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quinta-feira, 24 setembro 2020 03:57

Ataques em Cabo Delgado: O “horror” continua intacto na mente dos deslocados

Escaparam da fúria dos terroristas, mas não escapam dos pesadelos do horror presenciado durante as sucessivas invasões às suas aldeias de origem, nos diferentes distritos afectados pelos ataques terroristas, desde Outubro de 2017.

 

Decapitações, esquartejamentos, incêndio de residências e raptos de adolescentes são algumas das atrocidades cometidas pelos terroristas, que não saem da mente de quem as assiste. É o caso de Mariamo Sumail, que não se esquece de como o grupo transformou em cinzas todo o suor do seu falecido filho.

 

Viúva, Sumail conta que implorou e até ajoelhou para que os terroristas não queimassem a sua casa, na aldeia de Ingoane, no Posto Administrativo de Mucojo, distrito de Macomia. Mas, debalde! O grupo queimou a palhota, porém, poupou a sua vida, alegadamente porque é idosa. Acrescenta ainda ter visto o grupo a raptar raparigas.

 

Por seu turno, Amina Ussene, também da aldeia de Ingoane, descreve o grupo terrorista de “mau”, não só pelo facto de ter destruído todo o seu património, mas também pelo facto de a ter forçado a abandonar a sua terra natal.

 

Acolhida em casa de um familiar, no bairro de Natite, na cidade de Pemba, Amina Ussene narra que terá resistido a seis investidas dos terroristas, mas à sétima não conseguiu, tendo rumado para a capital provincial, em busca de abrigo seguro.

 

Em Natite, Ussene e a família (seis elementos) encontraram um abrigo, mas não um conforto, pois, para além das recordações do que viveu em Macomia, há também o pesadelo da fome, que não lhe larga, sobretudo porque não sabe o que fazer para ajudar nas despesas de casa.

 

Quem também dificilmente se irá esquecer do que viveu é Sacur Muamar, outro deslocado de Ingoane e que também se encontra hospedado no bairro de Natite. “Estamos mal e desesperados”, disse a fonte que se dedica ao fabrico de vassouras de palha, de modo a ajudar nas despesas de casa. As vassouras são vendidas a 20 Meticais.

 

Dados do Governo indicam que os ataques terroristas, na província de Cabo Delgado, já provocaram a morte de 800 pessoas e o deslocamento de cerca de 300 mil pessoas, porém, o Parlamento Europeu aponta a morte de mais de 1.500 pessoas, para além da deslocação de mais de 250.000 cidadãos. Refere também que mais 700.000 moçambicanos necessitem de assistência multiforme.

 

Na passada terça-feira, refira-se, o presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, ofereceu diversos produtos alimentares e peças de roupa às famílias que se encontram acolhidas no distrito de Metuge. Mesmo gesto foi levado a cabo pela Fundação Alberto Joaquim Chipande, que apoiou cerca de 15 mil deslocados com produtos alimentares, vestuários, calçados e outros materiais necessários. Aliás, o Governador da província de Cabo Delgado, Valigy Tauabo, avançou que as campanhas de solidariedade já angariaram um total de 18 milhões de Meticais, que serão investidos na construção de um sistema de abastecimento de água potável, escola e centro de saúde para os deslocados. (Carta)

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