O polícia Euclídio Mapulasse, um dos seis agentes que começaram ontem a ser julgados pelo homicídio do observador eleitoral moçambicano Anastácio Matável, disse em tribunal ter sido contactado pelo arguido foragido, Agapito Matavel, também polícia, para cometer o crime.
Euclídio Mapulasse, agente da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), força antimotim da polícia moçambicana, foi o primeiro arguido a depor no arranque do julgamento, no Tribunal Judicial da Província de Gaza, sul do país.
Mapulasse explicou que Agapito, também da UIR, o abordou, tendo-lhe dito apenas que o fazia por causa de uma "missão", referindo-se ao assassinato de Anastácio Matavel, mas sem dar pormenores sobre a referida missão, limitando-se a dizer que a tarefa era participar no homicídio.
Além da audição de Euclídio Mapulasse, o início do julgamento foi preenchido pela leitura da acusação do Ministério Público e do despacho de pronúncia do tribunal.
Contrariamente ao que vinha sendo avançado por organizações não-governamentais que acompanham o processo, apenas sete pessoas foram constituídas arguidas e não oito.
O autarca da cidade de Chibuto, província de Gaza, sul de Moçambique, Henriques Machava, proprietário da viatura usada para o cometimento do crime, não é arguido no processo, como foi inicialmente revelado.
Por outro lado, Agapito Matável, que está em parte incerta, será julgado num processo autónomo e não à revelia, como chegou a ser avançado.
Além de Euclídio Mapulasse, estão no banco dos réus Januário Rungo, Justino Muchanga, Edson Silica, Tudelo Guirrugo e Alfredo Macuácuá.
Dois agentes da UIR morreram após a viatura usada na fuga ter capotado instantes depois do homicídio.
Um civil, Ricardo Manganhe, funcionário no município de Chibuto, é também arguido no caso.
O arranque do julgamento atrasou-se devido ao pedido da família da vítima para integrar na sua equipa o antigo bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique Flávio Menete, pedido aceite pelo tribunal.
A audiência prossegue hoje com o interrogatório aos arguidos.
Anastácio Matavel, dirigente do grupo de observação eleitoral da organização Casa da Paz, foi abatido a tiro no dia 07 de outubro do ano passado na via pública, em pleno dia, na cidade de Xai-Xai, uma semana antes das eleições gerais de 15 de outubro.
O caso provocou repúdio e condenação em Moçambique e fora do país, por se tratar de um ativista da sociedade civil envolvido na observação eleitoral e que morreu durante a campanha para as eleições gerais. (Lusa)