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sexta-feira, 29 março 2019 09:53

A outra face dos ataques em Cabo Delgado

Acima de 200 pessoas já morreram na sequência dos ataques protagonizados, desde 05 de Outubro de 2017, pelos insurgentes em seis distritos da província de Cabo Delgado. No entanto, aspectos há que não têm merecido a devida atenção por parte dos órgãos de comunicação social, da sociedade e dos órgãos de justiça, como é o caso das bárbaras decapitações a que muitas das vítimas são submetidas.

 

Um sobrevivente dos ataques, ouvido pela “Carta”, em Cabo Delgado, contou que “antes de matarem as suas vítimas, os insurgentes cortam a veia do pescoço do lado de trás, drenam o sangue num balde, galão ou panela. Em seguida, cortam o corpo em pedaços e bebem o sangue das vítimas”.

Segundo a nossa fonte, tal prática permite que os insurgentes, conforme eles próprios justificam, não tenham remorsos do que fazem, continuem a praticar os mesmos crimes sem peso de consciência. Esta versão foi também confirmada por oficiais do SISE (Serviço de Informação e Segurança do Estado), presentes nos distritos afectados.

 

As fontes são unânimes ainda em afirmar que só os homens são mortos pelos insurgentes, independentemente da sua idade. Quanto a mulheres, incluindo grávidas, em caso de resistência, são obrigadas a cozinhar e comer seus próprios filhos.

 

Conforme apurou o nosso jornal, é também nestes distritos, onde existem indícios de tráfico humano, naquela província, tendo em conta que todos os corpos encontrados aparecem sem os órgãos genitais e a garganta. Supostamente, estes são decepados e, posteriormente, colocados no “mercado negro” além-fronteiras. Os distritos de Palma, Macomia, Mocímboa da Praia, Quissanga, Nangade e Ilha do Ibo, onde aconteceram os últimos ataques, foram encontrados nas aldeias corpos sem órgãos genitais.

 

Devido a insegurança instalada naqueles distritos, a população tem medo de todos que lá visitam. Isso aconteceu em finais de Novembro, do ano passado, na aldeia de Chai, distrito de Macomia, quando dois jornalistas, uma fiscal ambiental e um motorista, que escalaram o distrito para investigar um caso de corte ilegal da madeira, escaparam dos insurgentes. A população, logo que se apercebeu da presença daquela equipa entrou em pânico e fugiu para as matas. Quando a equipa se retirou do local por volta das 15h00, já na calada da noite do mesmo dia, os insurgentes atacaram a aldeia em causa (Chai), mas ninguém estava. 

   

Segundo fontes oficiais ouvidas pela “Carta”, o negócio de órgãos humanos, em Cabo Delgado, conta com a participação de alguns dirigentes de Moçambique e da Tanzânia, com alguns a jogarem ‘com um pau de dois bicos’. Não apuramos de quem se trata.

 

Por exemplo, continuam, o sul-africano Andrew Hanekom fazia ponte entre os dirigentes e os insurgentes, seja em Moçambique como na Tanzânia, onde residiu e foi expulso por tráfico de órgãos humanos. Quando o caso estava prestes a ser desvendado, Hanekom perdeu a vida, misteriosamente. Com a sua morte, avançam os nossos interlocutores, as investigações sobre os “patronos” e suas motivações ‘perderam o norte’, porque os dois reclusos tanzanianos confirmaram, durante os interrogatórios, que o sul-africano era quem cuidava da logística.

 

Outros aspectos que ensombram Cabo Delgado são o tráfico de drogas, entrada constante de ilegais através da costa marítima, tráfico de mulheres, recrutamento de adolescentes para integrarem o grupo de insurgentes, pesca ilegal, mineração ilegal e enriquecimento ilícito. A situação naquela província é desoladora, porque as pessoas vivem em constante medo, até de pronunciar uma única palavra sobre os ataques. (Paula Mawar e Omardine Omar)

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