Está ensurdecedor o silêncio da empresa Austral Seguros em torno do suposto encerramento dos seus escritórios, na cidade de Maputo, por ordens do Tribunal, devido a dívidas avultadas aos seus credores, com destaque para a banca.
A Austral Seguros esteve encerrada na última terça-feira, depois que o Tribunal ordenou a penhora dos seus bens, de acordo com relatos do jornal Notícias. Os bens, com destaque para equipamento mobiliário, sublinhe-se, foram recolhidos naquele escritório na última segunda-feira, no entanto, as informações do sucedido saíram ao público na manhã de terça-feira, através de vídeos amadores.
“Carta” visitou, terça e quarta-feira, os escritórios da companhia, tendo recebido informações contraditórias em torno do caso. Na terça-feira, por exemplo, o segurança da companhia disse à nossa reportagem que os escritórios estavam encerrados por ordem judicial, porém, horas depois, e apenas por chamada telefónica, a equipa de recepção da companhia disse que o encerramento visava fazer limpeza do escritório.
Já nesta quarta-feira, o escritório da empresa encontrava-se aparentemente aberto. Ao nosso jornal, as recepcionistas (que não aceitaram se identificar) disseram que a companhia estava a trabalhar normalmente, porém, nenhum dos responsáveis se encontrava no local, incluindo o seu Presidente do Conselho de Administração, Bernardo Cumaio.
A narrativa de que a Austral Seguros estava a funcionar normalmente também foi transmitida aos clientes da companhia. A reportagem da “Carta de Moçambique” contactou, por duas vezes (terça e quarta-feira), os escritórios da companhia, simulando tratar-se de um tomador de seguro automóvel, cujo pagamento da indemnização se encontrava atrasado. Nas duas ligações, a nossa reportagem foi recomendada a se deslocar aos escritórios da companhia, porém, no local, era informada que o responsável não se encontrava no escritório.
“Carta” contactou, terça e quarta-feira, o PCA da Austral Seguros, Bernardo Cumaio, mas este não atendeu as nossas chamadas. Por sua vez, o assessor de imprensa de Cumaio prometeu, na terça-feira, que a companhia ia emitir um comunicado de imprensa a reagir ao “boato”, mas, até ao fecho desta reportagem (noite de quarta-feira), o documento ainda continuava no segredo dos “deuses”.
Refira-se que os problemas da Austral Seguros, uma das mais antigas do país, vão para além de dívidas com os credores, incluindo também de ordem laboral. Em Agosto de 2022, por exemplo, mais de 20 trabalhadores denunciaram atrasos salariais, que levaram alguns a se desvincular e outros a verem seus contratos rescindidos pela administração da companhia.
“Somos mais de 20 trabalhadores com salários em atraso há mais de 10 meses, alguns dos quais decidiram sair da empresa por vontade própria. Entretanto, quando fomos ao Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), ficamos a saber que a empresa não canalizava, há meses, os descontos dos nossos salários ao INSS. Acima de tudo, o que mais nos preocupa é que já fizemos uma denúncia ao Ministério do Trabalho e este, posteriormente, enviou duas funcionárias para averiguar os factos. Depois de conversarem com os trabalhadores, foram ter com o patronato e até agora a nossa situação não foi resolvida”, narrou o grupo, na altura.
Em 2020, um grupo de trabalhadores denunciou atrasos salariais de mais de seis meses. Aliás, há quem entende que a Austral Seguros continua operacional graças à protecção política, pois, tecnicamente, está falida. Outros suspeitam que funciona como mecanismo de lavagem de dinheiro. (Carta)