Segundo a nossa fonte, tal prática permite que os insurgentes, conforme eles próprios justificam, não tenham remorsos do que fazem, continuem a praticar os mesmos crimes sem peso de consciência. Esta versão foi também confirmada por oficiais do SISE (Serviço de Informação e Segurança do Estado), presentes nos distritos afectados.
As fontes são unânimes ainda em afirmar que só os homens são mortos pelos insurgentes, independentemente da sua idade. Quanto a mulheres, incluindo grávidas, em caso de resistência, são obrigadas a cozinhar e comer seus próprios filhos.
Conforme apurou o nosso jornal, é também nestes distritos, onde existem indícios de tráfico humano, naquela província, tendo em conta que todos os corpos encontrados aparecem sem os órgãos genitais e a garganta. Supostamente, estes são decepados e, posteriormente, colocados no “mercado negro” além-fronteiras. Os distritos de Palma, Macomia, Mocímboa da Praia, Quissanga, Nangade e Ilha do Ibo, onde aconteceram os últimos ataques, foram encontrados nas aldeias corpos sem órgãos genitais.
Devido a insegurança instalada naqueles distritos, a população tem medo de todos que lá visitam. Isso aconteceu em finais de Novembro, do ano passado, na aldeia de Chai, distrito de Macomia, quando dois jornalistas, uma fiscal ambiental e um motorista, que escalaram o distrito para investigar um caso de corte ilegal da madeira, escaparam dos insurgentes. A população, logo que se apercebeu da presença daquela equipa entrou em pânico e fugiu para as matas. Quando a equipa se retirou do local por volta das 15h00, já na calada da noite do mesmo dia, os insurgentes atacaram a aldeia em causa (Chai), mas ninguém estava.
Segundo fontes oficiais ouvidas pela “Carta”, o negócio de órgãos humanos, em Cabo Delgado, conta com a participação de alguns dirigentes de Moçambique e da Tanzânia, com alguns a jogarem ‘com um pau de dois bicos’. Não apuramos de quem se trata.
Por exemplo, continuam, o sul-africano Andrew Hanekom fazia ponte entre os dirigentes e os insurgentes, seja em Moçambique como na Tanzânia, onde residiu e foi expulso por tráfico de órgãos humanos. Quando o caso estava prestes a ser desvendado, Hanekom perdeu a vida, misteriosamente. Com a sua morte, avançam os nossos interlocutores, as investigações sobre os “patronos” e suas motivações ‘perderam o norte’, porque os dois reclusos tanzanianos confirmaram, durante os interrogatórios, que o sul-africano era quem cuidava da logística.
Outros aspectos que ensombram Cabo Delgado são o tráfico de drogas, entrada constante de ilegais através da costa marítima, tráfico de mulheres, recrutamento de adolescentes para integrarem o grupo de insurgentes, pesca ilegal, mineração ilegal e enriquecimento ilícito. A situação naquela província é desoladora, porque as pessoas vivem em constante medo, até de pronunciar uma única palavra sobre os ataques. (Paula Mawar e Omardine Omar)