Na entrevista concedida ao nosso jornal, na manhã desta quinta-feira (06 de Junho), o fundador do movimento, cujo primeiro Congresso constitutivo está agendado para finais de Junho e princípios de Julho, defende que a “Nova Democracia é haver algo para todos e não tudo para alguns”, pelo que, a partir de 2020 o “Estado deve ser compatível aos cidadãos”.
Na conversa, de quase 30 minutos, a fonte confirma que o movimento vai concorrer às próximas eleições, porém, nas Legislativas e nas Assembleias Provinciais, pois, o seu foco é influenciar as decisões políticas.
Para não deturparmos a mensagem, transcrevemos, nos próximos parágrafos, o que mais de importante disse o fundador do mais novo partido político, que garante não ser “mais um partido”, mas um “movimento que veio para ficar com projectos de governação de Moçambique a médio prazo”.
Testemunhamos, esta semana, o nascimento de “Nova Democracia”, um “movimento” político nacional. Pode dizer-nos o que é, exactamente, a ND?
-A “Nova Democracia” brota da inspiração de toda uma geração. Cidadãos dos mais diversos sectores da sociedade, tendo mapeado a dimensão da exclusão político-social e decidindo erguer a sua voz para interromper a longa trégua político-económica, que se vive no país, e dando primazia às questões da juventude e das mulheres, decidiu constituir esta força política para galvanizar as forças vivas da sociedade, para estabelecer um novo paradigma político, assimilando, defendendo e suportando as inquietações da sociedade, desde a qualidade do ensino, a falta do emprego e habitação para jovens, de políticas públicas inclusivas e o vazio do Estado. Portanto, focamo-nos em questões elementares dos Direitos Humanos, pois, são uma miragem, em Moçambique. São questões que nos mobilizam para uma tomada de posição, porque essa vontade dos cidadãos só se pode expressar, efectivamente, nos espaços de tomada de decisão.
O que pretende trazer, ao escolher o nome “Nova Democracia”?
-Estamos a entrar para uma nova década, pelo que, devemos entrar com uma nova democracia, em que o Estado é compatível com os seus cidadãos, uma sociedade em que o Estado não funciona como instrumento de exclusão e nem de combate político, em que as instituições democráticas estejam ao serviço do cidadão e que a riqueza não seja para uma minoria. Portanto, a nova democracia é haver algo para todos e não tudo para alguns. A nova democracia é termos um país de progresso, de justiça social, em que a Unidade Nacional não seja um chavão. A nova democracia é uma nova forma de estar entre os políticos, como mediadores entre o poder e os cidadãos, pois, Moçambique precisa de uma classe política servidora.
Que estratégias pretendem adoptar, de modo a tornarem o vosso movimento credível na sociedade, pois, o discurso não é novo, o que falta é a sua efectivação…
-Queremos constituir uma nova maioria, em Moçambique, por isso, decidimos que nas nossas listas, 80 por cento dos candidatos devem ser jovens com idades entre 21 e 35 anos e 20 por cento os outros, porque não nos revemos nos órgãos que temos, começando pela Assembleia da República, onde apenas 12 por cento são jovens. Isto indigna a sociedade, porque, de uma maioria no país, tornamo-nos numa minoria nos órgãos de tomada de decisão. Portanto, esta é uma medida concreta. Queremos mostrar que, de facto, é uma candidatura de jovens.
Não correm o risco de cair no “descrédito” com uma lista dessa natureza? Não será considerada uma lista de emocionados?
-Pelo contrário. Todas as lutas que aconteceram, neste país, foram conduzidas por jovens. Os próprios que libertaram este país eram jovens. Não eram emocionados, nessa altura? Os heróis deste país são os jovens, que vivem em condições dificílimas. São eles que estão a manter a paz, perante uma situação de exclusão. Portanto, colocar o poder nas mãos dos jovens é criar condições objectivas para um país de inclusão, que oferece oportunidades. A juventude tem responsabilidades primárias para o desenvolvimento do país.
Não estaremos perante mais um partido que nasce, pede financiamento para as eleições e depois desaparece?
