Anunciadas com “pompa” e “circunstância”, em Dezembro de 2020, as obras de reabilitação da estrada que liga a sede da localidade de Chirimane e a aldeia de Boane, no distrito de Inhassunge, província da Zambézia, encontram-se paralisadas e sem qualquer sinal de retorno.
As obras foram anunciadas pela mineradora chinesa Africa Greet Wall Mining, que explora areias pesadas na aldeia de Olinda, naquele distrito da Zambézia, e compreendiam a reabilitação de um troço de 5 Km, de um total de 16 Km. As obras foram orçadas em 13 milhões de Meticais.
No entanto, 18 meses após o lançamento da “primeira pedra”, a estrada continua intransitável e o empreiteiro, neste caso a própria mineradora, já não se encontra no terreno. “Carta” esteve recentemente no distrito de Inhassunge e testemunhou in loco a intransitabilidade daquela via.
Para sair de Boane a Chirimane, a população usa motorizadas, devido ao péssimo estado em que a via se encontra. Aliás, em alguns troços, a própria motorizada deve ser carregada por não haver condições de transitabilidade.
Por cada viagem – de Chirimane a Boane ou de Chirimane a Mucupia, vila-sede do distrito de Inhassunge – os motociclistas cobram entre 150 e 250 Meticais, dependendo das condições climatéricas, segundo contou Luís José Salimo, Líder Comunitário da aldeia de Olinda. O facto é que, em dias chuvosos, por exemplo, a via apresenta algumas secções lamacentas e outras cheias de água, o que torna ainda mais difícil a transitabilidade.
Não havendo condições para a circulação de viaturas, os barcos são os únicos meios seguros para o transporte de produtos alimentares da cidade de Quelimane até à sede da localidade de Chirimane e à aldeia de Olinda. O trajecto chega a durar pouco mais de 24 horas.
Aliás, no caso da aldeia de Olinda, para além de depender apenas da motorizada para saírem de Boane para Chirimane, os residentes são obrigados a enfrentar canoas, que são o único meio de transporte para a travessia de pessoas de Chirimane até àquela aldeia rica em minérios.
À “Carta”, o Secretário Permanente do distrito de Inhassunge, Abdul Libir, que teve a “honra” de dirigir a cerimónia de anúncio da empreitada, disse que as obras não duraram sequer seis meses e que a mineradora submeteu uma carta ao Governo distrital, anunciando que não estava em condições de continuar com as obras.
Libir contou que a Africa Greet Wall Mining mobilizou o seu próprio equipamento para reabilitar, ela mesma, a estrada. Porém, chegada ao terreno, a mineradora-empreiteira “rendeu-se” às condições do terreno (caracterizadas por muita argila), tendo desistido e abandonado a obra.
Devido à intransitabilidade da via, Libir admitiu que os Governos distrital e provincial se socorrem dos barcos da mineradora para se deslocar a Olinda e à sede da Localidade de Chirimane. Ou seja, uma simples inspecção às actividades de mineração daquela empresa chinesa é feita com recurso ao transporte da mineradora, facto que coloca em causa a qualidade da inspecção.
Refira-se que a empresa Africa Greet Wall Mining, de capitais chineses, explora areias pesadas na aldeia de Olinda, distrito de Inhassunge, desde 2019, depois de um longo processo de “negociação” (descrito como de imposição pela população) para o reassentamento das famílias afectadas pelo projecto. (Abílio Maolela, em Inhassunge)