às zonas de origem.
A fonte que falou com “Carta” contou que a intenção das autoridades era esconder a verdade. Uma das alegadas mentiras foi que os finados tinham viajado, e que as zonas por onde andavam não tinha cobertura de telefonia móvel. No dia em que os quatro militares foram mortos, seus corpos foram lançados numa vala comum. Apenas duas famílias tiveram a sorte de recuperar os restos mortais dos seus entes. Seus enterros decentes foram realizados na semana passada em Caia e Quelimane. (Omardine Omar)