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quarta-feira, 19 fevereiro 2020 06:39

Mais Frelimo que Povo no primeiro dia do “adeus” a Marcelino dos Santos

Estava previsto que o Paços do Conselho Municipal da Cidade de Maputo fosse pequeno para receber cidadãos anónimos que iriam àquele local para prestar a sua última homenagem a Marcelino dos Santos, herói nacional, falecido no passado dia 11 de Fevereiro, em Maputo, vítima de doença. Mas, debalde.

 

O primeiro dia, dos dois reservados ao Funeral de Estado de Marcelino dos Santos, foi marcado pela “ausência massiva” do povo, aquele por quem lutou durante a sua juventude. Nem a mobilização de alunos das Escolas Secundárias da Cidade de Maputo, das crianças da Organização Continuadores de Moçambique, das “mamanas” da OMM (braço feminino do partido Frelimo) e dos antigos combatentes foi suficiente para preencher o local escolhido pela Comissão Interministerial para Grandes Eventos Nacionais e Internacionais para a realização do velório de um dos veteranos da luta de libertação nacional.

 

O relógio marcava 10 horas e 30 minutos, quando a viatura transportando o corpo de Kalungano, como era conhecido no mundo literário, chegou ao Paços do Conselho Municipal para o início do “adeus” ao membro-fundador da Frente de Libertação de Moçambique, movimento que, oficialmente, lutou pela independência do país.

 

Coube à família de Marcelino dos Santos liderar o grupo que se prontificou a render a sua homenagem a um dos “melhores” filhos da nação moçambicana. Seguiram-se algumas figuras políticas, como o ex-Edil da capital do país, David Simango; o Primeiro-Secretário da Frelimo da Cidade de Maputo, Razaque Manhique; o Administrador de Marracuene, Amade Shafee Sidat; e alunos das Escolas Secundárias da Cidade de Maputo e alguns membros da OMM e ACLLN (Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional).

 

O movimento “desusado” de pessoas durou cerca de duas horas e meia (entre as 10:30 horas e as 13:00 horas), sendo que no período da tarde o Paços do Conselho Municipal quase ficou “às moscas”. Até às 18:00 horas, altura em que “Carta” esteve no local, quase ninguém foi visto a entrar naquele local, onde o corpo esteve disponível ao público até às 20:00 horas.

 

Ângelo Muchanga, de 28 anos de idade, conversou com “Carta” e conta que se deslocou àquele local para, de perto, prestar a sua última homenagem a um senhor que sempre teve o desejo de conhecer.

 

“Só ouvia falar de Marcelino dos Santos, mas nunca o tinha visto pessoalmente. Infelizmente, a única oportunidade de conhecê-lo foi hoje, depois da sua morte”, disse Muchanga, visivelmente emocionado.

 

Já Alice Lidolodolo diz ter crescido muito próximo de “Kalungano”, no Bairro do Bagamoyo, arredores da cidade de Maputo, pelo que se sente agradecida por este ter sido proclamado herói nacional ainda em vida.

 

“Levarei sempre comigo os grandes ensinamentos deste que foi um grande homem. Quando os nossos pais estavam na guerra, Marcelino dos Santos foi a pessoa que mais nos transmitiu grandes ensinamentos, como por exemplo a valorização do nacionalismo”, disse a fonte.

 

Por seu turno, Jorge Augusto, um dos presentes na cerimónia, afirmou que Marcelino dos Santos era uma figura extremamente importante na nação moçambicana, razão pela qual “deve ser honrado e dignificado”.

 

Já para Casimiro Mavie, é “extremamente difícil” descrever a figura de Marcelino dos Santos, pelos seus feitos durante a luta de libertação de Moçambique, assim como na área desportiva, onde deu muito apoio à campeã olímpica dos 800 metros, em Sydney, na Austrália.

 

“Marcelino vai viver nos nossos corações para o resto da vida. Seu legado deve ser transmitido para as próximas gerações. Eu vim a este lugar para prestar o último adeus a este grande homem, para não ver apenas nas redes sociais”, sublinhou.

 

 

“Eu e muitos com quem convivo perguntamo-nos até hoje porque é que Marcelino dos Santos não se tornou Presidente da República, depois da morte do Samora Machel, se era considerado a segunda figura mais importante do país, depois do saudoso Presidente Samora Machel?”, questiona Ricardina Maússe, para quem Marcelino dos Santos foi um homem que “trabalhou muito para Moçambique”.

 

Por sua vez, o Administrador do distrito de Marracuene, Shafee Sidat, entende que a morte de Marcelino dos Santos é sinónimo da perda de páginas da história moçambicana, que se vão apagando.

 

“Se os moçambicanos não relerem a história deste grande homem e não aprenderem com seus ensinamentos, ficará um legado mau. A história deste grande homem deve ser transmitida a outras gerações. Não deve ficar apenas na memória de alguns, para que existam novos jovens e bem-educados. Na minha mente sempre terei o Marcelino dos Santos como um homem honesto, frontal, visto que ele nunca tolerou injustiças, seja na área do desporto, cultura, o que deixava as pessoas muito confortáveis”, defendeu Shafee Sidat.

 

Refira-se que as exéquias fúnebres de Marcelino dos Santos realizam-se hoje, na capital do país, sendo que o velório do Estado decorre, esta manhã, no Paços do Conselho Municipal de Maputo, sob direcção do Presidente da República, Filipe Nyusi. Já o período da tarde está reservado para a deposição do corpo na cripta reservada aos heróis moçambicanos. (Marta Afonso e Carta)

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