Assinalou-se este domingo (3 de Maio) o segundo aniversário após o desaparecimento físico de Afonso Dhlakama, líder carismático do maior partido da oposição no xadrez político nacional, a Renamo.
E como em qualquer “família”, mesmo que passem anos após a partida de um ente-querido, na data, cada um à sua maneira reserva algumas horas, um dia ou mesmo vários para honrar a sua memória. A família Dhlakama e a Renamo não fizeram diferente. Usaram a data para imortalizar aquele que consideram de “herói” e que nem a sua partida “prematura” irá apagar as suas obras.
Afonso Macacho Marceta Dhlakama faleceu a 03 de Maio de 2018, na Serra da Gorongosa (o chamado santuário da Renamo), província de Sofala. Os seus restos mortais repousam na sua terra natal em Mangunde (regulado), distrito de Chibabava, interior da província de Sofala.
O partido, do qual era dirigente máximo, hoje liderado por Ossufo Momade, que assumiu as funções imediatamente a seguir à morte de Afonso Dhlakama, organizou uma série de eventos à escala nacional (delegações provinciais), tendo as cerimónias centrais se realizado na Sede Nacional, em Maputo, um evento que contou com a presença da nata do partido.
Ossufo Momade foi quem dirigiu as comemorações na Sede Nacional. Naquilo que chamou de comunicação à Nação, Ossufo Momade deixou a garantia de que tudo faria para honrar a memória do falecido presidente da Renamo, para quem a sua história, invariavelmente, se confunde com a de Moçambique. Momade disse que vai continuar a negociar com o Governo liderado por Filipe Nyusi de modo que, a breve trecho, seja concluído com êxito o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) do braço armado do partido.
E por consensual que seja que o seu contributo, nacionalismo e patriotismo elevaram o país no concerto das nações no que ao nível de democracia e Estado de Direito como apanágio de governação diz respeito, Momade disse que Afonso Dhlakama devia ser reconhecido como herói nacional.
Entretanto, desde o desaparecimento físico de Afonso Dhlakama, o maior partido da oposição continua sombra de si mesmo, sendo a conturbada liderança de Ossufo Momade o rosto mais visível.
Ossufo Momade tem dedicado boa parte do seu tempo a gerir crises internas. A calamitosa performance nas eleições de 15 de Outubro último, ganhas folgadamente pelo partido Frelimo e o seu candidato presidencial, marca indubitavelmente a fase que o partido atravessa, depois que viu partir o seu “líder”.
Apesar de ter assumido a liderança, após a morte do líder “mor” e ter sido sufragado em sede do Congresso realizado em Janeiro de 2019, Ossufo Momade luta incansavelmente pela sua afirmação como o novo timoneiro da Renamo.
Tal pretensão tem sido liminarmente frustrada pela auto-proclamada Junta Militar liderada por Mariano Nhongo, que teima em gritar aos “quatro ventos”’ que Ossufo Momade não é e nunca foi presidente dos genuínos membros e simpatizantes da Renamo.
Mariano Nhongo e seus apaniguados, pelo menos nas mais variadas aparições, têm, de peito aberto, desafiado o actual Presidente da Renamo para quem, tal como tem dito, não tem apoio dos militares que se encontram aquartelados na Serra da Gorongosa.
Porque não concordam com o novo líder e muito menos com a forma como tem conduzido o partido, a auto-proclamada Junta Militar inúmeras vezes apareceu publicamente a assumir a autoria dos ataques armados na região centro do país, concretamente nas províncias de Manica e Sofala. Aliás, a Junta Militar tem defendido que os ataques a alvos civis e militares só vão cessar, quando o Presidente da República afastar Ossufo Momade do tabuleiro negocial e tomar as reivindicações do grupo com a seriedade que merece.
A lentidão, no que ao processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração do braço armado da Renamo diz respeito, tem sido o mote para o esfriamento de relações entre ambos, com Mariano Nhongo a acusar Ossufo Momade de estar a trair os acordos alcançados entre Afonso Dhlakama e Filipe Nyusi.
No campo político, Ossufo Momade parece ter conseguido finalmente assentar as bases, depois de um período conturbado decorrente das mexidas que operou no “xadrez”, logo que assumiu formalmente a direcção máxima do partido.
E porque qualquer remodelação sempre deixa fissuras (queda de alguns e ascensão de outros), na “Perdiz” não foi diferente. Momade mudou o figurino na Assembleia da República (AR), um processo rotulado como sendo mais de ajuste de contas que fundamentos a olhos desarmados comprováveis. Mas antes promoveu uma série de mexidas nos órgãos internos do partido, a começar da Comissão Política Nacional, onde fez ascender quadros inteiramente da sua confiança.
Para além da Comissão Política Nacional, Ossufo Momade mexeu na Secretaria Geral do partido onde fez cair Manuel Bissopo, que virou um opositor confesso à sua liderança e, para o seu lugar, fez subir André Magibire. Ao nível da AR, Momade mudou, por exemplo, a chefia da bancada, a Comissão Permanente (entradas e saídas), porta-voz e relator.
Aliás, falando em chefia da bancada, a antiga timoneira da Renamo na AR, Ivone Soares, em entrevista a um canal de televisão privado da praça, embora sem citar nomes, deixou escapar que continua uma miragem a ideia de um partido verdadeiramente unido e coeso para quem há quadros que juraram lealdade ao antigo líder e hoje estão desavergonhadamente a destruir o seu legado. Soares concedeu a entrevista a propósito do segundo aniversário da morte de Afonso Dhlakama.
Foi, igualmente, recorde-se, na era Ossufo Momade que os homens afectos à segurança da Renamo (boa parte leal ao antigo líder) lotou a Sede Nacional para protestar o atraso no desembolso de subsídios a que tinham direito. (Carta)