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quarta-feira, 19 dezembro 2018 10:08

Como se vive em Mucojo e Quiterajo desde o início dos ataques em Cabo Delgado?

Desde o início dos ataques aos postos administrativos de Mucojo e Quiterajo, no distrito de Macomia, em Cabo Delgado, a vida da população sofreu mudanças significativas: entre a coragem, o medo da morte prematura ou o simples facto de ficar sem casa, a situação dos residentes daqueles pontos do país alterou-se drasticamente nos últimos dias. Em suma, tudo mudou!

 

“Nós aqui não dormimos. À noite pior, temos de ficar atentos para fugir, porque esses malfeitores, quando chegam, não avisam, sempre aparecem de surpresa…”,  contam moradores daqueles postos administrativos. De acordo com as nossas fontes, ao longo do dia, tudo decorre normalmente, pois nas duas regiões quase não se registam ataques em plena luz do sol. Contudo, acrescentaram, “quando o sol começa a descer, a partir das 15 horas, cada um de nós fica com o coração nas mãos. O movimento de pessoas, motos e bicicletas reduz. Até 18 horas cada um de nós está na sua casa”.

 

“Carta” apurou que no princípio grupos de populares e as Forças de Defesa e Segurança faziam patrulhas conjuntas no período da noite. Mas depois tudo parou, quando os insurgente deram uma trégua de aproximadamente um mês. A formação de grupos de vigilância em coordenação com as FDS abrangeu quase todo o distrito. Nessa altura, mesmo para se deslocar de Macomia para outras regiões, era preciso levar uma guia passada pelas autoridades. Em Mucojo, por exemplo, foi decretado que todas as barracas devem funcionar até às 18 horas.

 

“Carta” abordou igualmente os automobilistas que trabalham com transportes semicolectivos de passageiros, os vulgos chapa 100. Para estes, a rotina mudou bastante com o recrudescimento do conflito: as viaturas passaram a ser estacionadas na sede do posto administrativo, onde há Forças de Defesa e Segurança. O que mais complica a vida dos moradores de Mucojo e Quiterajo é a rotina que consiste na de busca de sustento. A maior parte das famílias vive da agricultura, do corte de estacas e palha e principalmente do cultivo de arrozais de Rereni, mas com a situação tal já não é possível, o que leva a crer que os próximos dias serão de muita fome.

 

 As famílias afectadas estão a beneficiar de apoio alimentar do Programa Mundial para a Alimentação (PMA), contudo, não se prevê que estas acções resolvam a problemática da fome, que se prevê venha a eclodir nos próximos tempos. A sublevação, mudou a rotina de vida até mesmo na sede do distrito, onde aparentemente se considera ser um lugar seguro. Com o desenrolar dos acontecimentos, também foram criados grupos de vigilância. Todavia, muitas vezes, as pessoas cujas residências se encontram em zonas vulneráveis a ataques, abandonam-nas para dormir em casas ao longo da estrada principal. “Aqui a vida decorre bem, mas de noite dormimos na incerteza. Além do receio de sermos atacados, muitos dos nossos familiares, por vezes ligam-nos à noite para reportando ataques, nas suas zonas de residência”, contam residentes do populoso bairro de Nanga.

 

“O que é digno de registo, são as marcas indeléveis que os ataques deixam. Além de perdermos bens, sofrer com crianças é muito complicado. Temos de recomeçar tudo do zero…” – reclama um cidadão que abandonou a zona de Quiterajo e tenta reconstruir a sua vida na sede do distrito de Macomia. Neste local, a situação dos ataques mudou igualmente a rotina dos órgãos de informação locais. As duas rádios comunitárias, que emitiam até as 22 horas, viram o seu horário de fecho ser antecipado para as 20 horas. (Saide Abido) 

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