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quarta-feira, 19 fevereiro 2020 03:58

Combate à insurgência em Cabo Delgado: Da vontade norte-americana à finta russa

Os ataques militares que se verificam em nove distritos da província de Cabo Delgado, norte do país, continuam a merecer maior preocupação e indignação, de quase todas as partes do mundo. Depois de a União Africana ter tomado, oficialmente, o conhecimento das atrocidades que se verificam naquele ponto do país – tendo prometido ajuda com equipamento e formação para resolver o problema de forma holística – agora é a vez dos Estados Unidos da América (EUA), da Federação Russa e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) manifestarem a sua disponibilidade em apoiar o nosso país no combate àquele fenómeno.

 

Falando a jornalistas, há dias, após reunir-se com a Presidente da Assembleia da República, o Embaixador Russo, em Moçambique, Alexander Surikov, afirmou que o seu país sempre esteve ao lado de Moçambique e que “mesmo agora, oferecemos ajuda humanitária por causa dos ciclones que ocorreram, em 2019, nas regiões centro e norte”.

 

Porém, apesar de Moscovo e Maputo nunca terem assumido a “parceria”, o facto é que o país tem recebido o apoio russo, desde Agosto do ano passado, quando o Grupo Wagner (uma organização paramilitar de origem russa) começou a operar nas “matas” de Cabo Delgado, em apoio ao Exército moçambicano, que se tem mostrado incapaz de travar a situação. O país recebeu também, em Setembro de 2019, material bélico russo.

 

À sua saída do parlamento moçambicano, Surikov voltou a “fintar” os jornalistas, em relação a estas questões, tendo sublinhado apenas ser de “vital importância” que se evite a perda de mais vidas humanas. Disse ainda que o combate aos insurgentes requer uma acção conjunta e flexível e que o governo de Vladimir Putin está disponível para apoiar Moçambique em tudo que for necessário.

 

Por sua vez, o novo Adido Militar da Embaixada dos EUA, Fergal James O’Reilly, apresentado na última sexta-feira, 14 de Fevereiro, garantiu que Washington “está mais do que aberto” a cooperar com Moçambique, no combate aos ataques armados, em Cabo Delgado, uma vez o seu país ter experiência no combate ao terrorismo.

 

“Estamos mais do que abertos a ajudar, de qualquer forma que pudermos, a derrotar este problema que vocês têm. Cabe às autoridades moçambicanas decidirem se precisam de ajuda na luta contra a violência no norte e os EUA irão analisar sobre o tipo de assistência a prestar”, disse Fergal James O’Reilly, sublinhando que os EUA têm uma boa compreensão sobre este fenómeno.

 

Já Francisco Camelo, Capitão do Mar e Guerra e Director do Centro de Análise Estratégica da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CAE-CPLP), em entrevista à Deutsche Welle-África, na passada sexta-feira, disse que a CPLP não descarta o apoio militar ao nosso país para combater a insurgência.

 

Camelo explicou que os países do bloco lusófono têm um protocolo de cooperação com treinamentos de emprego da força, formação e intercâmbio militar, porém, sublinha que havendo um eventual emprego coordenado de contenção dos insurgentes, em Cabo Delgado, e outras zonas de conflito, ainda há etapas a serem cumpridas – como o adestramento das forças armadas dos Estados-membros – seguindo protocolos da Organização das Nações Unidas (ONU).

 

“Se esse processo [de cumprimento de etapas] for célere, eu não descarto essa possibilidade [de apoio militar], mas nós iremos actuar dentro do protocolo de cooperação da CPLP e sob égide da ONU”, disse a fonte à DW-África.

 

Entretanto, para o sociólogo Elísio Macamo, também em entrevista à DW-África, o silêncio das autoridades é sepulcral e não diz bem do respeito que o Governo tem pela sociedade moçambicana e pelos próprios eleitores. Para Macamo, isto revela uma “irresponsabilidade e indiferença assustadoras”.

 

Conhecido pelas suas posições pró-Governo, o sociólogo defende: “o Governo não informa ninguém. Não parece ter a preocupação de informar a sociedade sobre o que está a acontecer, em Cabo Delgado, o que me parece irresponsável porque dá muito espaço para que se especule e a partir daí surjam várias notícias que, possivelmente, sejam falsas”.

 

Enquanto isso, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, pede aos parceiros de cooperação para que concretizem os apoios que têm prometido para pôr fim à violência armada, que se verifica no centro do país e na província de Cabo Delgado, pois, muitos países têm mostrado a disponibilidade para ajudar Moçambique, mas uma vontade que não tem sido materializada.

 

“Quando perguntamos sobre como querem apoiar, não dizem nada, não há coisas concretas. Entretanto, os ataques podem alastrar-se para outros países da África Austral porque os que ocorrem, em Cabo Delgado, contam com o envolvimento de estrangeiros”, afirmou Nyusi.

 

Refira-se que, nos últimos dias, os ataques que se assistem na província de Cabo Delgado têm-se intensificado, tendo já se atacado localidades que distam a cerca de 120 Km da cidade de Pemba, a sua capital provincial. Ainda na semana finda, houve relatos de uma acção similar no distrito de Mecula, na província do Niassa, mas sem óbitos civis e sem danos patrimoniais. (Omardine Omar)

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