Após um ataque à caravana de Venâncio Mondlane e seus apoiantes por supostos agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), ao longo da Avenida Julius Nyerere, na zona de Hulene Expresso, cidadãos decidiram erguer barricadas e incendiar pneus em algumas vias da cidade e da província de Maputo.
Entre as vias bloqueadas nesta quarta-feira (05) estão Xiquelene, Expresso, Maquinag, Casa Branca, alguns pontos ao longo da Circular de Maputo, entre outros.
Os bloqueios começaram pouco depois dos disparos efectuados contra os apoiantes de Venâncio Mondlane.
Muitas pessoas foram surpreendidas pelos bloqueios ao tentarem voltar para casa, após mais um dia exaustivo de trabalho.
Em contacto com a “Carta”, Dulce Massango, que trabalha na baixa da cidade de Maputo, contou que, ao sair do serviço, tudo parecia tranquilo, mas a situação mudou quando chegou à primeira rotunda da Circular de Maputo.
“Cheguei ao Zimpeto e apanhei um chapa para Matola Gare, mas, ao passarmos pela primeira rotunda, vários manifestantes pararam o nosso carro e nos mandaram descer. Todos os transportes semi-colectivos que tentavam avançar eram impedidos sob ameaça de terem os vidros quebrados. Assim, tivemos que descer e caminhar até ao nosso destino”, relatou Dulce Massango.
Faquir Lopes Muir, outro entrevistado pela “Carta”, relatou que chegou a Txumene com o coração na mão.
“Quando cheguei à segunda rotunda da circular, encontrei barricadas e alguns bloqueios. Consegui contornar a situação pagando 100 meticais em dois pontos, mas com medo de que quebrassem os vidros do meu carro”, disse ele.
Relatos vindos da baixa da cidade indicam paragens superlotadas e sem transporte público a circular.
Até mesmo os autocarros recolheram com medo das manifestações.
Em tom de desespero, muitos passageiros não sabiam como conseguiriam chegar a casa.
“Vivo na Liberdade e saí do serviço às 15h. Fiquei mais de duas horas à espera de um chapa. Depois desse tempo todo, decidi caminhar, mas tivemos que seguir em grupo, porque, na zona da drenagem, quase chegando à portagem de Maputo, manifestantes colocaram barricadas, incendiaram pneus e a UIR estava no local disparando gás lacrimogêneo”, detalhou Manuel Simbini.
No meio do caos vivido no final da tarde desta quarta-feira, especialmente para quem dependia do transporte público, os Caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM) também se viram obrigados a suspender os serviços.
Inicialmente, venderam bilhetes para passageiros com destino a Matola Gare, mas, ao chegarem à Machava, a circulação dos comboios foi interrompida, deixando os passageiros abandonados à própria sorte.
“Não entendemos o que aconteceu. Apenas ouvimos que algumas pessoas atiraram pedras contra o comboio na zona do Infulene. Ao chegarmos à Machava, os passageiros tiveram que descer e caminhar longas distâncias, porque não havia transporte público. Depois, soubemos que todos os comboios foram suspensos e as portas dos CFM foram fechadas”, relatou Manuel.
Importa destacar que, durante o ataque à caravana de Venâncio Mondlane, 16 pessoas ficaram feridas por projécteis de gás lacrimogeneo.
Entre os feridos, estão o DJ responsável por animar a passeata, várias crianças, e há relatos de que Venâncio Mondlane foi retirado do local e se encontra em parte incerta, sem informações sobre seu estado clínico. (M.A)