Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quinta-feira, 04 novembro 2021 04:32

Ataques em Cabo Delgado: União Europeia considera "exemplar" interacção com Maputo

A União Europeia (UE) classificou ontem como "exemplar" a interacção com Moçambique para implantação da missão de formação de tropas especiais para combater em Cabo Delgado, região no norte do país alvo de ataques armados.

 

"Moçambique é um caso exemplar" em relação à "forma como a interacção se faz com as autoridades moçambicanas" e "como a UE reagiu" ao pedido de ajuda, disse ontem em Maputo o major general português Hermínio Maio, director adjunto da Capacidade Militar de Planeamento e Condução da UE.

 

Aquele responsável falava durante a cerimónia de lançamento da Missão de Formação da União Europeia (EUTM, sigla inglesa) que durante dois anos vai formar 11 companhias (pelo menos 1.100 tropas) de forças especiais (comandos e fuzileiros).

 

"Os cenários são muito diferentes" daqueles com que o oficial português já lidou em operações de treino semelhantes na República Centro-Africana, Somália e Mali - onde há uma actividade alargada ao Burkina Faso e Níger.

 

"Há componentes políticas e de segurança muito relevantes" em cada país, mas em Moçambique, apesar de a insurgência na província nortenha de Cabo Delgado durar desde 2017, há "todas as condições para cumprir a missão nos dois anos, como definido, e ter sucesso".

 

Ao longo dos 24 meses – com possibilidade de extensão no final – “há lições” que vão sendo identificadas e que servem para ir adaptando os treinos, de forma a "melhor preparar as forças moçambicanas para actuar no terreno". É o que a UE chama de "acompanhamento não-executivo".

 

"Nós temos o mandato da UE, somos uma missão de treino. Não somos uma missão para participar em operações", sublinhou.

 

As companhias de fuzileiros treinadas em Maputo, bem como os comandos preparados no Chimoio, a cada quatro meses, avançarão depois para a frente militar em Cabo Delgado, pelo que Hermínio Maio espera ver a formação começar a traduzir-se "na melhoria da situação" na província - que já se verifica desde Julho com o apoio no combate de tropas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e Ruanda.

 

O objectivo é que "estas forças [moçambicanas] façam a diferença, que tenham um valor acrescentado operacional no terreno", capazes de "actuar autonomamente sob comando moçambicano e de forma sustentada, de acordo com os padrões da UE".

 

A formação para combate será complementada com uma forte componente em direitos humanos e protecção da população, nomeadamente de crianças e jovens - não só face a inimigos armados, mas também em cenário de catástrofes, como ciclones e cheias, que ciclicamente atingem o país.

 

Para além do treino, a UE inclui, pela primeira vez, "um conjunto de medidas de assistência com o fornecimento de equipamento militar não letal às unidades das Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM)", realçou.

 

Assistência feita através de um esforço financeiro "significativo" do novo Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (MEAP) para garantir uma ligação "essencial" entre "o treino por um lado e, por outro, o equipamento das respectivas unidades aprontadas para operações" em Cabo Delgado, destacou.

 

Os custos comuns para a EUTM Moçambique, a serem cobertos através do novo Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (MEAP), estão avaliados em 15 milhões de euros para o período de dois anos, incluindo equipamento não-letal.

 

Uma tranche urgente de quatro milhões foi desbloqueada em Julho para fornecer o material necessário para a formação das duas primeiras companhias, acção que agora arranca, para durar quatro meses.

 

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

 

Desde Julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020. (Lusa)

Sir Motors

Ler 1689 vezes