Sem nenhum “atacante” e muito menos provas factuais apresentadas publicamente, como tem sido hábito, a Polícia da República de Moçambique (PRM) voltou a responsabilizar os homens armados do maior partido político da oposição, Renamo, de serem os autores dos ataques que se têm registado na zona centro do país, em particular no distrito de Gondola, província de Manica.
Uma semana depois de o porta-voz do Comando-Geral da PRM, Orlando Mudumane, ter acusado a auto-proclamada Junta Militar da Renamo, liderada pelo General Mariano Nhongo, de ser autora dos ataques que se têm verificado nas províncias de Sofala e Manica, desta vez foi o Chefe das Relações Públicas no Comando Provincial da PRM, em Manica, Mário Arnaça, atribuir, alto e em bom som, a autoria do ataque da última quarta-feira, na Localidade de Pinanganga, distrito de Gondola, província de Manica, aos homens armados da Renamo, agora, sem nenhuma distinção.
"Confirmamos a ocorrência. Por volta das 11 horas de ontem [quarta-feira] do dia 06 do mês e ano em curso, homens armados da Renamo, no distrito de Gondola, localidade de Pinanganga, efectuaram disparos contra uma viatura de transporte semicolectivo, da marca Toyota Hiace, que fazia o sentido Estrada Nacional Nº 6 à Localidade de Pinanganga. Desses disparos, teve um óbito, dois feridos graves e um ligeiro”, afirmou a fonte, sem no entanto apresentar evidências que sustentam a sua afirmação.
“Não há nenhuma diferença entre homens armados liderados pelo cidadão Nhongo e homens armados da Renamo liderados por Ossufo Momade. Todos são homens armados da Renamo e, no teatro das manobras, não há distinções e nós temos de atribuir a homens armados da Renamo porque todos pertencem ao partido Renamo”, acrescentou.
De acordo com a Polícia, em Manica, os protagonistas dos ataques, que teimam em ceifar vidas, três meses após a assinatura do Acordo de Paz de Maputo, "vivem nas suas bases e a polícia tem conhecimento disso”, pelo que “já activou as suas linhas operativas com vista a neutralizar esses autores para serem responsabilizados pelos seus actos em Pinanganga".
Entretanto, à “Carta”, Mariano Nhongo garantiu, semana finda, não ser o autor dos ataques que se verificam naquela região. Assegurou que os seus homens se encontravam sob controlo.
Com a localidade a ser abandonada, o porta-voz da PRM naquele ponto do país garantiu à população local que as autoridades já reforçaram a segurança, o efectivo, o contingente policial, pelo que “devem ficar serenos, devem colaborar com as autoridades policiais na denúncia dos malfeitores”.
Renamo rejeita acusações
Em declarações à agência de notícias Lusa, José Manteigas, porta-voz da RENAMO, reiterou o afastamento do partido em relação aos ataques, garantindo que o partido "está comprometido com a paz".
"Os homens armados da RENAMO estão acantonados na Gorongosa, à espera da reintegração", precisou. "Se as Forças de Defesa e Segurança são incapazes de debelar este grupo [da autoproclamada Junta Militar da Renamo], então não culpem a RENAMO pelos ataques", acrescentou José Manteigas, insistindo que a "Renamo está comprometida com o acordo de paz e tem agido de boa-fé para preservá-lo".
Um passageiro morreu crivado de balas quando o veículo foi "metralhado" por um grupo armado, durante a emboscada, contaram várias testemunhas entrevistadas naquela região. A viatura foi depois incendiada numa estrada de argila, cerca de 60 quilómetros a nordeste de Chimoio, capital de Manica.
Uma mulher também terá morrido atingida por balas, quando foi surpreendida na sua quinta, contaram testemunhas à DW África. A polícia, no entanto, confirma apenas uma morte, segundo a Lusa. (Carta & DW)