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segunda-feira, 02 dezembro 2019 06:02

Cabo Delgado: Mercenários do Wagner Group regressam ao “teatro de operações”

Presidente do Wagner Group (a esquerda) Vladimir Putin, Presidente da Federação Russa (ao centro) Foto: CNN

Após uma retirada estratégica em meados do mês passado, visando analisar as táticas e formas de actuação na repreensão contra os “terroristas sem rostos” que há dois anos vêm decapitando civis e militares, incendiando e saqueando propriedades privadas e públicas, o grupo de mercenários russos Wagner voltou às zonas de conflitos em Cabo Delgado na semana finda.

 

A informação foi confirmada pelo especialista Alex Vines, baseado em Moçambique, que lidera o Programa da África no Royal Institute of International Affairs de Londres, em entrevista na semana finda, ao jornal sul-africano The Globe and Mail.

 

Alex Vines disse: “eu estive recentemente em Moscovo conversando com autoridades russas e elas hoje admitem a complexidade da situação em Cabo Delgado, que no início subestimaram”.


Vines contou que, até agora, as táticas contra os insurgentes em Cabo Delgado são uma reminiscência das táticas “desajeitadas autoritárias” das primeiras campanhas contra a milícia islâmica conhecida como Boko Haram, na Nigéria.

 

Na mesma entrevista, Vines alertou que as autoridades de Moçambique devem perceber que o destacamento de militares privados pode afigurar-se como “um tiro a sair pela culatra” e " piorar a crise”. Disse ainda que a retirada estratégica do Wagner Group, no mês passado, demonstra a complexidade de combater a sombria insurgência islâmica em Cabo Delgado, uma Província rica em gás e cujo projecto de investimento ronda nos 60 biliões de USD.

 

Alex Vines afirmou que os mercenários do Wagner Group “ficaram chocados” com a realidade no terreno, o que lhes levou a tal retirada estratégica para repensarem o seu plano operacional, principalmente depois de várias notícias avançadas pela “Carta” e outros órgãos de comunicação nacionais e estrangeiros, dando conta da morte de alguns dos seus elementos, emboscados em distritos como Muidumbe, Macomia e Mocímboa da Praia.

 

De acordo com Alex Vines, alguns corpos foram levados para Rússia onde foram realizadas as respectivas cerimónias fúnebres. Aliás, a estação norte-americana CNN avançou igualmente que dois jovens contratados (de 28 e 31 anos de idade) terão sido mortos durante confrontos contra os insurgentes. Entretanto, nem as autoridades governamentais de Maputo e muito menos as de Moscovo confirmaram esta ocorrência.

 

Na peça da CNN publicada na última sexta-feira (29 de Novembro), Yevgeny Shabayev, que actua como porta-voz não oficial dos mercenários do Wagner Group, disse: “os corpos dos dois homens já haviam sido devolvidos de Moçambique para sua região natal, Vladimir, a leste de Moscovo”.

 

O entrevistado pela CNN não especificou o papel dos mercenários em Moçambique, mas confirmou que os caças e equipamentos russos terão chegado na cidade portuária de Pemba e que os mercenários estão baseados mais ao norte, na cidade costeira de Mocímboa da Praia tendo estado envolvidos em várias operações ao longo da fronteira com a Tanzânia, onde a “insurgência islâmica” está crescendo em força.

 

Entretanto, a CNN cita fontes militares que afirmam que os russos estão mal equipados para o combate no mato denso e que a sua relação com o exército de Moçambique é tensa. Conforme avança a CNN, um militar moçambicano terá confidenciado que “os russos não estão fazendo nada em termos de redução do impacto dos ataques” e que as tropas moçambicanas se recusaram a participar de algumas operações.

 

De acordo com dados recolhidos pela organização liderada por Alex Vines, estima-se que cerca de 500 pessoas morreram em centenas de ataques dos insurgentes em Cabo Delgado nos últimos dois anos. Uma informação que contraria a versão de algumas fontes oficiais que estimam que, até ao momento, tenham perdido pouco mais de 300 pessoas.

 

Os ataques em Cabo Delgado ganharam outra dimensão nos últimos meses, passando a acontecer diariamente em distritos como Nangade, Macomia, Muidumbe, Mocímboa da Praia e Palma, onde, para além de matar civis, os terroristas queimam propriedades de produção agrária e vários investimentos de empresários nacionais.


A situação em Cabo Delgado já levou mais de 68 mil pessoas a deslocarem-se para distritos “vistos como seguros” e outras a procurarem refúgio na Tanzânia, facto que as autoridades de Dar-Es-Salam não estão a aceitar.

 

Refira-se que, há duas semanas, o Presidente da República, Filipe Nyusi, pediu à população, num comício em Mueda, para que esta passasse a denunciar e a coordenar a vigilância com as Forças de Defesa e Segurança (FDS). Aliás, em todos os comícios que dirige, Nyusi tem exortado a população para não aderir aos grupos de recrutamento, seja para o conflito de Cabo Delgado, seja para o do centro do país. (O.O. /adaptado de  The Globe and Mail e  CNN)

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