A greve convocada pela Associação dos Profissionais de Saúde de Moçambique (APSUSM), iniciada ontem, já se faz sentir nalgumas unidades sanitárias e já se fala de uma adesão de cerca de 18 mil funcionários. A greve terá a duração de 25 dias prorrogáveis, caso o Governo não se mostre disposto a dialogar sobre algumas inquietações que apoquentam a classe.
Nas primeiras horas desta quinta-feira, “Carta” fez uma ronda por alguns hospitais para inteirar-se do que estava a acontecer e constatou que foram registadas muitas ausências dos enfermeiros e, nalguns casos, dos médicos. No Hospital Provincial da Matola, por exemplo, alguns doentes que se encontravam internados estavam a ser mandados para casa, para dar continuidade ao tratamento ambulatório.
Em conversa com “Carta”, Lourenço Chimoy, residente de Boane, que se encontrava no Hospital para uma consulta, disse que todos os pacientes que não se encontravam em estado grave foram aconselhados a ir para as suas casas porque os enfermeiros estão em greve.
“Carta” tentou ouvir a reacção da direcção do hospital, mas esta mostrou-se indisponível e garantiu que o Ministro da Saúde, Armindo Tiago, vai pronunciar-se sobre o assunto nas próximas horas. No entanto, dados da Secretaria do Estado da província de Maputo indicam que dos 68 profissionais de saúde do Hospital Provincial da Matola, somente três se fizeram ao trabalho e os outros se encontram com os telemóveis desligados, o que limita o funcionamento de muitos serviços.
No Centro de Saúde de São Dâmaso, também na província de Maputo, alguns pacientes também estavam a ser convidados a voltar à casa porque nenhum enfermeiro estava a trabalhar.
Em conversa com “Carta”, uma das enfermeiras afectas àquela unidade sanitária disse que boa parte dos seus colegas não foi trabalhar e os poucos que se apresentaram optaram em ficar ao telefone e cada paciente que se fazia ao hospital era mandado de volta à casa.
“Neste Centro de Saúde trabalhamos com duas médicas e as mesmas não se apresentaram e ninguém tem informações sobre elas, uma vez que deviam estar aqui a garantir os serviços mínimos”, disse.
No Centro de Saúde da Matola-Gare, o cenário era praticamente o mesmo e os poucos enfermeiros estavam a circular de um lado para outro, com filas longas de crianças chorando por uma e outra dor e as mães acabaram desistindo e voltaram para casa.
Entretanto, “Carta” contactou o porta-voz da Associação dos Profissionais de Saúde, Anselmo Muchave, para fazer o balanço do primeiro dia da greve, mas tal não foi possível porque estava com os telemóveis desligados. Não obstante, ficamos a saber que cerca de 18 mil funcionários aderiram à greve.
Por outro lado, o Ministro da Saúde, Armindo Tiago, exortou nesta quarta-feira os membros da Associação dos Profissionais de Saúde a desistirem da greve em protesto contra as más condições de trabalho e salariais e apelou a classe a pautar pelo diálogo.
Tiago disse que os profissionais de saúde devem optar pelas vias adequadas para manifestar as suas reivindicações, usando os mecanismos normais para canalizar os seus problemas. (Marta Afonso)