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quarta-feira, 30 outubro 2019 05:37

Conheça Assumane Vipodozi, um “insurgente” de Mocímboa da Praia

O jovem que aparece num vídeo de 2 minutos e 18 segundos, que há dois anos circulou nas redes sociais, na companhia de outros rapazes, reivindicando a autoria do ataque inaugural à uma esquadra de Mocímboa da Praia na madrugada do dia 5 de Outubro de 2017, chama-se Assumane Nvita, mais conhecido por Assumane Vipodozi (palavra swahili que significa Cosméticos). 

 

Não tem mais de 30 anos. É natural de uma aldeia de Olumbe, um posto administrativo do distrito de Palma. Nos anos 2000, devido à fome, os pais foram obrigados a deslocar-se a Mocímboa da Praia e fixaram-se na aldeia Matola/Mumu, onde começam a trabalhar a terra.

 

 

Assumane é o filho mais velho de 4/5 irmãos, entre os quais um professor e um outro membro das Forças de Defesa e Segurança, formado na Academia Militar Mareshal Samora Machel em Nampula. O pai era conhecido por Fundi Njaa (mestre fome), porque quando chegou na Matola/Mumu trabalhou como reparador de bicicletas e aceitava receber em dinheiro ou produtos alimentares, para resolver a situação de fome na família.

 

Nessa aldeia, Assumane Vipodozi começou a frequentar o ensino primário e, mais tarde, mudou-se para a aldeia Owasse, onde fez o ensino primário completo. Não conseguiu progredir imediatamente devido à falta de condições financeiras, tendo, por iniciativa do pai, começado o negócio de compra e venda de barrotes, juntamente com um amigo de nome Ngulungu. Mais tarde conseguiu continuar os estudos, tendo concluído a 12ª classe na Escola Secundária Januário Pedro de Mocímboa da Praia. Seu sonho era entrar para a universidade, com apoio do seu irmão que já estava a trabalhar nas Forças de Defesa e Segurança.

 

Nessa altura, um dos irmãos mais novos já estava em Pemba a estudar com apoio de um membro familiar e Assumane, como mais velho, vendia barrotes na vila de Mocímboa da Praia para também ajudá-lo e à família. Com o negócio, conseguiu ter o primeiro terreno na “zona da mota”, na vila autárquica de Mocímboa da Praia e, mais tarde, outro muito próximo do mercado municipal de Nanduadua. Em Mocímboa da Praia, Assumane constrói sua primeira barraca de madeira no mercado de Nanduadua e aposta na venda de cosméticos, tendo ganho a alcunha “Vipodoz”.

 

Aos poucos começou, pessoalmente, a deslocar-se à Dar-es-Salaam, Tanzânia, onde se abastecia de cosméticos para revenda. Provavelmente, nestas andanças, começa a beber de um certo islamismo radical. Com o desenvolvimento da sua economia, construiu outra barraca, melhorada, no bairro 30 de Junho, mas nesta nunca chegaria a colocar mercadoria até à data do início dos ataques.

 

Consta ainda que teria comprado uma viatura da marca Toyota Corolla, que foi usada para transportar armas nas vésperas do ataque inaugural. Quando Assumane começou a beber as teorias do Islão radical, passou a ter pouca consideração pelos pais e outros familiares a quem chamava descrentes ou “kafir”.

 

Aos poucos começou a abandonar seu negócio de cosméticos, tanto mais que, alegadamente, figuravam na lista dos produtos “ilícitos”, de acordo com sua corrente religiosa (haram em árabe). Nessa altura, dedicava-se mais à mesquita construída próximo do mercado de Nanduadua, para cuja edificação ele contribuiu.

 

Assumane Vipodozi é casado e deve ter três ou quatro filhos que se presume deve ter mandado à Tanzânia ou levado consigo às matas, para onde provavelmente terá fugido. Há relatos de que terá sido visto numa das regiões na vizinha República da Tanzânia. Nampula, Nacala, Pemba, Dar-es-Salam, são as cidades que frequentava enquanto homem de negócios. 

 

O pai de Assumane Vipodozi, neste caso o senhor Nvita, foi forçado a fugir da aldeia onde vivia por populares que suspeitavam que um ataque pelos insurgentes tinha sido, supostamente, facilitado por ele, já que o filho era um dos integrantes do grupo. Quando entraram nessa aldeia, os malfeitores decapitaram uma única pessoa, Ngulungu, companheiro de Assumane na venda de barrotes.

 

 Nota do editor: Há duas semanas, o mesmo vídeo onde Assumane surge glorificando a insurgência e mobilizando a juventude para a “causa” voltou a circular nas redes sociais agora com uma nota: ele tinha sido capturado pelas Forças de Defesa e Segurança.

 

 (Carta)

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