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quinta-feira, 06 junho 2019 06:09

Insurgência em Cabo Delgado: Entre a "barbárie" e a tortura

Os ataques que, desde 05 de Outubro de 2017, vêm aterrorizando a população dos distritos localizados no norte da província de Cabo Delgado, têm apresentado cenários que revelam um “modus operandi” equivalente aos procedimentos dos tempos em que se aplicava a Lei de Moisés: “dente por dente e olho por olho”.

 

 

Segundo apurámos, os reclusos acusados de protagonizar ataques naquele ponto do país são supostamente torturados, todos os dias, nos estabelecimentos penitenciários em que se encontram detidos. Alguns chegam a perder a vida e outros viram paralíticos ou mesmo surdos e mudos.

 

Uma das vítimas é Marjane Assane Calande, natural de Pemba e residente no bairro de Maringanha, que era acusado de pertencer ao grupo dos insurgentes, tendo sido detido na sua zona de residência. Conforme apurámos, Marjane foi um dos arguidos julgados, no âmbito do processo n° 32/2018, relativo à insurgência na província de Cabo Delgado, e veio a perder a vida, alegadamente, devido a torturas constantes numa esquadra no distrito de Mueda.

 

Fontes de "Carta" contam ainda que, no ano passado (2018), alguns reclusos acusados de envolvimento na insurgência foram amarrados e transportados em carros basculantes do Quartel militar de Mueda até uma mata.

 

Com detalhes assustadores, a fonte narra também que, ainda em 2018, outros 27 “insurgentes” detidos foram amarrados e seus olhos vendados, e de seguida transportados em carros blindados para uma mata no distrito de Mueda onde foram abatidos depois de receberem ordens para fugir. Alguns corpos, afirma a fonte, foram enterrados no local e outros deixados ao relento.

 

Um outro facto, apurado pela nossa reportagem, é que, nos últimos dias, os insurgentes têm-se apresentado com o fardamento das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). Aliás, conforme apurámos, os seis insurgentes detidos recentemente (dois, em Ntutupu, na localidade de Nanlia, no distrito de Ancuabe, três, em Quissanga, e um em Macomia) trajavam o novo uniforme das FADM.

 

Uma fonte revelou que os alvos das torturas até à morte são os “insurgentes” que se encontram detidos nos quartéis e esquadras distritais, ficando de fora os que se encontram no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Cabo Delgado e na chamada “B.O.”, de Pemba.

 

Segundo a fonte, as atrocidades ocorrem no período da manhã, quando os detidos são seleccionados para buscar lenha, uma actividade rotineira nas cadeias moçambicanas, sobretudo nas zonas rurais. As ordens, garante o informante, são superiores, pois, supostamente, acredita-se que a verdade sobre a macabra insurgência está na posse daqueles indivíduos, pelo que “os que chegam até à leitura da sentença pouco sabem sobre o assunto". Refira-se que o outro indivíduo que saiu da cadeia paralítico, devido a torturas, é Benjamim Luís Cobe, um ex-agente da Polícia, acusado de ter sido instrutor dos insurgentes, porém, absolvido esta semana por insuficiência de provas. (Paula Mawar)

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