-Buscar aonde? O processo de criação deste movimento gasta mais do que o valor que a CNE dá. Segundo, o regime colonizou as pessoas para não darem nem um passo. Porque há pessoas determinadas para fazer política. Estamos aqui para combater este estigma.
Estamos perante um partido que veio para ficar…
-Veio para ficar com projectos de governação de Moçambique a médio prazo.
Quando é que nasceu a ideia de criar este movimento?
-É produto de várias consultas, encontros, do nosso trabalho militante na sociedade, porque a “Nova Democracia” inspira-se nos movimentos cívicos nacionais, que na maior parte das vezes falam para as paredes.
Podemos concluir que nasceu no período em que liderou o Parlamento Juvenil…
-Não necessariamente, mas deve saber que estamos perante o primeiro acto político da juventude pós-independência.
Qual é a vossa maior ambição?
-Nestas eleições, o nosso foco é a Assembleia da República e as Assembleias Provinciais.
Ou seja, não é candidato à Presidência da República…
-Não, não, não… Nós estamos a estabelecer um movimento com uma agenda nacional a médio prazo.
Concorrem para todos os círculos eleitorais?
-Sim. Vamos candidatar-nos em todos os círculos eleitorais e em todas as Assembleias Provinciais.
Qual é a vossa base de aceitação…
-À escala nacional. É um movimento dos cidadãos e, como tal, estabelece-se no coração e na mente de cada moçambicano. A nossa mensagem é extremamente precisa. Visa resgatar a cidadania em cada habitante deste país.
Muitos partidos nasceram, desde a introdução do multipartidarismo, mas nunca conseguiram influenciar a política nacional. Acredita, o movimento, que terá expressão neste quadro político?
-Nós temos uma convicção inabalável de que, com o ideário nobre que temos, utilizando métodos justos, criando um compromisso por resultados, colheremos uma experiência, que nos permitirá uma vitória maior. Acreditamos que o destino deste país será escrito pela juventude, tal como ontem. Acreditamos que não serão os políticos a fazer a nova democracia, mas será a nova democracia que fará os políticos de intervenção. Por isso, que são jovens comuns, que farão uma história fora do comum, neste país.
O capital político dos que lideram uma organização é considerado fundamental para a conquista do eleitorado. Além de Salomão Muchanga, que outra figura integra o movimento?
-Em breve, a sociedade conhecerá várias figuras que estão neste movimento. Mas, o mais importante não é o capital político da pessoa. É o ideal da pessoa. Mesmo estes partidos estão repletos de figuras com capital político, mas representam um vazio. Se olhássemos apenas o capital político da pessoa, estamos a dizer que este país deve continuar nas mãos de um grupinho de pessoas. Mas, o capital político deste país está no povo.
Qual é a vossa causa de “luta”?
-A nossa arma de combate é o emprego para os jovens. Porque, sem emprego, os jovens continuarão na estiagem. Por isso dissemos no lançamento que o Estado deve antecipar o cidadão, criando políticas públicas inclusivas, fazendo abordagens multissectoriais, multidisciplinares, em particular na educação, emprego e habitação. Trata-se de três vectores principais. É preciso construir um Estado de paradigma social que permita que os direitos económicos e sociais tenham espaço da sua implementação.
Quando é que irão manifestar o interesse de participar das eleições?
-Brevemente… muito antes do dia 15 (de Junho – último dia de manifestação de interesse).
Para que candidato à Presidência da República depositam a vossa confiança?
-Ainda vamos organizar o nosso Congresso, depois iremos manifestar o nosso apoio, caso seja o órgão a decidir. Teremos o nosso Congresso, entre finais de Junho e princípios de Julho.
Liderou uma organização da sociedade civil muito crítica ao governo “do dia” e hoje aparece com um partido político. Esta “atitude” não sustenta a ideia de que as OSC são a extensão de partidos políticos, sobretudo da oposição?
-Não. Pelo contrário. Se fôssemos extensão de um partido político, teríamos nos filiado num partido político. Isto representa uma recusa firme à instrumentalização e humilhação de toda uma geração. Mas, primeira condição para lutar, neste país, é ter consciência política. Portanto, não tem nada a ver. (Abílio Maolela)