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quarta-feira, 30 outubro 2019 05:52

Investidor diz que “não olhava” para Proindicus se soubesse de corrupção

Um investidor da empresa moçambicana Proindicus disse ontem que rejeitava e “não olhava” sequer para a oportunidade de negócio se soubesse que o dinheiro seria usado para corrupção e pagamento de subornos. ICE Canyon, empresa de gestão de investimentos que se viu lesada por investir 15 milhões de dólares em 2013 no empréstimo para a Proindicus, teria rejeitado o investimento à partida se soubesse do uso ilícito do dinheiro para pagamento de subornos a políticos e banqueiros, disse hoje em tribunal um consultor financeiro, que deu parecer positivo para a compra em 2013.

 

Aneesh Partap, consultor financeiro para a ICE Canyon, que em 2013 deu parecer favorável para um investimento de 15 milhões de dólares (13,5 milhões de euros), afirmou em depoimento no tribunal, que saber do pagamento de subornos seria “determinante” para a avaliação do negócio. “Não teríamos investido, nem sequer olhado. As razões são muitas. Do ponto de vista legal, há a lei das práticas de corrupção estrangeiras e questões de conduta profissional”, respondeu Aneesh Partap, quando inquirido pelos procuradores.

 

 

A lei das práticas de corrupção estrangeiras condena o pagamento de subornos a membros de governos. Além disso, continuou a testemunha, “quando existe corrupção, põe em questão a possibilidade de o investimento ser reembolsado. Se o dinheiro não está a ser usado para o propósito produtivo do sistema, também levanta a questão se vai existir receitas. Faz com que a integridade da transação seja posta em causa”.

 

Aneesh Partap acrescentou que, quando existe corrupção, qualquer envolvido no contrato pode “repudiar as dívidas” e não pagar o dinheiro devido. O consultor reviu, no seu testemunho, comunicações feitas com o Credit Suisse em 2013, pelas quais considerou que o projeto seria lucrativo ao final de seis anos no mercado moçambicano que, à data, estava com projeções otimistas.

 

Segundo o consultor, a Privinvest e Proindicus violaram um acordo de janeiro de 2013 que diziam que “o contratante ou cliente não vão pagar a membros do Governo”. A defesa contestou que todos os memorandos de oferta indicam que existem riscos de corrupção nos mercados emergentes como Moçambique, nomeadamente instabilidade política e existência de corrupção.

 

Inicialmente, o projeto tinha o valor de 372 milhões de euros (334,7 milhões de euros), onde a garantia de devoluções dos empréstimos para a Proindicus era assumida pelo Governo de Moçambique. Os investidores sabiam que, mesmo que os projetos falhassem, o Governo seria responsável por assegurar a devolução do dinheiro.

 

O processo das dívidas ocultas de Moçambique refere-se a um esquema de corrupção em que aquelas três empresas, detidas pelo Estado moçambicano, assumiram créditos e empréstimos no valor de mais de 2,2 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros), sem conhecimento do Governo, investidores internacionais ou entidades financeiras como o Fundo Monetário Internacional. O principal arguido do processo nos EUA é Jean Boustani, vendedor de embarcações da empresa Privinvest.(Lusa)

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