Um facto inédito ocorreu na manhã de hoje, em Adis Abeba, capital etíope, quando um voo da companhia aérea Ethiopian Airlines decidiu partir deixando em terra uma delegação moçambicana constituída por 11 passageiros, incluindo o ministro dos negócios e cooperação, José Pacheco. É muito difícil entender como pode ter sido possível um incidente desta magnitude para uma companhia aérea, há vários anos, classificada como a melhor em África e entre as 40 melhores do mundo inteiro segundo o ranking da “Skytrax”, empresa de consultadoria do Reino Unido, cuja principal actividade é a análise do mercado da aviação.
Nem a intervenção da embaixadora de Moçambique e representante permanente na União Africana (UA), Albertina Mac Donald, conseguiu remediar a situação. Questionados sobre o assunto, os representantes daquela companhia aérea desdobravam-se em lamentações, afirmando “sorry, sorry, sorry. We acknowledge that it was our fault”, ou seja desculpa, desculpa, desculpa, foi uma falha nossa.
Estranho também é o facto de a companhia área não se ter apercebido da ausência de um ministro e uma vice-ministra depois do check-in confirmado. Em condições normais isso deveria ter um mecanismo de alerta, informando que algo estava errado. Inexplicavelmente, o avião também partiu com a bagagem dos passageiros que ficaram em terra depois de fazer o “check-in”. A decisão constitui uma grave quebra de segurança que recomenda a retirada do avião de toda a bagagem dos passageiros que, por qualquer motivo, não conseguiram embarcar.
O ministro, que regressava a Moçambique, depois de participar na recém-terminada Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, fazia-se acompanhar de vice-ministra e de altos quadros do Governo. Os funcionários do protocolo chegaram ao Aeroporto Internacional de Bole, em Adis Abeba, quando eram cerca das 07h00 da manhã desta terça-feira para auxiliar na tramitação de toda delegação moçambicana. Como manda a praxe, a delegação moçambicana que acompanha o ministro foi conduzida a sala VIP do Aeroporto. Quando faltavam alguns minutos para o avião levantar voo os serviços do Aeroporto disponibilizaram viaturas para transportar a delegação moçambicana até ao avião.
Eis que as viaturas que transportavam a delegação são interceptadas ao longo da pista por uma outra viatura do serviço do aeroporto e que questionou o destino da viatura. Após uma breve troca de palavras, percebe-se que o avião da Ethiopian Airlines já tinha partido. Isso aconteceu cerca de 09h00 para um voo cuja partida estava agendada para as 08h50. Durante os contactos estabelecidos com a companhia apurou-se que o motorista da viatura foi instruído para regressar a sala VIP de forma a levar os passageiros que haviam ficado em terra. Contudo, a ordem de regresso da aeronave da companhia de bandeira etíope não parecia uma hipótese exequível, porque além dos vários transtornos que isso representa, também haveria de forçar o piloto a descarregar parte considerável do combustível para aterrar em segurança.
A reportagem da AIM apurou que o piloto também se recusou a obedecer a ordem, alegando que o avião estava cheio e que não tinha espaço para acomodar mais passageiros. Após muitas negociações, a companhia aérea ofereceu-se para procurar rotas alternativas para permitir o regresso da delegação moçambicana ao longo do dia de hoje. Isso não foi possível, pelo que a delegação moçambicana teve de se conformar e permanecer mais um dia em Adis Abeba contra a sua vontade, por desorganização dos funcionários da Ethiopian Airways.
Várias questões ficam por responder tais como se o piloto diz que o avião estava cheio como isso foi possível tendo em conta que havia 11 passageiros moçambicanos que já haviam concluído o check - in. Quem ocupou os lugares reservados a delegação moçambicana? Como foi possível não detectar irregularidades na contagem a bordo da falta de passageiros? (Elias Samo Gudo, AIM)